“Deus te livre de uma ideia fixa”, mas no momento eu queria muito saber mesmo é o que é uma crônica. Acho que finalmente encontrei na vida um equivalente real àquilo que o defunto Cubas tanto falava, essa afirmação que tanto tempo passeou na minha cabeça sem encontrar um sentido que não retórico. Achei minha ideia fixa.
Já ouvi falar que a escrita tem um certo valor terapêutico e eu consigo imaginar o porquê: não é raro eu me deparar com algum registro antigo meu e dizer: cacete, que troço ruim. Talvez a autocrítica textual seja muito mais eficiente que a autocrítica especulativa.
Inclusive só chegamos no terceiro parágrafo pq, perdão, porque estamos testemunhando – eu autor e você, quem quer que seja – aquele momento da vida de uma pessoa em que a dúvida existencial na verdade virou vocacional e deu uma trombada na curiosidade pela experimentação. Para que não pareça mais simples do que é, desafie a si mesmo agora: que atividade te faz esquecer o cansaço? Alguns diriam uma resenha de futebol, outros uma roda de violão; talvez o jogo – lícito ou não, mas a mim é a escrita. Não como a satisfação frugal, mas como algo capaz de envolver o próximo numa troca injusta em favor dele.
E é engraçado, porque parece o mesmo que descobrir um grande amor que esteve sempre ali do seu lado, ainda que você não tenha cuidado ao longo do tempo. O momento da tomada dessa consciência é quase mágico, porque ali se renovam as esperanças do dia a dia e, quiçá, parte do sentido da vida. Vêm à mente todos os momentos que o prazer parecia apenas fortuito mas na verdade eram os lapsos onde os céus se abriam e diziam para ti “é isto que deves fazer”, num gesto de impulsão quase divino. Longe de mim sugerir algum dom inato quase espiritual, contei com a ajuda de Rubem Braga, verdade seja dita. Seu “Crônicas” de 1952 foram a catarse que sempre busquei sem saber.
Daí, concluo que a vocação sente-se pelo amor, no sentido de útil menos a si do que a outro, e por vezes ela sempre esteve por perto. Também não acredito em vocação totalmente inédita, raio no céu azul, cena de filme. Ela sempre esteve ali, talvez disfarçado de mil coisas, mas ali conversando com você.
Autor:
@mariojpj
Bem vindo ao time e aproveite a intensidade das palavras que surgem a partir desse reencontro.