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A máquina de escrever

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Testei a máquina de escrever após passar longos meses sem uso. A fita ainda apresenta uma quantidade razoável de tinta para ser usada. A máquina tem uma certa dificuldade de ser limpa devido à proximidade de suas teclas, por isso encontra-se empoeirada. A habilidade de escrever na máquina é algo que precisa ser praticado, caso contrário pode se perder.

Me refiro não somente a grafia ou gramática, mas a própria sensibilidade das teclas. De toda forma, ela se apresenta em perfeito estado e continuar completamente funcional mesmo após 50 anos de existência, mostrando-se uma verdadeira máquina, no sentido mais pleno da palavra e que foi feita para longa durabilidade e manutenção, diferentemente dos produtos tecnológicos desenvolvidos na atualidade que duram em média apenas dois anos ou menos.

Está certo que ela é ruidosa e não tão agradável no toque como os teclados hoje produzidos em massa, também suas letras engancham, a tinta falha e outras limitações comuns ao seu tempo. Mas ainda assim, há algo único no que se refere a escrever ainda que o texto mais simples e despretensioso como este em uma máquina de datilografia, sensação que poucos os da minha geração podem dizer que conhecem e se conhecessem, saberiam dizer o peso (literal) das palavras e seriam talvez, um pouco mais cautelosos na escrita e publicação delas.

Saberiam que o menor dos erros na máquina, causa grande frustração e faz o escritor considerar desistir de todo o seu texto. Além disso a máquina faz o escritor ponderar no uso das palavras, pensa duas vezes ou mais se realmente vale a pena todo esforço de escrever uma única palavra e se a mesma de fato representa o sentido que busca ser dado.

Por vezes me pego pensando em tudo o que essa máquina já viu e viveu. Ela melhor do que ninguém, sabe que crises são temporárias, que as secas ardem até a chuva cair e a enchente escorre para o mar. Sabe que o fogo apaga tão certo quanto reinados caem para novos surgirem. As coisas sempre mudam, para permanecer iguais. Os problemas mudam de nome mas a raiz é a mesma e a vida continua sendo um grão de areia movimentado pelo vento e o tempo.

O que permanece? Qual é o meu legado? Deixarei apenas aquilo que posso oferecer, minha humilde contribuição, a minha herança – minha escrita e esta máquina de escrever.

Autor:

Eduardo Lira

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