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quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Esse ano tive a oportunidade de fazer o Exame Nacional do Ensino Médio pela primeira vez. Entretanto, minha experiência singular, além de maçante e humilhante, não representa todo o terror que os jovens brasileiros enfrentaram nesses dois domingos. Assim, acompanhem agora a história de Humberto, um paraense que tenta passar em uma federal há dois anos, mas sempre se atrasa.
Humberto é munícipe de Altamira, mas todos os anos é alocado pelo INEP para fazer prova em São Félix do Xingu, que fica a 43 km de sua casa. Esse ano, entretanto, Humberto resolveu viajar com três dias de antecedência para que não se atrase novamente. Como sua jornada por rio é muito grande, ele leva feijão-tropeiro e arroz de carreteiro, tanto para comer quanto para se aproximar dos espíritos de antigos desbravadores portugueses.
Ainda que tivesse se planejado, chegou no local de prova faltando apenas 1 minuto para o fechamento dos portões. Após a entrega das provas, Humberto sente o peso do caderno de questões e repensa mais uma vez se vale a pena se propor a essa humilhação. Ainda que decida que não, não poderá deixar a sala antes de esperar duas horas, então se contenta em fazer a prova.

É o primeiro domingo. Prova de Linguagens, Ciências Humanas e a redação. Tudo começa bem tranquilamente. Os textos são fáceis, as alternativas são óbvias. Até que se depara com um texto de um gato inconfidente? Não, não pode ser, eu li errado. “UM GATO INCONFIDENTE?” pensou Humberto. Nesse momento, sua prova acabou. Ainda restam 4 horas, claramente, mas ele já está tão cansado que de nada adianta. Fez o resto da prova de Linguagens, começou e terminou a de Ciências Humanas e escreveu uma redação tentando extrair o máximo dos textos “motivadores”. Deixou a escola às 7:00 em ponto e partiu de volta ao Rio Xingu.
No meio de sua viagem para casa, no entanto, o tempo que lhe restava para a próxima prova era o mesmo que o tempo de viagem, forçando-o a dar meia volta. No segundo dia veio mais preparado. Trazia consigo energéticos, havia se alimentado bem e possuía uma estratégia: fazer primeiro as fáceis e depois as difíceis. Mal sabia ele que não havia nenhuma questão fácil. Em menos de meia hora de prova, Humberto descobriu que só há uma coisa pior que ficar sozinho com sua própria mente: ficar sozinho com números. E assim teve fim a segunda prova, e Humberto retornou à Altamira mais humilhado do que nunca e, assim como eu, com os sonhos e a mente destruídos.

Leonardo Resende Costa
Leonardo Resende Costa
Estudante, desocupado, cronista e Redator da Halo Project Brasil. Sobretudo, um amador.

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