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sábado, 7 de setembro de 2024

A taça de cristal

Capítulo Três

Tem dias em que tudo dá errado, não é mesmo? Esse era o dia da Helena. Acordou atrasada (o despertador não tocou… se tocou, ela não ouviu, o que dá no mesmo…), quando foi tomar banho, o chuveiro queimou e aquela água gelada da manhã espalhou-se por seu corpo (o que foi bom de certa forma, pois a fez acordar instantaneamente), percebeu que não tinha nenhuma blusa limpa do seu uniforme de trabalho e por isso teria que usar a mesma do dia anterior (a pilha de roupas sujas tinha crescido assustadoramente no decorrer da semana) e, para completar, quando foi tomar seu café, correndo, pois já estava atrasada em demasia, a xícara escapou de suas mãos e entornou o líquido quente em seu colo, sujando sua blusa e queimando sua pele. Lá vai ela, correndo tirar a blusa suja e melada (ela gosta de café bem doce),lavar a região atingida pelo café e passar uma pomada para que o local não infeccionasse. Finalmente, depois de todos esses contratempos (ela pegou uma blusa em seu guarda roupas que não era parte do uniforme, mas teria que servir, já que não tinha outra…) ela finalmente ganhou a rua, só parando quando chegou no ponto de ônibus. “Que sorte”, pensou ela… “o ônibus já está vindo!” Quando ela vai abrir a bolsa, para pegar sua carteira… cadê a bolsa? Esqueceu em cima da mesa da cozinha, quando estava se preparando para sair. “Mas como conseguiu esquecer de sua bolsa, mulher?”, pensou ela, furiosa consigo mesma. Bem, já estava atrasada, portanto não adiantava ficar se lamentando. Resignada, voltou para casa. Já estava desistindo de trabalhar nesse dia, afinal foram tantos contratempos… 

Quando chegou em casa, sentou-se no sofá e ficou algum tempo pensativa. Tudo o que tinha acontecido até o momento lhe dizia que era melhor ficar em casa. O dia não prenunciava nada de bom. Aliás, a sua semana não tinha sido boa, até o momento. No domingo, quando foi visitar sua mãe, acabou brigando com Estela, sua irmã mais nova. O motivo? Nem se lembrava mais, tinha sido algo que podia considerar sem importância em qualquer situação, mas naquele momento tomou proporções de uma tragédia pessoal. O que a deixou mais irritada é que sua mãe defendeu a irmã, não lhe dando nem um pouquinho de razão pelo que tinha acontecido. E isso deixou um gosto amargo de injustiça, uma vez que ela estava certa e sua irmã, errada. Mas Estela era a filha favorita, e sua mãe jamais ficaria contra ela…

Devo esclarecer que Helena era uma pessoa muito calma, comedida ao extremo. Introvertida, ficava sempre na dela. Não recusava ajuda a quem quer que fosse. Muito meiga, procurava sempre ver o lado das outras pessoas. Empática ao extremo. E algumas vezes acabavam abusando de sua boa vontade. Por ser uma pessoa tão tranquila como era, quando explodia as pessoas a sua volta até estranhavam. Pois ela realmente explodia, parecia que ia ter uma síncope cardíaca, ficava vermelha e gaguejava, e gritava alto tudo aquilo que estava engasgado em seu ser. Mas, em situações normais, passada a explosão de ira, voltava a ser a garota doce e meiga que todos conheciam e que alguns amavam. Eu digo alguns porque não conseguimos agradar a todos ao nosso redor, não é mesmo? Sempre tem aqueles que, por algum motivo, não vão com a nossa cara…

E Helena ficou ali, sentada na sala, pensando sobre o que faria nesse dia…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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