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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Filme: Vermelho, Branco e Sangue Azul: Um romance gay surpreendente que aborda a política

A imaginação está em alta nos romances homoafetivos do cinema e da televisão, criando realidades paralelas idílicas, onde o amor e o erotismo entre dois homens coexistem sem barreiras na sociedade. Após o sucesso de Heartstopper, que retrata um ambiente escolar com pouca homofobia, e Young Royals, uma série sueca sobre um príncipe adolescente que se envolve com um plebeu, chega Vermelho, Branco e Sangue Azul, um filme original da plataforma Amazon Prime Video que explora a crescente paixão entre Alex (interpretado por Taylor Zakhar Perez) e Henry (interpretado por Nicholas Galitzine) – respectivamente, filho da presidente americana e herdeiro da coroa britânica.

A história é baseada no livro homônimo escrito por Casey McQuiston, uma autora popular entre os jovens leitores online, numa linha semelhante à de Taylor Jenkins Reid e Jenny Han. A obra pertence ao subgênero “young adult”, que aborda tramas infantojuvenis com leveza nos temas sexuais, acompanhando a rivalidade inicial entre os protagonistas. Apesar de suas diferenças de altura e antipatia mútua, eles acabam arruinando acidentalmente um casamento real, desencadeando um escândalo midiático que precisam enfrentar juntos. À medida que enfrentam essa adversidade, vão passando de rivais para amigos e, eventualmente, namorados, seguindo a fórmula das clássicas comédias românticas juvenis.

Ao longo dos 112 minutos, o estreante diretor Matthew López tenta convencer o espectador de que tudo é apenas uma piada, algo bobo demais para ser levado a sério – mas, por trás da fachada, questões complexas se revelam. O filme se debate entre ser uma fantasia levemente erótica, liderada por atores atraentes, mas que carecem de profundidade, e uma obra politicamente relevante e representativa. O resultado são demonstrações superficiais de virtuosidade (afirmações genéricas sobre o poder feminino e referências deslocadas a autores e figuras como Shirley Chisholm), além de um sentimento patriótico exagerado de ambas as nações.

Nessa tentativa de dizer a coisa certa sem tocar em assuntos delicados, os personagens acabam se tornando rasos. Alex e Henry não apenas carecem de química romântica, mas seus monólogos sentimentais parecem ensaiados como uma apresentação escolar. Sem aderir a “estereótipos”, os protagonistas não parecem ir além de atores comuns interpretando papéis, vestindo-se como manequins e falando enquanto personagens secundários declaram seus gostos e personalidades de forma forçada, resultando em diálogos dolorosos como “tão gay quanto as primeiras 50 fileiras de um show de Lady Gaga”.

Essa falta de símbolos autênticos resulta em uma encenação desprovida de vida, destacando ainda mais a falta de cuidado visual. Nesse romance político, predominam cenários de papelão e jardins sem inspiração, pouco se esforçando para se assemelhar à Casa Branca ou ao Palácio de Buckingham. Nada em Vermelho, Branco e Sangue Azul parece ser bem pensado, e tudo perde o sentido. No meio dessa falta de significado, Uma Thurman – com seu sotaque sulista mais forte desde Até as Vaqueiras Ficam Tristes – e o icônico Stephen Fry trazem autenticidade e humor ao roteiro, mas não o suficiente. A cada vez que uma risada é provocada por algum absurdo na tela, seja nos comentários de Thurman sobre doenças sexualmente transmissíveis ou na forma como Fry pronuncia a palavra “homossexual”, somos inundados com monólogos superficiais e simplórios sobre a suposta coragem e urgência do texto.

Até mesmo nas cenas mais sensuais, há cortes bruscos e exagero sentimental. Para um filme que retrata estadistas apaixonados, Vermelho, Branco e Sangue Azul carece de ousadia e sensibilidade para o mundo em que se passa. Aqueles que buscam uma comédia romântica despretensiosa fica melhor com O Diário da Princesa 2 ou até mesmo Heartstopper; quem quer sensualidade pode a encontrar nos trabalhos de Gregg Araki ou James Ivory; e quem quer um filme “importante” e político pode se esbanjar no cânone do chamado “Novo Cinema Queer”. Sobra Vermelho, Branco e Sangue Azul a quem interessar o charme de telefilmes baratos.

Mariana Silva
Mariana Silva
Jornalista formada pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa, está no Poder360 desde 2020. No jornal digital, faz parte da equipe de internacional e participa de coberturas em Portugal, onde mora desde 2014, e na Europa. Também faz parte da equipe que produz o Drive, newsletter premium do Poder360. Antes, foi jornalista e editora no portal de notícias português Notícias ao Minuto por 4 anos. Ainda passou um semestre na Itália estudando temas como crítica de arte, literatura e cinema.

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