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O último discurso

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Certo dia, um homem maltrapilho entrou em um bar e pediu que alguém lhe pagasse uma bebida. Foi então que um dos jovens ali presentes impôs uma condição para pagar a tão desejada bebida, um discurso, isto mesmo um simples discurso. O maltrapilho aceitou o desafio, tomou apressadamente a bebida, e quando esta lhe esquentou o sangue, dirigiu-se a grande plateia que o esperava ansiosamente, e começou a discursar:

Meus jovens – disse Ele – Contemplando-vos esta noite parecem-me contemplar o quadro de minha própria juventude outrora vivida. Este rosto estropiado que vós hora vedes, foi um dia tão limpo e belo quanto os vossos, este corpo vacilante e tremente, em outros tempos foi forte e saudável como os vossos, estas mãos que hoje tremem, outrora foram firmes em várias cirurgias.

Também tive amigos, “pelo menos eles se diziam amigos”, tive um lar e uma boa posição social, tive uma esposa tão bela quanto o sonho de uma criança, mas troquei sua inigualável e inquestionável honra por uma garrafa de bebida barata.

Tive filhos, tão belos e puros como as flores da primavera, mas os vi murchar e morrer debaixo da decadente maldição de um pai alcoólatra e bêbado.

Tive ambições e aspirações que subiam tão alto como a estrela matutina, porém eu as afastei para tão longe que nem ao menos me lembro delas. E ao ver meu lar se dissolver, por minha única culpa, me consumi com a desgraça da bebida, agora sou um homem sem amigos, um esposo sem esposa, um pai sem filhos um ser sem aspirações e um maltrapilho sem lar.

E o pobre maltrapilho, como se estivesse cansado, depositou sua cabeça calva sobre o balcão e ali ficou parado.

E o mesmo jovem que lançou o desafio, pediu ao balconista outra bebida e ofereceu ao homem, mas ele estava morto e não pode tomá-la.

Autor:

Antônio Henriques Dias Cordeiro

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