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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Prisioneira de sua própria identidade

O relógio marcava sete da manhã.

Ao terminar sua rotina matinal, ela rogou aos seus ancestrais para que pudessem lhe dar um dia sem tantas tribulações na escola por conta de sua condição.

Apesar de ter sido agraciada com sua beleza máscula quando do seu nascimento, estava presa em naquele corpo masculino e ela sofria todas as vezes que se olhava no espelho.

Sua alma feminina era incompreendida e, diuturnamente, ela lutava para ser aceita naquele lugar.

Em seu íntimo, imaginava-se vestida e transitando com sua verdadeira identidade de mulher: de salto, batom vermelho, lingerie e roupas femininas que tanto enamorava nas vitrines dos shoppings, mas logo voltava para a sua dura realidade de sentir “diferente” de todos, e padecia naquele corpo.

Aquele sonho parecia impossível de ser realizado, e ela se rendia à frustração de ter que vestir novamente aquele uniforme masculino.

Enquanto se vestia, buscou forças para enfrentar mais um dia de cão, graças à falta de empatia daquelas pessoas que nutriam por ela verdadeira antipatia e visível desprezo.

Seu sofrimento era palpável e visceral ao ponto de ela pensar que não fazia nenhum sentido estar viva.

Tombando de joelho, desejou não ter nascido.

Seus mais profundos desejos eram em ter apenas um dia em que se sentisse abraçada e acolhida pela vida para extirpar dela aquele sentimento de menos valia, mas, ela percebia que isso era uma realidade muito distante.

Sem nenhuma vivacidade, levantou-se, pegou sua mochila e se dirigiu àquela arena que ela tinha certeza que ia despedaçá-la mais uma vez e ela nada podia fazer a não ser ter esperança de ser agraciada pelo Universo com a libertação daquele corpo que prendia a sua verdadeira identidade de mulher.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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