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Questionamento cinzento

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Ao perceber que uma borboleta azul a acompanhava pelo jardim, se encantou imediatamente com aquela presença tão marcante e singular. Lembrou-se, então, do significado da cor daquele inseto e tudo fazia sentido: ela estava em perfeita harmonia consigo.

A tranquilidade de estar bem naquela manhã, a fez perceber a vida com mais temperança. Estar ali, na companhia daquela linda borboleta, sentiu tranquilidade e a paz era absoluta.

Pensou intimamente que não havia nada que pudesse tirar sua paz até que a campainha tocou.

De longe avistou o highlight do carro da polícia na porta de sua casa e ela foi atender a porta entusiasmada, pois sabia que era sua amiga policial que havia chegado.

A amiga desceu do carro, tirou os óculos escuros e a cumprimentou com a seguinte pergunta: “Sobrevivendo à sua vidinha sem graça?”.

Encostada no batente da porta, ela ficou paralisada com aquele questionamento tão cruel. Intimamente, sabia que havia dito muito àquela amiga sobre os problemas que estava enfrentando, mas, nada que não pudesse ser resolvido com o tempo. Ficou pensativa e, por alguns segundos, pensou no motivo pelo qual a amiga fizera aquela pergunta tão desnecessária.

O dia que estava lindo, escureceu e ela não ouviu mais sequer uma palavra do que era dito pela amiga, até que as risadas da amiga a fez voltar a si e ela pensou em questioná-la, mas resolveu se calar. Sabia a resposta que iria ouvir e preferiu dar voz ao silêncio.

A certeza que tinha de que seu dia seria de harmonia foi ofuscado por aquelas palavras sem nexo e fora de contexto de uma pessoa sem noção que não sabe o peso e o dissabor de perguntas feitas sem nenhum filtro. 

Ao se despedir daquela amiga “sem noção”, fechou a porta atrás de si e foi em direção ao jardim. Lembrou-se, então, que havia mais motivos para ela dar vazão ao que sentia antes da amiga chegar do que se entregar ao sofrimento e dor que aquela visita trouxera. Decretou que aquela amiga tinha sido apenas uma visita indesejável que foi embora e com ela tinha levado todas as energias negativas consigo.

Ao espreguiçar-se, sorriu e, de repente, sentiu a borboleta azul pousar em seu ombro.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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