Parada em frente à sua casa, teve vontade de engatar a ré e ir para outra dimensão, um lugar que ninguém a encontrasse e ela tivesse, enfim, paz.
Seu coração sangrava cada vez que ela se deparava com a costumeira irresponsabilidade do seu filho.
Olhava para si e via uma pessoa sem nenhum sentimento que pudesse se orgulhar.
A infinitude de sentimentos pesarosos tomavam conta de seu ser e ela sofria por tantos pensamentos recorrentes de dor, aflição e culpa que a sufocavam sem cessar.
A dor de não poder mudar o comportamento dele, a remetia à uma casa bagunçada que não tinha espaço nem lugar para organização. Tudo estava fora do contexto e ela, a duras penas, tentava consertar os erros que ele insistia em cometer.
A aflição tomava conta dela por perceber que aquele filho não despertava o seu mais profundo amor e ela se afundava cada vez mais no seu amargor.
Não tão diferente, a culpa que carregava em seus ombros cansados por não ter amado ele como deveria a acompanhava a todo momento e fazia com que seus olhos transbordassem lágrimas de sangue e puro pesar.
Viver ao lado dele era o mesmo que estar presa num calabouço, acorrentada com uma bola de ferro gigante aos seus pés. Era possível ouvir as correntes tentando ser arrastadas por ela na tentativa de se ver livre daquele sentimento de puro desamor.
Ela nada podia fazer a não ser viver aquele luto em vida e seguir em frente, com a força que ainda lhe restava, se desdobrando para cumprir com suas obrigações no papel de mãe.
O peso que carregava consigo era por demais doloroso e ela se via esgotada, sem forças para ter esperança de dias melhores.
Naufragando em sua crise existencial, se deixou levar pela vida com total opacidade e amargura, deixando-se esquecer o que era o amor.
Não aguentando mais aqueles pensamentos nebulosos, abriu a porta do carro e desceu. Se certificou de ter deixado todas aquelas constatações lá dentro e, mais uma vez, mentiu para si mesma dizendo que estava tudo sob controle e, ao encontrá-lo, deu-lhe um beijo com gosto de fel.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos