A rotina diária associada ao estresse cotidiano enfrentado no trânsito – ou trabalho – e as pressões diversas a que somos submetidos, muitas vezes faz com que nos sintamos com pouco ânimo e muito cansaço. A boa notícia é que é possível contornar essa situação e voltar a focar em seus próprios objetivos pessoais e profissionais, dando um novo pique ao seu dia a dia, com algumas técnicas de automotivação.
1. EXPRESSAR EMPATIA
Aceitar a postura do indivíduo desmotivado e tentar entendê-lo, sem julgamento. Sobre “acolher o paciente”, alguns estudiosos definiram como sendo uma ‘escuta técnica reflexiva’ (reflective listening) que clarifica e amplia a experiência pessoal do paciente, sem impor a opinião pessoal do terapeuta.
Daí pode-se dizer que expressar empatia implica em solidariedade emocional tentando compreender os seus pensamentos, emoções e colocar-se no lugar do paciente. A resposta empática é uma competência adquirida na qual o profissional terapeuta é treinado para compreender e aceitar o que o outro é. Ao mesmo tempo, há um componente diretivo, que é o de auxiliar o paciente a lidar com sua ambivalência consequentemente, possibilitar mudança
2. DESENVOLVER DISCREPÂNCIA
Entre o atual comportamento do paciente (por exemplo, o sedentarismo) e os objetivos mais amplos (controlar os níveis pressóricos, perder peso e aumentar a resistência física). É muito importante que o paciente tenha consciência das consequências de sua conduta, perceba a diferença entre o comportamento atual e os objetivos futuros.
OBSERVAÇÃO: Trabalhar a emoção gerada pelo desconforto da dúvida e/ou de conflito é o maior motor para a mudança.
3. EVITAR DISCUSSÕES
Evite discutir e de bater com o paciente sobre a conveniência ou a utilidade de uma mudança, porque isso pode criar resistência.
4. FLUIR COM A RESISTÊNCIA
Devemos reconhecer o momento do paciente e saber usá-lo, ao invés de irmos contra ele. Existem diversas estratégias para lidar com a resistência:
- Reflexão Simples: Constatar que o paciente discorda ou que ele sente algo. Permite explorar melhor a situação ao invés de aumentar as defesas.
- Reflexão Amplificada: A ideia seria devolver ao paciente o que ele disse de uma forma amplificada ou mesmo exagerada.
- Reflexão de Dois Lados (Double-Sided): Uma abordagem baseada na escuta crítica é constatar o que o paciente diz e acrescentar a isto, o outro lado da ambivalência do paciente, utilizando material fornecido anteriormente.
- Mudar o foco de atenção do paciente de algo que parece uma barreira para sua evolução.
- Concordar, mas com uma mudança sutil de direção.
- Enfatizar escolha e controle pessoal.
- Estar sempre assegurando à pessoa que, no fim das contas, quem tem a última palavra é o paciente.
- Reinterpretar: Colocar os comentários do paciente em um outro contexto ou mesmo dar-lhe outra interpretação, alterando o sentido.
- Paradoxo terapêutico: É como dizer ao paciente: “OK talvez seja melhor”.
5. ESTIMULAR AUTO EFICÁCIA
Apoiar e reforçar o sentimento de auto eficácia. Acreditar na possibilidade de mudança é um importante fator motivacional porque tem uma grande influência sobre a capacidade de iniciar um novo comportamento e mantê-lo.
Mas, Por Que uma Nova Técnica?
Até há pouco tempo, a forma encontrada para lidar com a falta de motivação era através daquelas abordagens chamadas ‘de confronto’. O que está por trás das estratégias confrontativas é que os dependentes de alguma droga teriam um sintoma como parte de seu caráter, possuiriam um altíssimo nível de mecanismos de defesa, que os impediriam de avaliar o que se passa com a sua relação com as drogas. Esta ideia parece ter derivado do pensamento de linha psicodinâmica que acredita na dependência como um traço dos transtornos de personalidade.
Ruth Fox defendia esta postura dizendo que ‘o alcoólatra cria um elaborado sistema de defesas em que ele nega ser alcoólatra e doente, racionaliza que ele precisa beber seja devido aos negócios, à saúde ou por razões sociais, e projeta a culpa pelo problema que tem’. A resposta terapêutica a este sintoma seria uma espécie de ‘render-se’, ‘aceitar a falta de poder’ e mesmo ‘redução do ego’.
Estratégias de confronto são muito usadas em modelos de tratamento baseados nos 12 passos dos AA (alcoólatras anônimos) como no “Modelo Minnesota”. Porém, não há prova nos escritos dos AA e nem mesmo em décadas de pesquisa psicológica, de que exista uma ‘personalidade dependente’, além do fato de que assumir-se dependente não está associado ao sucesso do tratamento e às vezes negativamente relacionado à melhora. Então, a hipótese da negação se tomaria um mito. O que o paciente traz sim, é muita ambivalência.
Em um outro vértice clínico, adotou-se a prática de ‘aconselhamento’ (giving advice), o que muitas vezes também não é efetivo, já que se toma prematuro aconselhar alguém a mudar um comportamento ao qual a pessoa não está certa de querer mudar. Ambas as abordagens, tanto a de confronto como a de ‘aconselhamento’, como não levam em conta o grau de ambivalência do paciente e sua prontidão para mudança, acabam estimulando uma postura de resistência para o tratamento.
Criou-se um método terapêutico chamado Automotivação, técnica esta proposta durante a década de 80. Nesta abordagem, a motivação é encarada desta forma mais dinâmica, não estática e influenciável por fatores externos, tais como o terapeuta. A ideia é que já que como o paciente dependente fica pouco no tratamento, é preciso fazer uma intervenção rápida.
E, porque os dependentes têm como característica a busca da gratificação imediata às custas do mal duradouro, e porque a dependência é uma condição crônica de recaída, o principal objetivo do tratamento seria propiciar condições de mudança. De certa forma, a abordagem da Automotivação usa a confrontação como um objetivo (a ideia é que o paciente veja e aceite seu problema durante a terapia e dessa forma possa mudar) e não como um estilo terapêutico.
Técnicas de Apoio Narrativo
Carl Rogers alegou que uma relação interpessoal centrada no paciente, oferece a atmosfera ideal para a mudança, permitindo uma sensação de ambiente seguro e causando grande impacto nos resultados clínicos e de satisfação. Existem técnicas que ajudam o paciente a sentir-se aceito e entendido:
- Questões Abertas: São aquelas que não podem ser respondidas com apenas uma ou duas palavras, por oposição a questões fechadas, por exemplo. “Como este problema afeta sua vida? ” ou “Quais aspectos da sua saúde que mais te preocupam?” Essas perguntas permitem e incentivam o paciente a explicar-se aumentando assim a sua percepção do problema, já que quando uma pessoa fala, ela elabora informações e emoções associadas como que está dizendo.
- Escuta Reflexiva: É uma das habilidades fundamentais. Trata-se de averiguar o que quer dizer o paciente e “devolver” sua fala por meio de afirmações que podem ser de cinco tipos:
– Repetição de uma palavra dita pelo paciente e que achamos que é importante;
– Refrasear: é como o anterior, mas mudando uma palavra por um ou alterando um pouco o que foi dito;
– Parafraseando: aqui se reflete o dito com novas palavras quando o profissional intui o significado do que foi falado pelo paciente;
– Apontamento emocional: é a forma mais profunda de reflexão são frases que revelam sentimentos ou emoções: “Te percebo um pouco triste” ou “Parece que este assunto te emociona.”
– Silêncios: utilizados de forma adequada, causam um potente efeito reflexivo no paciente. De forma não-verbal estamos indicando que o entendemos e aceitamos. Permite também um momento crucial de auto-observação sobre o que disse e sente.
- Reestruturação Positiva: Significa reforçar afirmativamente e apoiar o paciente destacando seus aspectos positivos por meio de frases de compreensão, reabilitando a sua autoestima e auto eficácia.
- Resumir: Tentando destacar do que foi dito pelo paciente, o que achamos que é mais crucial.
- Afirmações de Automotivação: Incentivar mediante questões em diferentes aspectos:
– Reconhecimento do problema;
– Manifestação de preocupação;
– Intenção de mudança;
– Otimismo para a mudança.
- Ambivalência: Conceito que remete para os termos ou enunciados que tenham sentidos opostos, sendo ambos válidos. Trata-se de uma forma particular de ambiguidade. O termo foi proposto pelo psicanalista Eugen Bleuler (Vortraguber Ambivalenz, 1910) e foi depois redefinido por Freud. Está ligado na origem às atitudes e comportamentos humanos. Ocorre na atribuição de sentimentos opostos ao mesmo indivíduo.
Casos comuns são os da ambivalência da aceitação e da rejeição, do amor e do ódio pela mesma pessoa. A ambivalência pode ser compreendida na relação entre os foros literário e psicológico: assim o caso de Mário de Sá Carneiro na situação intersubjetiva de Eu Próprio o Outro ou o caso de Álvaro de Campos, que encontramos com frequência em situações ambivalentes.
De um ponto de vista estritamente literário, a ambivalência pode funcionar como uma figura de retórica, como nesta abertura do Sermão da Sexagésima, de António Vieira: “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra”, em que o vocativo ambivalente “Vós” tanto se refere aos Pregadores de Cristo como, implicitamente, aos interlocutores de Vieira no momento em que o sermão é pronunciado, neste caso, os religiosos do Maranhão.
REFERÊNCIAS
Dunn, Deroo & Rivara, 2001 (“The use of brief interventions adapted from motivational interviewing across behavioral domains: A systematic review”: Reply. Addiction, 96(12), 1774–1775)
Dunnetal., 2001 (The sensations of everyday life: Empirical, theoretical, and pragmatic considerations. )
Hettema Steele & Miller, 2005 (Motivational Interviewing Annual Review of Clinical Psychology Vol. 1:91-111 )
Miller e Rollnick (1991) (Motivational interviewing: Preparing people to change addictive behavior. The Guilford Press.)
Noonan & Moyers, 1997 (Motivational interviewing. https://doi.org/10.3109/14659899709084610)