A Liderança é Genética? Os Comportamentos de Dominância e Submissão Observados em Mamíferos Podem Caracterizar um Estilo de Liderança?
Seja no âmbito empresarial ou na área acadêmica, acalorados debates vêm ocorrendo a respeito de uma questão relevante sobre liderança; _ a pessoa nasce líder ou trata-se de uma habilidade que pode ser desenvolvida?
Há defensores dos dois lados. Um grupo afirma que a liderança é uma característica inata que pode ser observada em diversas espécies de mamíferos como lobos e chimpanzés, por exemplo. Nessas espécies, a personalidade dominante aparece nas primeiras semanas de vida.
Também pode-se observar a liderança em humanos, cujos alguns poucos indivíduos demonstram tendência de comandar ainda no jardim de infância, indicando que a genética tem grande impacto nessa característica.
Outro extremo acredita que a liderança é uma habilidade que pode ser aprendida durante a vida e que a influência do ambiente é maior do que a genética.
Eles afirmam também que comportamentos de dominância e submissão observados em mamíferos (assim como em humanos) são influenciados pela observação e imitação do comportamento dos pais e depois de outras figuras marcantes na vida do indivíduo.
Um terceiro grupo acredita que há um equilíbrio entre genética e ambiente. Ou seja, o indivíduo nasce, sim, geneticamente predisposto a manifestar certas características comportamentais como a dominância, mas o ambiente é tão importante quanto a predisposição inata e pode, assim, atenuá-la ou potencializá-la.
A força do ambiente é maior até o início da adolescência, porém é possível aprimorar essa e muitas outras habilidades durante toda a vida.
O Prêmio Nobel de Economia no ano 2000 (James Heckman) usa uma metáfora para comparar a personalidade de um adulto a um prédio. Ele diz que é improvável mudar a estrutura do prédio (personalidade), mas é possível aperfeiçoar o acabamento.
Isso significa que há pessoas com aptidão natural para liderar e que podem aprimorar ainda mais essa habilidade. Dessa forma, podemos observar indivíduos que nunca demonstraram interesse em comandar, mas que por necessidade ou oportunidade se transformaram em ótimos líderes por meio do esforço e do estudo diligente.
A neurociência denomina de “neuroplasticidade” a capacidade de o cérebro adulto aprimorar conhecimentos, buscar caminhos neurais alternativos, formar novas sinapses e aprender coisas complexas como um novo idioma, mudar de profissão na meia-idade ou aprender técnicas de liderança para aprimorar – ou potencializar – sua carreira.
O problema é que a neuroplasticidade tem limites e demanda longo tempo e energia. Quando – por exemplo – um indivíduo que já tem habilidade natural para lidar com o público – ou faz um bom curso de técnicas de vendas – ele tende a melhorar seus resultados em poucas semanas; ou seja, ele aprimorou o que era naturalmente bom.
Por outro lado, se o indivíduo odeia lidar com desconhecidos, pois sente-se desconfortável com o processo de negociação, o mesmo treinamento terá efeito limitado, pois trata-se de uma dificuldade estrutural.
Isso significa que temos muita facilidade para fazer algumas tarefas e enormes dificuldades para realizar outras. A vantagem é que, para liderar pessoas não há um caminho único, já que gerentes podem ser muito bem-sucedidos em um mesmo ramo de negócios tendo personalidades muito diferentes entre si.
As Diferenças de Estilo
Pode-se dizer que estilo é a forma como executamos nossos pensamentos e, em termos de liderança, os estilos são as diferentes maneiras que um líder pode atuar.
Os estilos dizem respeito às estratégias utilizadas para motivar, organizar e interagir com os seus liderados. Estudiosos no assunto vêm afirmando que existem vários estilos de liderança e, certamente, você já deve ter ouvido falar dos estilos de liderança autocrático, democrático e liberal.
Em verdade, todos nós temos um pouco de cada um deles, pois cerca de 70% das pessoas apresentam um estilo mais intenso e, em torno de 30%, dois ou mais estilos próximos – que muitos denominam de estilo “misto” ([1]).
É importante ressaltar que não há um perfil melhor que o outro, mas características positivas e negativas em cada um. Portanto, o ideal seria aproveitar ao máximo seu estilo natural e, dentro do possível, agregar uma ou outra boa característica dos outros.
Portanto, será importante você conhecer seu próprio estilo, não para mudá-lo, mas para aproveitá-lo ao máximo e para fazer as melhorias necessárias. O objetivo é ajustar a forma de liderar e não o conteúdo.
([1]) FERRAZ, EDUARDO. “Gente de Resultados: Manual Prático Para Formar e \liderar Equipes Enxutas de Alta Performance”. São Paulo, Planeta do Brasil, 2018.