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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Contemplar é para pessoas profundas

Às vezes me pego pensando o quanto é triste viver em tempos em que tudo se resume ao que se vê na superfície, em que não há lugar para contemplar o que há de mais bonito no outro. Pois, ninguém está disposto a mergulhar no mais íntimo do ser, até porque chegar no fundo requer tempo e dedicação.

As pessoas se contentam ao que é visível aos olhos, mas não ao coração, por isso não estão mais dispostas a cativar, e muito menos a se tornar responsáveis por isso, como dizia meu amigo Pequeno Príncipe.

Na era das redes sociais (https://resultadosdigitais.com.br/marketing/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/), acompanhar a vida de alguém parece o bastante para traçar sua personalidade, gostos e jeitos. Mas não se dão conta que pouco sabem do outro. Esse ato se estende a consultórios psiquiátrcos, psicológicos e médicos cheios de hipóteses diagnósticas, mas nunca de certeza. Incertezas que podem mudar a vida de uma pessoa para pior.

Sempre me questiono dessa falta de tempo que mais me parece falta de coragem de se colocar para o outro e de receber esse outro na mesma proporção. Relações que acabam no início porque visualizar os storys é o bastante. Uma geração rasa que mais se ouve do que se escuta, forma pessoas vazias a cada esquina. É… São tempos com falta de tempo.

Será que uma pandemia não foi o bastante para fazer as pessoas entenderam que mais importante que uma prova ou entregar um trabalho, é estar ao lado de quem ama? Acho que nada se aprendeu, pois continua do mesmo jeito.

As vezes tento me colocar no lugar de quem me assiste de fora, deve ser bizarro e com certeza devem pensar algo totalmente contrário do que sou, não porque eu finjo ser outra pessoa, mas porque o outro me observa exatamente a partir de suas experiências e vivências, mas não como sou de verdade.

Durante um encontro com uma amiga minha, nos pegamos falando sobre eu me sentir bem ao seu lado, pois ela não me poda como outras pessoas fazem. Até porque possuo um jeito espalhafatoso, risonho e encantador que ao se distrair com pássaros pode atravessar uma rua sem prestar atenção no fluxo de carros, ato este, que pode ser confundido com lerdeza e até irritar um adulto, se é que me entende.

Pessoas como eu e ela não somos bem-vindas no mundo adulto. Mundo esse que é coberto de caras fechadas e coisas muito sérias, que acabam nos classificando como bobas por contemplar o céu, ou por de repente se empolgar ao reparar numa rua bonita. Mas logo, sua fala me trouxe um conforto: – não precisamos deixar de ser a gente para nos tornarmos adultas.

Causamos incômodos por ainda sermos autênticas feito crianças, estas que começam a ser podadas desde cedo, com o: ria mais baixo; deixa esse pássaro; isso é besteira; quieta; fecha a perna; fale menos, etc. Que quando crescem, se contentam com o raso, como todos que observo a minha volta, repetindo incessantemente: não posso; não tenho tempo; vamos logo com isso; que pássaro nada, tu usa droga é?! É meus caros, contemplar é para pessoas profundas.

Juliana Sena de Oliveira
Juliana Sena de Oliveirahttps://omundodeju.wixsite.com/omundodeju
Juliana Sena - Redatora Publicitária - Escritora no blog: O Mundo de Ju. Gosta de escrever crônicas sobre o seu mundo, onde tudo é possível e toda dor é sublimada.

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