Beto, de apenas 13 anos, brincava de “bete” na Rua dos Pássaros Mortos com seus coleguinhas, quando um gosto musical, um tanto quanto diferente, rompeu o silêncio daquela rua sem saída.
A música tocava estrondosamente naquela casa de janelas verdes e o som do funk estridente, com palavras pra lá de calientes, destoava daquele lugar tão isolado e silencioso.
Aquela casa era conhecida por ser uma das mais isoladas da vila e seus moradores eram extremamente conservadores.
Achando estranho aquela música vindo daquela casa, Beto chegou a comentar com os outros coleguinhas sua surpresa em relação às músicas que vinham daquela janela verde.
De repente, por ironia do destino, a bola da “bete” caiu no quintal daquela casa e Beto, não se contendo de curiosidade, resolveu ir buscar a bola. Era apenas uma desculpa que ele dava para si e para os outros porque, de fato, ele queria mesmo era descobrir o que estava acontecendo dentro daquela casa que todos consideravam o símbolo do nome da rua que moravam, mas que, naquela tarde, deixara de ter aquele símbolo.
Ao abrir devagarinho aquele portão enferrujado e pesado, Beto conseguiu ter acesso ao quintal e observou que a bolinha tinha caído justamente embaixo da janela verde.
Pé ante pé, Beto chegou, enfim, e quando olhou para trás para se certificar de que seus amiguinhos haviam ficado lá fora, levou um susto: todos eles estavam atrás de Beto fazendo sinal de silêncio para o último que estava vindo.
A aflição tomou conta de Beto, mas ele tentou manter a calma e pediu, por meio de sinais, que todos ficassem quietinhos porque ele tinha que descobrir o que estava acontecendo lá dentro.
Lembrou-se, então, da Dona Fátima, a fofoqueira da Rua dos Pássaros Mortos, que havia dito para a mãe dele numa conversa na quitanda que Seu Zé, de 93 anos, que morava naquela casa, estava à beira da morte e que havia ficado sozinho com seu sobrinho de 20 anos enquanto sua esposa e filhos tinham ido viajar. Por um instante Beto pensou que era o sobrinho do Seu Zé que estava ouvindo aquelas músicas e ficou fulo da vida por pensar que Seu Zé estava à beira da morte e o sobrinho não estava respeitando o momento dele. Mas para sua surpresa, ao levantar-se devagarinho para espiar o que acontecia dentro daquela casa, Beto foi surpreendido pela visão mais inusitada possível: Seu Zé dançava freneticamente aquelas músicas que tocavam e ele estava mais do que nunca vivíssimo da Silva.
Ao abaixar-se novamente, olhou para os amiguinhos com a mão na boca, contendo o sorriso, mas não aguentou. Soltou uma bela gargalhada e levantou-se se pondo a dançar também. Beto foi envolvido pela alegria irradiante do Seu Zé e deixou seus amiguinhos ainda mais intrigados.
Autora:
Patricia Lopes dos Santos
Ótima crônica, parabéns.
Muito obrigada, JOANA!