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sábado, 30 de novembro de 2024

O Taliban perdeu a guerra

Só ganha a guerra quem abraça a paz.

O permanente estado de ocupação estrangeira a que tem estado sujeito o Afeganistão e a luta entre suas facções internas indicam uma situação distante da estabilidade política e militar. Esse é um aspecto geopolítico que transcende o escopo da crônica e o conhecimento do cronista. Há uma guerra que a espécie humana vem travando há milênios contra si mesma, que está gloriosamente vencendo nos últimos tempos. Nesta, os arrojados, mas primitivos guerreiros talibãs, lutam contra aqueles a quem se deveriam aliar.

Restabelecer a “rota da seda” com a China, ou ter bons acordos com a populosa e problemática Índia, ou conviver com a Rússia, a maior das potências de 2ª categoria, não é o que vai serenar os mujahidin. O que os vizinhos pretendem é conter os talibãs no Afeganistão, evitando que eles exportem o próprio mau humor para as populações islâmicas de seus países.

Inadvertidamente caracterizei o comportamento dos partidários talibãs como de “mau humor”. Acho que acertei. Toda violência, agressividade, desumanidade tenho certeza, têm origem naquelas 8 horas, terço das 24 do dia, destinadas ao descanso, mas também às práticas conjugais. O problema do mujahid está entre o estender a mão para desligar a luz à hora de deitar-se e o sentar-se à mesa para a refeição matinal. Aí é tempo do amor, do realizar e ser realizado, do dar e receber. Não me parece que isso seja possível com as mulheres sendo tratadas como vemos pelas imagens e relatos da mídia e da literatura.

Se me fosse dado o poder de colocar um “jabuti” na tal lei islâmica – como se faz no colendo parlamento verde amarelo – eu, sub-repticiamente introduziria a Lei Maria da Penha, tal como existente no Brasil, com o tradicional “Revogam-se as disposições em contrário”. Sei que não resolveria tudo, como aqui não resolveu, mas iria ajudar, com certeza.

A maior, a interminável, a mais burra das guerras é a que o Talibã impõe ao país contra as mulheres, contra suas próprias mulheres, privando-as dos mais comezinhos direitos. Esse é assunto por demais discutido e o espaço dessa crônica me é precioso. Um nome pode nos trazer tudo à memória: Malala, a menina, baleada porque queria ir à escola, hoje, Prêmio Nobel da Paz. Ao desconsiderar nos seus esforços de governar o Afeganistão, ou até no de lutar suas guerras, 50% da inteligência da sua sociedade, o Talibã já perdeu a guerra, qualquer guerra.

Ao chegarem a Cabul, os guerreiros que puseram para correr o poderosíssimo exército americano anunciaram que adotariam as mais fundamentalistas leis islâmicas.

– Impiedosos e sanguinários guerreiros, vocês conhecem tudo de guerras, mas não sabem nada de mulheres! E por isso estão fadados à derrota.

Pelo meu entendimento de vivente simples, só existe mesmo uma grande lei que não nos pede licença, consenso ou maioria para existir, a Lei da Natureza, que abrange o Universo. Sobre essa Lei, um desses iluminados da humanidade, Einstein, refletiu: “Eu só queria conhecer o pensamento de Deus”. Como não conhecemos, criamos leis (com inicial minúscula) a partir dos fragmentos que vamos encontrando e descobrindo da Lei Natural. E assim se formam as filosofias, as religiões, as ciências, toda a sabedoria humana com sua soberba.

A refinada cultura islâmica produziu nas artes e nas ciências belas contribuições ao longo dos séculos. A doçura e a beleza da mulher comparecem na poesia e nos nomes que as meninas recebem dos pais, lembrando a harmonia das flores e a doçura das frutas. Como são comuns naquela cultura as Yasmins, as Tâmaras, as Rosas!

Dálias, Hortênsias, Azaleias, Camélias, Violetas, Melissas, Gardênias, Margaridas foram revestidas pela natureza de uma atratividade que poetas e cientistas perceberam ser a garantia da continuidade das espécies. Claras, Helenas, Marcelas, Anas, Gabrielas, flores ou mulheres? Pouco importa, se todas são as fontes perenes de onde a vida se renova.

Há aí um forte apelo sensual que não é erótico, nem necessariamente sexual, origem na sua sublimação da criatividade humana, senhora de todas as artes.

Os antepassados desses talibãs, que escreveram leis tão duras contra a outra parte da humanidade sabiam da beleza das mulheres, temiam perdê-las, tinham o mesmo sentimento do colecionador de curiós ou canários cantadores, o de trancafiá-los em gaiolas, apropriando-se da beleza e do canto, ainda que este seja triste ou de desesperança.

Homens talibãs, envolvam as papoulas que crescem viçosas em seus desertos, em panos negros, escondam-lhes toda a exuberância e vejam o que sobra delas. Além da beleza perdida não lhes arrancarão nem o ópio, nem a heroína com que abastecem dependentes de todo o mundo. Flores e Mulheres para exercerem toda a sua sensualidade, toda a sua beleza, precisam ser vistas, contempladas, admiradas. Vocês escondem suas mulheres num absurdo egoísmo, lhes extirpando a essência do ser.

Deixem que sejam livres, que estudem, cresçam, que façam a guerra ao lado de vocês, usando a inteligência e a coragem que elas têm, do mesmo tamanho que as suas.

Os hippies diziam “faça amor, não faça a guerra”. Estou convencido que, para vocês, fazer guerra é muito importante, então lhes digo: “Façam guerra com seus inimigos e amor de qualidade, com suas mulheres”.

E dias melhores virão!

Crônicas da Madrugada.

Autor:

Danilo Sili Borges. Brasília Ago. 2021. Membro da Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL – BRASÍLIA
danilosiliborges@gmail.com

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