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sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Metaverso, facebook e o mito da caverna: quem viver verá.

Quem já teve a oportunidade de ler o Mito da Caverna sabe que essa alegoria é uma metáfora criada pelo filósofo grego Platão. A história é uma tentativa de explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos, aprisionados pelos sentidos e os preconceitos que impedem o conhecimento da verdade. Está presente no Livro VII da obra A República. O texto está constituído em uma série de diálogos, escritos por Platão, sobre o conhecimento, a linguagem e a educação para a construção de um Estado ideal. Em resumo, para Platão, a caverna simbolizava o mundo onde todos os seres humanos vivem. As sombras projetadas em seu interior representam a falsidade dos sentidos, enquanto as correntes significam os preconceitos e a opinião que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso comum. Platão descreve a importância do senso crítico e da razão para que os indivíduos possam se “libertar das correntes” e buscar o conhecimento verdadeiro, representado pelo mundo exterior à caverna.

Nos últimos dias temos acompanhado pelas redes sociais, noticiários e outros meios de comunicação a chegada inevitável, do que os que são mais ligados à tecnologia chamam de Metaverso, que seria a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de “realidade virtual”, “realidade aumentada” e “Internet”. Este termo foi cunhado pela primeira vez na obra “Nevasca”, de Neal Stephenson. Exemplos mais recentes são os jogos Second Life, Roblox e Fortnite.

O Facebook já havia anunciado a intenção de adotar o Metaverso em sua plataforma, há algum tempo e noticiou nos últimos dias, mais detalhes sobre o plano de criar o seu próprio Metaverso.

A novidade será incluída no Facebook Horizon, plataforma que simula ambientes virtuais, e ficará disponível em breve nos dispositivos de realidade virtual da Oculus, empresa do Facebook. Com o anúncio, o Horizon terá três frentes principais: Horizon Home, em que usuários poderão criar casas virtuais; Horizon Worlds, para encontros de usuários em shows virtuais, por exemplo e a Horizon Workrooms, voltado para reuniões de trabalho. Nesse sentido, segundo a empresa o Metaverso permitirá criar avatares. Em vez de uma imagem estática, cada pessoa no universo virtual terá representações em 3D, que poderão ser versões parecidas com a realidade ou bem distintas, de acordo com seu desejo de se apresentar como real, ou como um novo real, construído, para satisfação de sua própria psiqué social.

Bom, explicada a situação, temos algumas reflexões a fazer: primeiro, será o nosso retorno à caverna, pensada por Platão em sua obra escrita em 380 a.C? Segundo, teremos condições emocionais e psicológicas de nos fecharmos cada vez mais em um mundo virtual, tão parecido com o real, que podemos não saber mais distinguir um do outro? Terceiro, o custo operacional desses equipamentos, excluirá boa parte da população, criando desejos de consumo em nada comparados aos de hoje, que já são responsáveis, como todos sabemos, por grande parte da violência pela busca incessante de bens de consumo tecnológicos? E, finalmente, quarto, porém não menos importante: será que estamos caminhando para o fim da humanidade assim, com a conhecemos desde sempre?

O mundo platônico observado na alegoria das cavernas, mostra a nossa realidade, como sendo ofuscada pelas sombras e interpretadas à luz, de quem vê apenas as aparências das coisas, dos fatos e das intensões humanas.

Nesse sentido, a realidade virtual proposta pela ideia de um universo paralelo, mediado, pelas mais novas tecnologias de ponta, capazes de confundir nossa mente, ao ponto de esquecermos em definitivo, a essência das coisas, nos conformando com o que é meramente visível, mesmo que absurdamente irreal, será a responsável, por nos envolver em um tipo de matrix, replicando em nossa vida, a ilusão de que existe uma outra possível e inimaginável, que será responsável por construir em nós a fantasia da perfeição e da vaidade extrema, num espaço isolado do mundo verdadeiro.

É importante pensar que isso poderá e deverá alterar toda forma de relacionamento humano, onde em um lado do ambiente virtual aumentado, fantasiado e construído, a partir de nossos próprios traumas e insatisfações pessoais e sociais, construiremos relações falsas, ilusórias, porém, não menos convincentes, capazes de enganar e seduzir o outro na outra ponta do sistema, onde se encontrarão os nossos entes relacionáveis. Ou seja, é possível haver uma exacerbação do “eu em mim mesmo” em detrimento do “eu na sociedade”, trazendo grandes consequências para as gerações futuras, que enfim, não terão a oportunidade de conviver de forma real com outras pessoas, de sentir de forma verdadeira todas as nuances de relacionamentos compostos por questões existências, amorosas, afetivas, por fim, humanas.

Fadadas, essas gerações estarão, a mercê de belezas transitórias, construídas, maquiadas, alienadas e maléficas. Não se sabe, ainda, o que será do futuro desses novos humanos, dentro desse contexto. O prazer de sentir, de cheirar, de abraçar, de tocar, ficarão restritos a impressões criptografadas de uma realidade chinfrim, que em nada será capaz de conduzir o ser humano a outros estágios de desenvolvimento. A espiritualidade humana será, nesse sentido, desmontada, contudo continuaremos a acreditar na divindade e ainda mais, acreditar, queestaremos muito perto dela, na medida, em que a nosso bel prazer e vontade, poderemos manipular toda verdade, toda realidade, toda alegria e toda tristeza, nos confundindo com o próprio Deus.

O futuro está se apresentando a nós, nesse momento, como um grande Armageddon. Será que é neste local virtual que ocorrerá o conflito final entre o bem e o mal? Será que finalmente, saídos da boca do dragão, de um falso profeta ou da própria besta, esse Metaverso terá a missão na Terra de enganar governantes no mundo inteiro, induzindo-os a levar toda a humanidade a participar de uma batalha final, que há tempos está perdida? Voltamos, assim, inevitavelmente e inexoravelmente, às sombras da caverna pensada por Platão.

Autor:

Julênio Braga Rodrigues, mestre em Gestão e Modernização Pública e Doutor em Educação.

4 COMENTÁRIOS

  1. Texto incrivelmente bem elaborado e bastante reflexivo. Tenho pavor do que nos aguarda. Estamos sim, caminhando para o desastre final! Parabéns! Amei o texto.

  2. Jesus breve virá… Porque nada há oculto que não venha a ser revelado. Foi nos ensinado exaustivamente que só Deus é amor. Quando algo ou alguém bate de frente com ele desafiando sua justiça não consegue prosperar por muito tempo. E certamente provará de um juízo amargo eminente.

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