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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Mar vermelho:  Dilema da Galinha e canhoneiras de guerra

Os bombardeiros israelenses contínuos por mais de quatro meses, contro o povo de Gaza indefeso, causando  destruições, e chacinas sem precedente, das denúncias da comunidade internacional, motivo do processo de acusação no tribunal de justiça internacional por crimes humanitários, do desrespeito e da violação das regras de  guerra, algo que nunca tinha visto na história da guerra moderna, cometido por israel, suportado por Estados Unidos de modo desigual e imoral.

Tal situação levou os houthis do Iêmen a atacar os navios de Israel que atravessam o Mar Vermelho,  em favor dos palestinianos na luta pela sobrevivência; ameaçando assim o Mar Vermelho, considerado de grande importância estratégica, como a tábua de salvação da economia global.

Todos os anos, cerca de 12% das mercadorias transportadas por via marítima passam por estas águas, facilitando o transporte da maior parte do comércio entre Ásia e Europa.

Tal escalada das hostilidades no sul do Mar Vermelho foi consequência da guerra, onde o grupo Houthi do Iêmen, desde 19 de novembro de 2023, após apreender um navio transportador de carros, alertando quaisquer navios de origem Israelense, em solidariedade com os palestinianos de Gaza.

Nas semanas seguintes também assistimos a ataques de mísseis contra navios comerciais,  levando as principais companhias marítimas a redirecionar ou desviar seus navios em torno da África do Sul, provocando atrasos e aumentos de custos das mercadorias, transitadas entre Ásia e Europa.

 Em resposta, os Estados Unidos lançaram a “Operação Sentinela da Prosperidade”, patrulhas navais de dez países para defender navios mercantes, dadas ações militares contra ataques Houthi. Tal conflito intensificou-se cada vez mais, 11 de Janeiro 2024, quando as forças aéreas dos EUA e da Grã-Bretanha lançaram ataques contra instalações militares Houthis, em resposta aos ataques de navios no Mar Vermelho. Apesar disso, a comunidade internacional continua sendo dividida sobre as ações da coligação liderada pelos EUA, face aos Houthis, considerando-os como organização terrorista, 17 de janeiro de 2024,  provocando operações militares, mas sem se deixar intimidar dos ataques aéreos e sanções internacionais em curso.

 Diplomacia de canhoneira:

Ao analisar as dimensões da escalada da crise do Mar Vermelho após a Guerra de Gaza,  aponta-se algumas repercussões e abordagens alternativas de segurança.

Certamente, ninguém no sistema internacional de grandes ou médias potências quer fechar o Mar Vermelho, como tinha acontecido na sequência da guerra de 1967 entre os árabes e Israel. Um consenso internacional deve tomar parte para manter abertas as rotas marítimas no Mar Vermelho, uma vez que os efeitos indirectos do encerramento no comércio entre a Europa e a Ásia podem ser terríveis do ponto de vista económico.

 Tal dilema de segurança do Mar Vermelho não começou com a guerra de Gaza entre Israel e o Hamas, mas sim remonta a décadas, com a intensificação do interesse das grandes potências na região e o surgimento de diferentes abordagens de segurança, e a escalada das ameaças à segurança marítima na região.

A Operação Atalanta da UE, por exemplo, gere uma frota antipirataria composta por navios de guerra de 13 países europeus, além do Reino Unido, com a nau capitânia mantido após o Brexit,  operando com navios da Ucrânia, Índia, Coreia e Colômbia.

Após alguns anos, os líderes da frota chegaram a uma solução do problema da pirataria, sob a forma de diplomacia, atendendo aos conflitos da Somália, com uma ajuda económica no sentido de proporcionar meios de subsistência aos pescadores pobres. Tal passo foi na direção de paz,  2020, mantendo o Fórum do Mar Vermelho, com oito países costeiros, dos quais a Arábia Saudita, o Egito e a Jordânia, tudo é para fazer face a pirataria, ao contrabando e aos recursos marinhos, deixando do lado as questões políticas.

Abordagem alternativa:

Para manter abordagens baseadas sobre  aspectos militares e segurança, o Mar Vermelho leva em consideração e historicamente a zona como  ponte importante, e não como barreira, assim os povos de ambos lados podem compartilhar cultura, comércio e relações sociais. Como o Egipto que detém interesses há milhares de anos no Vale do Nilo e nas ambas margens do Mar Vermelho. Da mesma forma, que a Etiópia com interesse vital no acesso ao mar, e os estados árabes do Golfo e  Turquia, levando aos mesmos interesses históricos e comerciais.

De fato, estes aspectos históricos e estratégicos foram conjugados sob o lema da “Praça do Mar Vermelho”.

A ideia é de  criar um fórum diplomático, envolvendo não só os estados costeiros, mas também todos os países de interesses vitais com o Mar Vermelho e  Golfo de Aden, dados laços políticos e comerciais ao longo da estreita faixa de água. Além do plano de realizar uma conferência permanente dos países da região do Mar Vermelho nas propostas contidas no relatório da Fundação para a Paz Mundial, apresentado à União Africana intitulado “Política Africana, Paz e segurança” – onde o Presidente Thabo Mbeki, ex-Presidente da África do Sul, veterano diplomata das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi tem apoiado um processo de paz duradouro. Tal  ideia foi de manter  os países do Médio Oriente, como uns princípios da arquitectura de paz e segurança da União Africana, isso é graças aos mecanismos conjuntos de cooperação, da União Africana e das práticas e propostas, capaz de consagrar a diplomacia das canhoneiras nas abordagens internacionais, face ao dilema de segurança no Mar Vermelho.

As lutas pelo poder regional e internacional estão na arena do Mar Vermelho. Das quais os países, Estados Unidos, China e Turquia, disputam  bases navais nesta zona. A exemplo  do Irão e  Rússia, com navios de guerra nas proximidades, procurando activamente bases. Cujo porto de Eilat, no Golfo de Aqaba, um dos portos fundos e estratégicos para  Israel,  e diante dos ataques dos Houthi aos navios que o atravessaram.

Consequências da crise atual:

A crise do Mar Vermelho, objeto dos ataques Houthi aos  navios israelenses e comerciais, é motivo de preocupações da ONU, com consequências negativas tanto ao comércio global, à estabilidade regional e à economia internacional.

Alguns pontos, os mais importantes a destacar:

1. Comércio internacional do Mar Vermelho em termos do trânsito global, envolve um  rota marítima vital, mas ao mesmo tempo perturbado devido aos ataques Houthi, provocando atrasos, reencaminhamentos e aumento de custos das companhias marítimas e aos consumidores.

Tais companhias marítimas, são a Maersk e a Hapag-Lloyd, as quais suspenderam temporariamente os serviços no Mar Vermelho, afetando aproximadamente 12% do comércio global. Devido ao reencaminhamento dos envios em torno do Cabo da Boa Esperança, além das viagens passaram de cerca de 3.000 a 3.500 milhas náuticas (6.000 km),  aumentando os custos de transporte.

2. Impacto económico: tal crise perturbou o fluxo de mercadorias e combustíveis, o aumento dos custos para grandes empresas, tanto da britânica Petroleum Oil and Gas (BP), e OOCL, com sede em Hong Kong, e da holandesa Maersk,  francesa CMA CGM ou ainda da ítalo-suíça Mediterranean Shipping Company (MSC).

Tal reencaminhamento de navios provocou um aumento dos custos de seguro, e globalmente dos envios,  1 milhão de dólares em combustível adicional por cada viagem de ida e volta entre Ásia e Europa.

O Banco Mundial estima que a crise pode reduzir o PIB global de 0,5% em 2024 e a inflação em alta global de mais 0,7%.

3. Preocupações relativas à segurança e estabilidade: A crise atual reflete tensões e conflitos mais amplos no Oriente Médio e no Norte de África, cujos múltiplos actores, Israel, Irã,  Arábia Saudita, Estados Unidos,  União Europeia e Nações Unidas.

Esta escalada do conflito só pode levar a uma guerra regional mais ampla, cujas consequências são devastadoras para o ser humano, o ambiente e a economia global. Certamente, os ataques Houthi e a  guerra declarada por  Israel  vai acentuar as preocupações de uma 3 guerra mundial, dada a incapacidade, a fraqueza de assegurar  a segurança regional, continental e mundial.

4. Situação humanitária e ambiental: a crise agravada cada vez mais, difícil na região, face às populações vulneráveis ​​e marginalizadas. Porque os ataques a navios comerciais e escalada das tensões só podem  dificultar os esforços de ajuda humanitária, exacerbando o sofrimento das comunidades. Uma vez que os ataques Houthi constituem uma séria ameaça ao ambiente marinho e à biodiversidade no Mar Vermelho. Porque a utilização de mísseis, drones, minas e barcos, atacando navios de petróleo, o que pode provocar  riscos ambientais, e contra a vida marinha e equilíbrio de ecossistemas.

Tal dilema geopolítico da galinha, sinónimo da atual crise no sul do Mar Vermelho, dada dinâmica geopolítica no Médio Oriente, e do contexto do Irã que apoia o movimento Houthi do Iêmen e Hamas em Gaza. Traduzindo o envolvimento iraniano na região, diante da assistência militar, do nível da escalada e prolongamento dos conflitos. Apesar da resposta da comunidade internacional e da coligação dos EUA, sobre a importância das rotas marítimas no Mar Vermelho.

Este envolvimento dos EUA no conflito do Oriente Médio continua a influenciar a posição, face à guerra na Ucrânia, a situação delicada do Taiwan e oposição do Irã, tais factos são uma forma de compor o jogo geopolítico do frango com os Estados Unidos. Cada vez mais os Estados Unidos mantidos isolados, sem  muitas opções para agir. Mantendo a guerra em Gaza sem um ponto final podendo transformar-se-á numa guerra regional com repercussões internacionais.

Tal é a opção que Irã tenta impor, razão pela qual os Estados Unidos pressionam Israel para reduzir o ritmo das suas operações militares em Gaza.

Tal “jogo da galinha”, estilo ensinada na escola, dada posição pela qual participam as duas partes, face às atitudes de risco, da procura de sobreviver em detrimento de outro  ou desistir. Trata-se de um jogo entre duas partes, onde nenhuma das quais quer ser a primeira a recuar por medo de sentir vergonha. Foi nos cenários,  resultados prejudiciais para ambas as partes se nenhuma delas decidir acabar ou render-se.

Finalmente, pode-se dizer, que no curto prazo, depois dos Estados Unidos  reclassificarem os Houthis como grupo terrorista, 17 de Janeiro, existem poucas opções sobre a mesa. O apoio internacional à Operação Sentinela da Prosperidade não ganhou força entre os aliados, os Estados Unidos parecem optando por tomar medidas indiretas para limitar a futura escalada Houthi.

Se os Estados Unidos querem evitar a escalada, da crise do Mar Vermelho, eles têm que responder às questões, da agenda Houthi, buscando a eficácia nas estratégias de dissuasão,  a diminuição de influência dos Estados Unidos, a militarização do Mar Vermelho , diante da guerra em Gaza,  fatores esses só podem retirar a sombra, sobre os esforços de paz futuros, a segurança do Mar Vermelho, a experiência para combater a pirataria, a abordagem das preocupações políticas e a fronteira dos interesses estratégicos. Abandonando assim a abordagem das canhoneiras e  adoção de alternativas de segurança e paz sustentável, sob o lema da “zona do Mar Vermelho”.

Autor:

Lahcen EL MOUTAQi

Professor universitário e pesquisador sobre assuntos da América Latina, Rabat, Marrocos

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