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sexta-feira, 19 de julho de 2024

Resenha crítica do documentário: oceanos de plástico

Oceanos de Plástico — (A Plastic Ocean) Estados Unidos, 2016.
Direção: Craig Leeson
Roteiro: Craig Leeson, Mindy Elliot,
Elenco: Sylvia Earle, Ben Fogle, Barack Obama, Tanya Streeter, Ivan Varela, Jon Ruxton, Craig Leenson.
Duração: 136 min.

Esta resenha tem como objetivo analisar criticamente o documentário Oceanos de Plástico. Lançado em 2016, o documentário conta com imagens subaquáticas, mostrando as mazelas vivenciadas por animais que convivem em meio ao plástico, além de mostrar as áreas dos oceanos, devastadas pela ação do descarte de resíduos sólidos de forma inadequada.

A duração do plástico é vantajosa para o setor da economia. Porém, para o meio ambiente, torna-se um mal terrível. É com esse pensamento que os realizadores nortearam a construção dos discursos reflexivos em Oceanos de Plástico. Diante da ânsia da sociedade moderna por consumo excessivo do plástico, sendo este a priori uma necessidade que atende aos interesses da economia. Mas que, com a cultura do descarte, os oceanos tornam-se receptores dos amontoados de lixo jogados diariamente.

O lixo lançado por pessoas e empresas nos rios, praias e outros efluentes, vai sendo arrastado para os oceanos com os efeitos das correntes marítimas, transformam-se em verdadeiras ilhas de plástico. O que torna um fator mais agravante ainda a situação, é que não basta apenas um mutirão para se reunir, e ir com embarcações coletar todo o material despejado nas águas. Pois, o material, além de ser bastante resistente e durar mais tempo que diversas substâncias, cria a chamada “neblina de plástico”, formada por microplástico que vai se espalhando e dando forma ao conteúdo nocivo para todo ecossistema.

Oceanos de Plástico documenta as consequências do estilo de vida da modernidade, baseado em consumo excessivo de plástico descartável, e com isso, a destruição que vem causando. Misturado ao plâncton, que são o conjunto de algas e animais microscópicos que formam a base da cadeia alimentar, o plástico é ingerido por animais menores, que por conseguinte servem de alimento para animais maiores, e assim sucessivamente.

Com isso, contamina a biodiversidade marinha de forma progressiva e cumulativa, aumentando a quantidade das toxinas em cada animal, à medida que estes vão aumentando de nível trófico, até chegar ao ser humano, colocando em risco a saúde ao se alimentar desses animais marinhos. Afinal, os peixes são fontes de proteínas na dieta de boa parte da população do mundo.

De acordo com a revista Galileu (2022). “Pesquisadores detectaram microplásticos em leite materno pela primeira vez. A descoberta ocorreu em 75% das amostras retiradas de 34 mães saudáveis, uma semana após o parto, em Roma, na Itália. Os resultados foram registrados em 30 de junho na revista Polymers. A pesquisa identificou microplásticos compostos de polietileno, PVC e polipropileno, que estão presentes em embalagens. Não foi possível para os cientistas analisar partículas com menos de 2 mícrons (0,0002 centímetro), sendo provável que estejam presentes no leite materno pedaços ainda menores”.

Segundo o Jornal da USP (2022). “Pela primeira vez, um estudo holandês detectou a presença de microplástico no sangue humano, que chega até o organismo através do consumo de alimentos embalados e de carnes de animais contaminados, além da inalação por meio do ar atmosférico e da água que bebemos, por conta da poluição do material no meio ambiente. A análise é do hematologista José Roberto Ortega Júnior, do Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. E, no início deste ano, pesquisadores da USP apresentaram resultados de pesquisa que também identificou a presença do material no organismo humano, desta vez no tecido pulmonar, com 20 casos analisados e 13 tecidos contaminados”.

Com as evidências do plástico presente em nossos tecidos em amostras analisadas pelos estudos apresentados nas manchetes acima citadas, tanto da revista Galileu quanto do Jornal da USP, podemos observar que, já não se trata de possíveis consequências em um futuro próximo. O mal causado pelo plástico, e o descarte inadequado do lixo, já é fato consumado, pois, estudos comprovam que foram encontrados microplásticos em nosso organismo.

Com esse efeito, é sabido que o organismo reconhece a toxina como um corpo estranho, e que por sua vez, essa toxina do microplástico trará diversas patologias ao ser humano, sendo o principal vilão os cânceres.

De acordo com a revista Veja Abril (2022). Foi em razão do isolamento social durante a pandemia do Covid-19, que uma pesquisa desenvolvida pela empresa de consultoria ExAnte a pedido da organização não governamental Oceana, que as refeições

para viagem e a utilização de plástico para embalar, transportar e consumir essa comida explodiram no país. Confinados em seus lares e domicílios nos períodos mais severos da quarentena imposta pela pandemia, os consumidores passaram a adquirir mais produtos pelo celular ou computador e a usar com maior frequência os serviços de entrega de refeições – ou delivery, na expressão em inglês, a mais habitual – para evitar sair às ruas e observar o distanciamento social. Com esses dados apresentados na revista Veja, é notório que, o consumo de alimentos em delivery, que utilizam o plástico como embalagem, agravou ainda mais, a quantidade de lixo descartados, indo parar nos oceanos contribuindo para o agravamento da contaminação do ecossistema, devido ao descarte inadequado dos plásticos.

Para o diretor do documentário, é necessário se aproximar do problema para que haja uma melhor compreensão da ação humana que, cada vez mais, se torna consumista de descartáveis, e analisar seus efeitos sobre a natureza.

Pois o lixo só é encontrado nos oceanos, e no organismo dos animais, porque alguém fez uso e descartou de forma inadequada, ou seja, houve uma ação antrópica prévia, para que houvesse todo desequilíbrio na cadeia alimentar, que contamina animais e retorna a nós humanos. Não mais na forma de polímeros, que são macro moléculas, e sim, em microplásticos que são moléculas tão pequenas que estamos ingerindo sem perceber, tanto na alimentação e ingestão de água, quanto na respiração do ar atmosférico que até então era desconhecido essa contaminação por microplásticos.

A proposta do documentário é apresentar uma imagem clara do problema, além de apontar possíveis soluções que estão sendo tomadas para agir contra a ameaça visível do plástico.

Assim como em Ruanda, a população conseguiu banir o uso de sacolas plásticas, visando reduzir seu impacto no solo, é possível que outros países façam o mesmo. Inclusive, para fomentar essa ideia, houve um pedido de um grupo de cientistas, para o governo classificar o plástico como perigoso, como mencionado no documentário.

Sendo assim, conhecendo os males causados pelos plásticos, procurando estratégias para reduzir seu consumo, todo o ecossistema sairá ganhando.

Desse modo, a ciência contribui na problematização das situações existentes e, direciona para possíveis soluções, que só será viável, se toda população colaborar e, cada um fizer sua parte, a começar pelo descarte correto do seu lixo, evitando de jogar lixo pela janela do carro, levar sacolas de panos para o supermecados, ou exigir biodegradável, não utilizar canudinhos, exigir do governo medidas que responsabilize as fábricas para recolher o

plástico e reciclar.

Não devemos apenas transferir a responsabilidade de cuidar, somente para os governantes, é importante lembrar que o lixo que é jogado nas ruas vão para os bueiros, e segue os efluentes das águas rumo aos oceanos.

Devemos, como estimula o documentário, pressionar o governo dizendo que não aceitaremos, no meio ambiente. Assim como é mostrado, as fábricas de plástico pressionam o governo para conseguir um bom negócio nas vendas dos produtos. E se são eles que produzem o plástico, devem ser responsabilizados pelo seu acúmulo e pontos para o descarte e sua respectiva reciclagem.

De imediato, o governo deveria exigir das empresas a redução da produção de novos materiais de plástico, fazendo a reciclagem dos polímeros já existentes. É possível uma significativa melhora na redução de plásticos descartados de forma incorreta. Fazendo assim, com que as novas embalagens, sejam produzidas a partir das matérias primas já fabricadas anteriormente, que com a devida reciclagem dos mesmo, seja possível fabricar novos produtos.

Essa proposta é totalmente viável a curto prazo, já que as empresas teriam que se organizar com profissionais e máquinas especializadas para trabalhar somente com a produção de plásticos biodegradáveis, que é a solução mais plausível, para acabar de vez com a ameaça do plástico. Porém, entendemos que há uma demanda urgente do mercado consumidor por embalagens, assim, o governo estabelece prazos para adequação às novas produções de biodegradáveis, tempo razoável para qualificar seus funcionários para a nova produção de bioplástico.

Desta forma, visto que é relevante o conhecimento do problema atual, por todos, para que possamos repensar as ações, e adotar um novo estilo de vida, mais sustentável, pensando no futuro das próximas gerações, e tendo a consciência que, cuidando da natureza está diretamente cuidando de si próprio, evitando se contaminar ao respirar ou alimentar, pelo próprio plastico que um dia foi utilizado em uma embalagem e foi descartado de forma incorreta.

Sendo assim, o documentário é indicado para todas as idades. É importante que as crianças das séries iniciais nas escolas, que é quando as crianças estão desenvolvendo seu senso crítico, tenham acesso a esse conhecimento do grave problema que só cresce e, veja as consequências do uso e seu descarte incorreto. Trazendo assim, uma reflexão sobre as consequências de seus próprios atos no dia a dia, tem sobre todo ecossistema, inclusive na

sua própria saúde.

REFERÊNCIAS

Craig Leeson, Documentário, Oceanos de Plástico, (A Plastic Ocean) Estados Unidos, 2016. 136 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J-SBAG64ku Acesso em: 31.10.2022.

Jornal da USP. Disponivel em: https://jornal.usp.br/atualidades/microplasticos-da-poluicao-podem-contaminar-o-sangue-por meio-da-alimentacao-e-respiracao/#:~:text=vez%20mais%20relev%C3%A2ncia.-,Pela%20p r imeira%20vez%2C%20um%20estudo%20holand%C3%AAs%20detectou%20a%20presen% C3%A7a%20de,do%20material%20no%20meio%20ambiente. Acesso em: 01.11.2022.

Revista Galileu. Disponivel em: https://revistagalileu.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2022/10/microplasticos-sao-encontra dos-em-leite-materno-humano-pela-primeira-vez.html Acesso em: 01.11.2022.

Revista Veja Abril. Disponivel em:https://veja.abril.com.br/agenda-verde/oceanos-de-plastico-as-consequencias-da-explosao-do consumo-do-material/ Acesso em 01.11.2022

Autora:

Maria Michaelly Vasconcelos Diogens

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