Quando procuramos no dicionário a palavra ‘sufoco’ encontramos a seguinte definição:

Não sei. Não acredito que existam palavras dentre os inúmeros idiomas conhecidos pelo homem que expliquem o sufoco. A sensação física de não-respirar-e-quase-vomitar. O sentimento de aperto-no-peito (e de qualquer ordem, conforme o dicionário). Mas aperto é sentimento? E o sufoco? É sentimento?
Não sei. Quando penso no ato de sufocar quase instantaneamente me vem a cabeça a cena de uma mão apertando o meu pescoço. Mas o sufoco em si não se parece com uma mão apertando o meu pescoço. Ou seria a minha própria mão apertando não o meu pescoço, mas o meu coração? Não sei.
Eu, em processo de terapia, constantemente tento explicar a sensação física e o desconforto sentimental – e mental – do sufoco. Meu terapeuta deixa minha imaginação ir além. Mas eu, ansiosa diagnosticada, findo as explicações e me contento com a certeza do diagnóstico. Sufoco e ansiedade, ora, são sinônimos? Não sei. Também não acho que definições léxicas e cognitivas deem conta de explicar o que de fato é o sufoco e a ansiedade. Talvez duas faces da mesma moeda? A mesma face? Não sei.
Respiro fundo uma. Duas. Três vezes. O aperto não parece menos apertado. A mão que aperta o coração parece tomar o estômago também pelos dedos. Respiro de novo. A dor física do sufoco atinge a cabeça que não para de pensar. Seria o sufoco um excesso de pensamentos? Não sei.
Se os pensamentos são próprios da cabeça e os sentimentos do coração, de onde é o sufoco? De que parte do corpo ele surge e para onde ele parte? De tudo? De nada? Seria o sufoco esse limbo entre ser tudo e ter nada? Ou ser nada e ter tudo? E o querer…? Ele também configura o sufoco. O sufoco é um excesso de querer-ter-ser-pressa-de-viver? Não sei.
Foge do meu ofício de geógrafa a definição de palavras e, muito menos, a elaboração de sentimentos. Eu, CID F41.1, apenas escrevo e sinto. Escrevo e sinto o suficiente para desanuviar a cabeça e diminuir o sufoco? Não sei. Só sei que relembrando Alcione, quem também tentou falar sobre sufoco em um grande samba, “não sei se vou aturar esses seus abusos, não sei se vou suportar os seus absurdos…”. No caso os meus constantes abusos e absurdos alimentam o meu sufoco. Ou desapertam os nós do meu peito em uma tentativa absurda de abusar de querer-ter-ser-pressa-de-viver.
Autora:
Samarane Barros