Em meio ao caos das grandes cidades o caos. Aqui do primeiro andar tenho uma vista através da vidraça e posso ver alguns operários trabalhando em uma obra de frente. Pilhas de entulho lá embaixo.
Assim que chego pela manhã logo cedo tenho que passar por toda aquela bagunça e, me chamou atenção a quantidade de coisas jogadas fora. Sucata de computadores e pastas repletas de papéis, revistas e muitos livros, alguns em perfeito estado ainda, um crime!
Qual a história destes livros? Quem os idealizou? Alguém os gestou sabe-se lá por quanto tempo para lhe dar luz, som, formas, imagens…
Lembrei da minha infância pobre, o primeiro romance que li eu catei no lixo. Eu não tinha televisão e os livros que peguei no lixo coloriram a minha infância. Cada livro rasgado ou sem capa era um tesouro. Cortou-me o coração ver tantos livros jogados no lixo, livros que poderia estar construindo a cidadania de alguém, romances que poderiam estar sendo vividos.
Não há tecnologia que supere a grandeza de um bom livro, tampouco existe progresso sem livros. Foi dito por Leonardo Da Vinci que uma folha de papel escrita torna-se uma guardiã do pensamento humano. Quantas riquezas há naqueles livros, quantos segredos, quanto conhecimento que se finda na insensibilidade e na ignorância.
Há quem pense que o lixo não serve para nada mas o lixo também possui suas riquezas, quantas maravilhas podem ser achadas no lixo? Existem flores que brotam do lixo, do lixo vem Maria Carolina de Jesus e O Quarto de Despejo. No lixo tem comida, no lixo tem pão, o lixo é o ganha-pão de muitos.
Deveras que em meio ao caos da fome e da ignorância deveria-se considerar que pão e livro não deveriam ser jogados no lixo.
Autora:
Genilce Angelin