A Câmara dos Deputados acaba de nos presentear, mais uma vez, com aquele espetáculo que faria rir até quem perdeu toda a capacidade de surpresa – se é que alguém ainda se choca neste país das maravilhas. Ontem, os bravos deputados, liderados pelo entusiasmo digital de Nikolas Ferreira e seu bloco da extrema-direita abraçado ao centrão, derrubaram a taxação das apostas esportivas. Sim, as bets, esse mercado que cresce igual mato em terreno baldio, seguirão intocadas, livres para faturar bilhões sem devolver um centavo extra para quem (sonha que) precisa de saúde, educação ou um ônibus decente para trabalhar. Aliás, junto das apostas, foi ao túmulo toda uma lista de outros impostos sobre aplicações financeiras. Fascinante ver tanta gente defendendo direito de “escolha” quando, na prática, o único direito garantido é o de ver a arrecadação pública virar meme no grupo de WhatsApp do condomínio.
Enquanto se apresentava a salvação do cidadão comum, a real prioridade era poupar o mercado financeiro de qualquer incômodo, como se um aborrecimento nos rendimentos fosse capaz de desestabilizar essa galera que nunca pegou fila no SUS. E Nikolas? Performou tanto que votou “errado”, porque ser sarcástico com o patrimônio do Brasil virou moda. Afinal, existe exemplo maior de comprometimento institucional do que votar bilhões “por engano” porque estava ocupado cuidando da cria? Brilhante! Ainda alegam que estão “defendendo o povo”, mas o povo mesmo ficou com o troco e o aviso: se quiser serviço público, tente na próxima encarnação.
A vitória foi comemorada como se fosse final de Copa do Mundo; só esqueceram de avisar quem perde. Esse dinheiro, que poderia ir para programa de transferência de renda, bolsa para estudante quebrado e investimentos em infraestrutura, foi gentilmente devolvido aos lobistas do sistema financeiro e do agronegócio. Porque, convenhamos, quem precisa de escola, hospital ou estrada funcionando quando é possível apostar no próprio futuro num site estrangeiro, sem pagar imposto e ainda ser chamado de “patriota” nas redes sociais?
Nunca foi tão claro: neste país, cada vez que o Parlamento diz não para tributar os tubarões, diz sim para cortar verbas de quem realmente precisa. O Brasil até pode ser campeão mundial de futebol, mas não de vergonha na cara. Enquanto isso, Nikolas, centrão e os “influencers” do orçamento vão celebrando em lives e stories, porque, para eles, o único investimento com retorno garantido é na desinformação coletiva. Palmas, deputados! O país agradece – literalmente, de bolso vazio e com emoji de palhaço na testa.

