Incrível como certos heróis permanecem em nossa mente mesmo muitos anos após termos ouvido ou lido suas histórias, ou tê-las visto na TV. E se a maioria destes personagens é fruto de ficção alguns heróis existiram de verdade, como por exemplo Daniel Boone. Já sobre o exímio arqueiro Guilherme Tell há controvérsias sobre se realmente teria existido, pois não há documentação que o comprove. De qualquer forma sua história é fascinante e um símbolo universal pela liberdade.
À época (começo do século XIV), os austríacos dominavam a Suíça e certo dia numa praça da cidade de Altdorf, Tell foi detido por um soldado, pois não se curvou diante do chapéu ducal (algo como uma coroa colocado no alto de um poste), o que era um insulto à autoridade do duque. Enquanto Tell questionava tal imposição, por azar o arbitrário governador (do distrito e nomeado pelo arquiduque da Áustria) Gessler estava por lá e foi cuidar pessoalmente do caso. Tell estava mesmo num dia infeliz e em seguida seu filho (que havia ido à cidade sem seu consentimento) chegava ao local, chamando pelo pai. Gessler “generosamente” deu a Tell duas escolhas: ver seu filho morrer e em seguida ser morto ou então acertar com uma flecha uma maçã colocada sobre a cabeça do garoto, e aí ambos estariam livres.
Escolheu então duas flechas, colocou uma na cintura e outra no arco. Há versões em que o governador (que já conhecia sua fama) ordena que Tell se afaste várias vezes do alvo a fim de tornar as coisas (ainda) mais difíceis ao arqueiro suíço, que se inclinou ligeiramente e em seguida atirou a flecha. Guilherme Tell foi preciso, partindo a maçã ao meio (hoje diríamos “na mosca”). Gessler elogiou sua pontaria e perguntou-lhe o porquê de uma segunda flecha na cintura. E não é que o herói era também muito sincero? Caso atingisse seu próprio filho, a segunda flecha seria destinada a Gessler. Resultado: por uma questão de segurança pessoal, o governador determinou sua prisão (perpétua).
Bem, como estou um pouco atrasado vou abreviar a história: a caminho (na embarcação do governador) da prisão uma tempestade (daquelas) colocou em risco a todos. Como era também um barqueiro muito hábil, Tell foi libertado (mas só) para conduzir a embarcação e em breve todos estariam a salvo. Próximo da costa conseguiu escapar escalando rochedos e mais tarde mataria Gessler (curiosamente com uma flecha), o que resultou na revolta e consequente vitória dos suíços sobre os austríacos. Consta, sua morte ocorreu quando já tinha boa idade, num rio, ao tentar salvar um menino que se afogava.
E não é preciso um assunto específico para nos lembrarmos destes heróis e seus grandes feitos. Lembrei-me de Tell agora, às cinco da manhã com o (chato) despertador (de precisão suíça) em forma de maçã que nem me lembro mais de quem foi presente. Mas pensando no despertador “maçã” e no que Guilherme Tell fez com ela, chego à conclusão de que ele agiu com sensatez.
Autor:
Miguel Arcangelo Picoli é autor do livro Momentos (contos) e Contos para Cassandra (em homenagem à escritora Cassandra Rios).