O dilema do bonde é um dilema ético e moral que faz o seguinte exercício: suponha que há um bonde desgovernado, um operador em uma alavanca que mudará para dois trilhos; de um lado dos trilhos, há uma pessoa e do outro cinco pessoas. O dilema consiste em: o quanto vale a vida de um ser humano? É possível mensurá-la? Entendo que não. A vida não é mensurável, como preto no branco porque as pessoas possuem valor enquanto seres humanos. Explico, mas, antes, vamos ao utilitarismo, filosofia que embasa o dilema.
O utilitarismo é uma filosofia moral que surgiu com Jeremy Benhtam e John Stuart Mill. O utilitarismo de Stuart Mill pode ser condensado na frase “a maior felicidade para o maior número de pessoas”. O que ele quer dizer com isso é a maximização do prazer e a redução da dor. Seguindo um critério hedonista (não entenda no sentido vulgar do termo, mas o filosófico), busca a filosofia moral do utilitarismo a maximização do prazer (não importa como seja ele buscado) e a redução da dor na coletividade. Desse modo, se formos novamente ao dilema do bonde, para o utilitarismo a maior maximização de felicidade seria a sobrevivência de cinco pessoas em detrimento de uma.
Porém, o utilitarismo peca ao tentar mensurar o valor de uma pessoa. Segundo o filósofo Immanuel Kant, o ser humano possui um valor intrínseco enquanto tal, resumido na frase “coisas têm preço, pessoas têm valor”. O que pode ser mensurado são as coisas, mas não pessoas e, por isso, estas possuem valor. Desse modo, o dilema do bonde parte de uma visão utilitarista do valor das pessoas. Contudo, a vida humana não pode ser mensurada em termos quantitativos, estando ela além da métrica.
Portanto, o dilema do bonde é uma redução do ser humano a termos quantitativos, mas o que é desconsiderado é o valor intrínseco que cada ser humano possui enquanto tal, possuidor de sentimentos, sonhos, angústias, razão e necessidades materiais, espirituais e fisiológicas, parafraseando Daniel Sarmento em sua obra “Dignidade da Pessoa Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia”.
Autor:
Erick Labanca Garcia
Graduando em Direito do 5° Período UNIFAGOC, estagiou no Procon, estagiário da DPMG, escritor de artigos de opinião, ensaios e artigos científicos da área jurídica.