Decifrado o enigma, procuro o lugar mais alto na figura e subo para observá-la por completo, pode ser uma árvore, a janela de um prédio, o telhado de uma construção. Ela brilha reluzente, como se sorrisse para mim, eu retribuo o sorriso, com o peito estufado de orgulho. Pandora estende a mão para me tirar daquele lugar, que agora não é mais um labirinto.
Mas outro dilema se instala – colo tudo para emoldurar, ou desmonto e guardo tudo de volta na caixa? Passo as mãos pela figura só pela sensação boa de sentir todas as peças em seu lugar. A satisfação de ver o quadro na parede vai muito além da simples decoração do ambiente, quando chega visita em casa e ela repara nos quadros, logo comenta e o diálogo se inicia:
– Quadros bonitos você tem aqui, onde comprou?
– Não são apenas figuras, são quebra cabeça, eu montei todos eles.
– Tá brincando comigo! e chega mais perto para ver as peças; É mesmo! Olha, que legal! Eu esboço logo aquele sorriso largo de adolescente que teve uma grande conquista reconhecida.
– Olha esse mapa! Deve ter sido difícil de montar. Quantas peças?
– 3000 peças.
– O que! Quanto tempo?
– Seis meses.
– Deve ter sido difícil?
– É, foi um pouco, mas depois que pega o jeito… Esse outro aqui foi mais difícil – e mostro uma pintura com uma boa parte de céu no desenho – mas aqui eu descobri um padrão de repetição, aí ficou menos difícil.
– Tem que ter muita paciência.
– Tem sim. Excelente exercício para treinar a paciência, a concentração e a atenção.
– De volta à mesa com o quebra cabeça, decido emoldurar mais uma conquista e começo a espalhar cola sobre a figura, para juntar todas as peças.
Pandora faz um último comentário:
– Vejo você no próximo enigma.
– Próximo!
Autor:
Lufa