Vagando pela casa, ela buscava algo para que pudesse ocupar sua mente. A casa de um quarto se transformara numa mansão de três pavimentos, tamanha era a solidão que ela sentia.
Apesar de estar num casamento que se arrastava por anos, ela se via numa verdadeira solitária, privada de carinho, atenção e amor.
Enquanto seu marido se debruçava para ser o homem mais cordial e atencioso com as pessoas, faltava-lhe emoção ao se dirigir a ela.
A falta de amor predominante naquele relacionamento a fazia se esvaziar de qualquer esperança que algo de surpreendente pudesse acontecer entre eles. A casa deles se transformara em um cemitério, onde o vento ecoava bradando, implorando para ter vida naquele ambiente de luto.
A comunicação entre os dois foi se restringindo a um “bom dia”, nada mais que isso, e uma cratera descomunal foi aberta entre eles, impedindo- os de se olharem com ternura.
Ela se voltou para sua completa insignificância e morria dia após dia.
Se sentia invisível naqueles 66 metros quadrados que mais pareciam 25 alqueires onde sentia que apenas ela estava ali.
Apática, não chorava, muito menos expunha para ninguém o que vivia naquela casa. Guardava para si toda a dor que sentia por se sentir envergonhada pelo que os outros pudessem pensar a respeito do seu casamento. Não queria destruir a imagem que levou anos para construir: um casamento duradouro e feliz.
Mas, a cada semana que se arrastava, ela se via despencando naquele precipício de puro desalento que parecia não ter fim.
Obcecada por resgatar seu casamento, acreditava que o seu silêncio o faria ouvir o seu pedido oculto de súplica para ser novamente notada.
Cansada de viver em um relacionamento de isolamento e indiferença, decidiu viver o luto de um marido vivo esperando que tudo, no seu devido tempo, se encarregasse de cair no esquecimento.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos
Ótima crônica, além de ilustrar muitas vidas que passam pelo mesmo..
Oi, Joana!!! Obrigada pelo elogio! Forte abraço