Qual o Principal Conteúdo da Teoria Espiral do Silêncio? Em Que se Baseia a Teoria Estruturalista do Jornalismo? Quais São as Ideias Básicas da Hipótese do Agendamento?
1. Teoria Espiral do Silêncio
Trata-se de uma teoria da Ciência Política e Comunicação de Massa proposta pela cientista Elisabeth Noelle-Neumann, segundo a qual há uma ideia de espiral que explicita a dimensão cíclica e progressiva dessa tendência ao silêncio. Quanto mais minoritária a opinião dentro de um universo social, maior será a tendência de que ela não seja manifestada.
Quando os meios de comunicação, diante de um escândalo político, impõem uma imagem desfavorável de seu protagonista, essa opinião será dominante no universo social que eles atingem. Apesar de haver vozes minoritárias discordantes, haverá uma tendência de que elas se calem. E, quando parte desse grupo se cala, a opinião discordante, que já era minoria, se torna ainda mais minoritária, e a tendência ao silêncio é ainda maior.
História
Estudos sobre a Espiral do Silêncio começaram na década de 60, quando essa teoria foi proposta especificamente a partir das pesquisas da alemã Elisabeth Noelle-Neumann sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa. Na Alemanha, entre 1965 e 1972, durante as campanhas eleitorais Noelle-Neumann percebeu uma súbita mudança de opinião, dos eleitores, na reta final do processo de eleição. De acordo com seus estudos, ao mudar de opinião, os eleitores buscavam se aproximar das opiniões que julgavam dominantes.
A ideia central desta teoria situa-se na possibilidade de que os agentes sociais possam ser isolados de seus grupos de convívio caso expressem publicamente opiniões diferentes daquelas que o grupo considere como opiniões dominantes. Isso significa dizer que o isolamento das pessoas, de afastamento do convívio social, acaba sendo a mola mestra que aciona o mecanismo do fenômeno da opinião pública, já que os agentes sociais têm aguda percepção do clima de opinião. E é esta alternância cíclica e progressiva que Noelle-Neumann chamou de Espiral do Silêncio (LAGE, 1998, p. 16).
Existe uma tendência de acompanhar a opinião da maioria das pessoas, talvez por medo do fator isolamento, isto pelo fato de, em geral, a sociedade exigir uma certa conformidade com o tema em discussão. Este cenário tem a finalidade de manter-se um mínimo de unidade para garantir coerência. A Teoria da Espiral do Silêncio procura explicar a influência da opinião pública nas opiniões de cada indivíduo.
Os estudos desta teoria começaram na década de 60, com base nas pesquisas sobre efeitos dos meios de comunicação em massa e foram elaborados pela socióloga e cientista política alemã Elizabeth Noelle-Neuman. O conceito da Teoria do Espiral do Silêncio surgiu pela primeira vez em 1972, em um congresso internacional de psicologia, em Tóquio, com a participação da alemã Noelle Neuman. Todavia, somente em 1984 a teoria foi publicada em forma de livro “Espiral do Silêncio”.
Como entender a Teoria da Espiral do Silêncio de forma simples? Basicamente quando uma opinião individual difere da maioria ou do pensamento coletivo, pode ocorrer uma reação de isolamento social do indivíduo, em que as pessoas alteram a sua forma de pensar ou são silenciadas. A pesquisadora Noelle-Neuman dizia que as pessoas optavam pelo silêncio, por causa do medo da solidão social.
Jornalista e docente, Vânia Coelho conta em seu blog que a alemã acreditava que esse medo se propaga em espiral e pode esconder desejos de mudanças presentes na maioria silenciosa, por isto o nome, Espiral do Silêncio. Ou seja, a Espiral do Silêncio tenta entender a sociedade que é silenciada diariamente e acaba sendo influenciada pelos hábitos baseados no senso da maioria ou pela imaginação do que estes poderiam dizer.
“O resultado é um processo em espiral que incita os indivíduos a perceber as mudanças de opinião e a segui-las até que uma opinião se estabelece como atitude prevalecente, enquanto as outras opiniões são rejeitadas ou evitadas por todos, à exceção dos duros de espírito”, argumenta Noelle-Neuman, que conta em seu livro que propôs o termo Espiral do Silêncio para descrever este mecanismo psicológico.
Para entender melhor como funciona a Espiral do Silêncio, é preciso conhecer os três mecanismos descritos por Noelle-Neuman pelos quais a teoria influencia a mídia sobre o público: A) Acumulação: excesso de exposição de determinados temas na mídia; B) Consonância: forma semelhante como as notícias são produzidas e veiculadas; C) 3) Ubiqüidade: presença da mídia em todos os lugares.
Portanto, pode-se dizer que a mesma mídia que diz publicar o que é de opinião pública, é aquela que é indiferente à população quando esta precisa. A Teoria do Espiral do Silêncio ajuda a entender como a mídia funciona em relação à opinião pública e silencia suas ideias.
2) Teoria Estruturalista
Inovações metodológicas e novas interrogações foram fatores responsáveis pelo surgimento das Teorias Estruturalista e Interacionista, a partir dos anos 60 e 70. Traquina argumenta que as duas teorias são complementares, mas divergem em alguns pontos. É preciso lembrar que essas duas teorias tiveram como base a Teoria Construcionista. As duas teorias têm em comum a crença de que a notícia é resultado de processos complexos de interação social entre agentes sociais: “os jornalistas e fontes de informação; os jornalistas e a sociedade; os membros da comunidade profissional, dentro e fora da sua organização”, argumenta Traquina.
Todas as argumentações apresentadas pelas outras teorias, como por exemplo, de que o jornalista sozinho decidia o que seria notícia ou não ou que a responsabilidade era só da organização, são criticadas por estas teorias, mas não são ignoradas, pois são complementares. Os teóricos dessas teorias acreditam que as interações sociais são complexas. Traquina diz que é importante a identidade das fontes de informação e é preciso refletir sobre as consequências sociais resultantes dos processos e procedimentos utilizados pelos jornalistas.
Traquina explica que Stuart Hall e outros autores defendem que as notícias são um produto social resultante de vários fatores: a organização burocrática da mídia; a estrutura dos valores notícia, a prática e a ideologia profissional dos jornalistas; o próprio momento de construção da notícia – identificação e contextualização. Ambas teorias são Construcionista e ressaltam a importância de se analisar o jornalista como um construtor da realidade, não somente um reprodutor. Entender este conceito é fundamental para reforçar a importância do jornalista e do jornalismo, pois deixa de relacionar este campo profissional somente à técnica.
Sem os devidos conhecimentos e capacidades de reflexão e análise, o jornalista torna-se um reprodutor, parte de um processo que poderia ser substituída e automatizada. Ser jornalista é muito mais do que relatar, é construir, contextualizar, vivenciar. As influências das teorias não estão somente na construção das notícias, mas em como as pessoas as recebem.
Os jornalistas, por mais que tentem buscar a neutralidade, acabam incluindo suas ideologias e experiências nas notícias, que podem influenciar o receptor desprovido de uma leitura mais crítica. Atualmente, os veículos e as próprias instituições de ensino do jornalismo utilizam-se do pretexto de neutralidade e objetividade no jornalismo, mas basta analisar dois veículos diferentes e os diferentes enfoques ou construções dados à notícia podem ser observados, ou seja, existe subjetividade no jornalismo, por mais que esta tente ser camuflada ou ignorada.
Conforme a filósofa Marilena Chaui, um dos princípios da Teoria Estruturalista aplicada ao Jornalismo – a reprodução de uma ideologia dominante – implica em um “mascaramento da realidade social que permite a legitimação da exploração e da dominação”. Ou seja, o falso pode tornar-se verdadeiro e o injusto por justo. Os contrários à ideologia dominante são minorias, portanto muitas vezes, o jornalismo mesmo sendo uma construção da realidade, não constrói necessariamente a realidade da sociedade.
Construir notícias implica em uma proximidade entre jornalista e sociedade, caso contrário este estará construindo algo que difere da maioria da população e certamente não é uma realidade. Os conceitos apresentados por essas duas teorias são interessantes, pois admitem a influência do jornalista na produção das notícias. Contrárias à visão instrumental do jornalismo, as teorias reforçam que o jornalista é um ser dotado de opiniões e experiências que podem fazer parte das notícias, um jornalismo mais humano e menos técnico. A técnica pode ser aprendida, mas a essência é o que diferencia e faz parte de cada indivíduo, algo que nem mesmo as máquinas poderão substituir um dia.
3) Teoria do Agendamento
Trata-se de uma teoria de Comunicação formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970. De acordo com este pensamento, a mídia determina a pauta (em inglês, agenda) para a opinião pública ao destacar determinados temas e preterir, ofuscar ou ignorar outros tantos. As ideias básicas da Hipótese do Agendamento podem ser atribuídas ao trabalho de Walter Lippmann, um proeminente jornalista estadunidense.
Ainda em 1922, Lippmann propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamente aos fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo ambiente composto pelas “imagens em nossas cabeças”. A mídia teria papel importante no fornecimento e geração destas imagens e na configuração deste pseudo ambiente.
A premissa básica da teoria em sua forma moderna, entretanto, foi formulada originalmente por Bernard Cohen em 1963: “Na maior parte do tempo, [a imprensa] pode não ter êxito em dizer aos leitores como pensar, mas é espantosamente exitosa em dizer aos leitores sobre o que pensar”. Ao estudarem a forma como os veículos de comunicação cobriam campanhas políticas e eleitorais, Shaw e McCombs constataram que o principal efeito da imprensa é pautar os assuntos da esfera pública, dizendo às pessoas não “como pensar”, mas “em que pensar”. Geralmente se refere ao agendamento como uma função da mídia e não como teoria (McCombs & Shaw, 1972).
Contexto e Fundamentos
A teoria explica a correspondência entre a intensidade de cobertura de um fato pela mídia e a relevância desse fato para o público. Demonstrou-se que esta correspondência ocorre repetidamente. Acredita-se que o agendamento ocorra porque a imprensa deve ser seletiva ao noticiar os fatos. Profissionais de notícias atuam como gatekeepers (porteiros) da informação, deixando passar algumas e barrando outras, na medida em que escolhem o que noticiar e o que ignorar. O que o público sabe e com o que se importa em dado momento é, em grande parte, um produto do gatekeeping midiático. A função de agendamento é um processo de três (3) níveis:
- Media Agenda (Agenda Midiática) – questões discutidas na mídia
- Public Agenda (Agenda Pública ou da Sociedade Civil) – questões discutidas e pessoalmente relevantes para o público
- Policy Agenda (Agenda de Políticas Públicas) – questões que gestores públicos consideram importantes.
Um dos debates entre pesquisadores são as questões de causalidade: é a agenda midiática que pauta a agenda da sociedade, ou o contrário? Iyengar e Kinder estabeleceram uma relação de causalidade com um estudo experimental no qual identificaram que o priming, a clareza da apresentação e a posição eram todos determinantes da importância dada a uma matéria de jornal. Entretanto, a questão de se há influência da agenda pública na agenda midiática continua aberta a questionamentos.
Conceitos Importantes
- Gatekeeping – controle sobre a seleção do conteúdo exercido pela mídia e pela imprensa.
- Priming – no agendamento, a ideia de que a mídia atrai atenção para alguns aspectos da vida política em detrimento de outros (Baran & Davis, 2000).
- Framing ou Enquadramento – apresentação de conteúdo de forma a orientar sua interpretação em certas linhas pré-determinadas.
- Time-lag ou Intervalo temporal – o período que decorre entre a cobertura informativa dos meios de comunicação de massa e a agenda do público (variável dependente).
REFERÊNCIAS
LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record,
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. Editora Contexto. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo Volume I: porque as notícias são como são. Editora UFSC.