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sábado, 7 de setembro de 2024

Capítulo Um   

Tic, tac, tic, tac… o som irritante do relógio lembrava Cecília de que não tinha muito tempo, que deveria se apressar. Tudo bem, eram apenas oito horas da manhã e Ricardo não deveria retornar de seu serviço antes das dez da noite, uma vez que dificilmente ele sairia do trabalho e iria direto para casa. Não. Era certo de que, depois do expediente, ele iria para o bar com os amigos…

Ainda assim, ela deveria se apressar. Iria faltar no serviço… talvez até mesmo pedisse demissão nesse dia, pois pretendia desaparecer pelo mundo, para que Ricardo não a conseguisse encontrar…

Enquanto arrumava sua mala (não pretendia levar muita coisa, só o essencial), mesmo sem querer, sentiu aflorar em sua mente lembranças de um passado nem tão distante, assim. Lembrou-se de quando conhecera Ricardo. Ela tinha ido ao cinema com suas amigas, assistir um filme. Como era mesmo o nome do filme? Não se lembrava. Tampouco conseguia lembrar o que ela e suas amigas fizeram depois da sessão de cinema. A única coisa de que conseguia se recordar era do momento em que o viu pela primeira vez na lanchonete… nossa que garoto lindo, ela pensou…

Não conversaram nesse dia, sequer se apresentaram. Mas a imagem do rapaz da lanchonete ficou marcada em sua lembrança. E, sem mesmo perceber, suspirava quando se lembrava dele…

Cecília colocou outro vestido na mala. Era um vestido azul, um de seus preferidos. Aliás, ela gostava mais dos tons escuros que dos claros. Azul, verde, preto, marrom… não, ela não era gótica. Simplesmente não gostava tanto de rosa e seus derivados. Vermelho, dependendo do tom, até gostava. Mas suas roupas eram predominantemente escuras. Branca, só a blusa do seu uniforme de serviço. Ela trabalhava como vendedora em uma loja, e seu uniforme era uma blusa branca e calça… ou saia… preta. Não era sua combinação favorita, mas uniforme é uniforme. Ela sempre dizia que quem escolhia os padrões para os uniformes só os escolhiam assim porque nunca os usavam…

Quando foi abrir a gaveta, para pegar outras peças, seus olhos pousaram na pequena bailarina da caixa de música que ganhara de Ricardo em seu primeiro encontro. Pegou a peça e deu corda. Fechou os olhos enquanto ouvia a melodia e pôs-se a sonhar com o passado, quando as coisas pareciam mais simples… bem, quando você tem dezesseis anos, embora não pareça, as coisas são realmente mais simples.

Finalmente terminou de arrumar suas coisas. Olhou o quarto pela ultima vez. Uma lágrima teimosa resolveu rolar por sua face. Ela saiu, trancou a porta e ganhou o mundo. O que iria acontecer a partir de agora? Ela não sabia… mas esperava que as coisas pelo menos melhorassem e que sua vida se descomplicasse um pouco. 

Pousou a mala no chão enquanto esperava o ônibus. Para onde iria? Não tinha a mínima ideia. A casa de seus pais não era uma opção. Nem a de parentes ou amigos.  Pegou um cigarro, acendeu e, enquanto via a fumaça se erguer aos céus ficou pensativa… o ônibus estava chegando. Jogou o cigarro no chão, embarcou. Enquanto olhava pela janela a vida que deixava no passado, ficou pensativa, tentando imaginar o que seria sua vida a partir daquele momento… 

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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