A megalomania gráfica de Lars von Trier em “Anticristo” – Erich Ruy Erzinger Alves

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Anticristo consolida ainda mais a ideia de que o Lars von Trier é o Christopher Nolan do cinema artístico. 
Ao extrapolar o uso de um determinado elemento do qual tem certeza que sabe fazer muito bem, acaba deixando de lado todo o resto do filme. Isso acontece com von Trier no que se refere à sua habilidade de criar atmosferas incrivelmente belas que geram a falsa ideia de que sua direção é magnífica (em especial nas cenas iniciais e finais de seus filmes mais recentes, como Melancholia e o próprio Anticristo), e no caso de Nolan isso ocorre no momento em que existe a oportunidade de criar algo que eleve sua imagem à um nível visionário, com algo supostamente inovador e revolucionário para o cinema, externando ainda mais sua megalomania. Difícil dizer qual dos dois reflete mais esse sentimento megalomaníaco que almeja a posição de “diretor visionário”. 

É nítido um grande exagero por parte do diretor em quase toda implementação de algo minimamente gráfico em tela. A ideia de desenvolver de forma explícita um terror psicossexual é muito boa, mas acaba se perdendo na vontade insaciável de von Trier de ser cada vez mais “polêmico”. Dessa forma, toda a sexualidade envolvida no filme é usada de forma descabida, deixando a impressão de que a intenção de chocar é maior do que a de sintetizar a emoção carnal ao enredo. (Um exemplo de thriller psicossexual que se destaca dentro do subgênero é De Olhos Bem Fechados de Stanley Kubrick, que concilia de forma magistral todos os elementos sexuais com a narrativa.)

Anticristo é um filme que consegue fortificar o estereótipo de filme artístico de festival que preza mais pela beleza estética do que pelo conjunto total de uma obra. Lars von Trier expõe toda sua megalomania e sua vontade de ser polêmico em um filme que, se não fosse pela sua excentricidade gráfica e pelas suas atuações admiráveis, não teria muito do renome que – supostamente – tem.

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Além disso, para finalizar com chave de ouro essa imensa masturbação artística do ego de Lars von Trier, nos créditos finais é destacada uma dedicatória para o diretor russo Andrei Tarkovski. Admito que tentei ser o mais empático possível com von Trier quando me deparei com essa dedicatória nos créditos. Mas, inevitavelmente, veio-me a mente o pensamento: “O que diabos Tarkovski diria ao ver esse filme?”

1 COMENTÁRIO

  1. Ele diria: ‘referenciou errado, de doido já basta o tal do Hamlet lá’.”

    Sua análise do filme “Anticristo” é interessante. O filme é conhecido por sua natureza excêntrica e megalomaníaca, contendo cenas desnecessárias. Olhando de outra perspectiva, pode-se argumentar que todos os personagens estão loucos devido à dor da morte, que é algo inexplicável racionalmente. A ideia de que o anticristo existe devido à ausência da moralidade cristã é parte da megalomania presente no filme. A morte de Deus é simbolizada pela figura da criança, e os pais entram em uma espiral que se assemelha aos círculos do inferno dantesco, com várias alegorias. O filme apresenta uma estética suja, pornográfica e ao mesmo tempo bela. Entre Nietzsche e Dante, há apenas uma conclusão: Deus está morto, e estamos enlouquecendo com a sua partida.

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