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“Acefalia acadêmica”

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Com pesar constato que não sou nem de ontem, nem de um futuro próximo e muito menos de agora… Não há, para mim, uma contemporaneidade, pois se agiganta a “acefalia acadêmica”, principalmente no campo das psicoterapias. Um novo fenômeno psicopatológico se desenvolve aceleradamente em nossos dias: uma grande quantidade de pessoas que deveriam ser atendidas adentram as escolas psicanalíticas e enfileiram-se em cadeiras de instituições do chamado “ensino superior”, tornando-se “cópias de teórico-clínicos”, se dedicando, mais e mais, à pratica do “cópia e cola”, matando em si mesmos a originalidade, a autonomia de pensamento e, consequentemente, fazendo adoecer a filosofia, o genuíno senso crítico, a capacidade analítica. São tempos difíceis…, em que atiram-lhe pedras se ousa questionar pressupostos de Freud, Lacan e outros. Se, com toda a reverência devida à Freud e outros, ponho-me a demonstrar, com extrema clareza, pautado nas mais atuais descobertas científicas, que não há um tal “Inconsciente”, mas sim, um “filtro neurofisiológico de dados”, um “filtro de memórias sensorio-linguísticas”, se demonstro que o que há é “níveis de gradação da consciência que nunca dorme”, algo como um “porão com a porta entreaberta, movendo-se ora para dentro, ora para fora, em diferentes graus, conforme a força do vento, fazendo, assim, que a luz entre, pouco a pouco, e que, pouco a pouco, se vá dissipando, gradações de luz e de escuridão que se alternam no mesmo recinto, revelando ou ocultando, ora mais, ora menos, os objetos que nele há”, o que me acontece? Sou visto como um tipo de herége pela “multidão de acéfalos que atiram-me pedras…”. Poderíamos utilizar, ainda, outra metáfora sobre a consciência humana: a consciência é algo similar à uma máquina de fotografar, que faz um “recorte de uma cena imensa”, capturando, mediante a lente e todo o sistema que compõe tal máquina, apenas aquilo em que põe o seu foco, e além disto, a foto, a cena capturada, posteriormente acaba sendo mais ou menos editada, sendo acrescidas tonalidades diversas, retirados alguns “elementos indesejáveis” etc. Busquei, por tempo consideravelmente longo, encontrar o que pudesse comprovar ou refutar a essa minha “intuição”, mas, somente há pouco tempo, obtive o “elemento faltante”. Passo a relatar um caso que observei em uma longa viagem que fiz, de ônibus: um homem, na poltrona do lado oposto à minha, no meio da noite começou a sonhar, gemendo e respirando em descompasso, expressando agonia. Ele, entre gemedos agonizantes, balbuciava, e o que se podia entender claramente, entre suas palavras sibilantes, era: “Me acorda!”. Foi muito fácil identificar que havia uma “consciência no sono”, um “estar consciente do próprio sono e do sonho agonizante”. A pessoa estava pedindo ajuda, implorando para que alguém o acordasse o quanto antes! Foi uma experiência interessantíssima presenciar alguém em estado “vigil-onírico”, ou vice-versa. Sendo assim, não é, o sonho, “a principal porta para o Inconsciente”, e como eu já disse, aqui e em outras ocasiões, nem existe isso de “o Inconsciente”, e podemos, metaforicamente, dizer que “a consciência nunca dorme”, apenas “muda o foco a outros elementos ou circunstâncias”. É a “consciência que nunca dorme que, em todas as manhãs, nos acorda” para trabalhar, estudar e para todos os demais afazeres. Não há, no estado de sono, um “desligamento da consciência”, pois, se tal ocorresse, “quem haveria de apertar o botão para tornar a ligá-la”, fazendo-nos acordar? Jamais acordaríamos após ter, uma única vez, “caído no sono”. Existe _seja por assim dizer_ um tipo de “sentinela psico-fisiológico”. Aquilo que se convencionou chamar de “o Inconsciente”, na realidade é uma “filtragem de dados”, visto que, se tudo, em toda a nossa existência, fosse por nós lembrado, “ao mesmo tempo agora”, ficaríamos permanentemente inertes, ou mais propriamente, nem chegaríamos a existir, porque a inércia absoluta impede todo o viver. O viver consiste em movimento e movimento requer mudanças que, por sua vez, são possíveis mediante a “ultrapassagem de uma coisa ou condição”. Essa “ultrapassagem” _no que se refere ao ser humano_ é o “sistema de filtragem psico-fisiológico”. Conceber um tal “Inconsciente” no ser humano e reputá-lo como, praticamente, um “vilão”, relacionando-o à fraquezas, repressão de desejos, foi, ao meu ver, o maior erro de Freud e de outros, o que, obviamente, não os torna menos geniais. Repressões, certamente existem, no contexto de nossa “estrutura de significados”, e a isto foi denominado, perfeitamente, como “recalque” e, por conseguinte, “mecanismos de defesa”. Costumo dizer que, o maior erro de Sigmund Freud, foi um “acerto incerto”, um “acerto mal-resolvido” que serviu-nos de norte ao entendimento de coisas que, na época de Freud, não seria possível, ou seria quase impossível. Li, hoje, reportagem em que é dito que um cientista de famosa Universidade estrangeira descobriu a região no cérebro referente ao que que se convencionou chamar de “o Inconsciente”, e como essa região se interliga ao organismo como um todo e com o ambiente, fazendo selecionando dados e gerando, assim, o que se deu o nome de “o Inconsciente”, em um período que não era possível saber do que agora é possível. Tenho falado e escrito sobre tal coisa há tempos…, e, obviamente, nenhum crédito terei sobre a descoberta que, dentro de algum tempo, será notícia fervilhante!

Quem haveria de dar-me crédito, a mim, um “andarilho de todas as épocas na contemporaneidade” que não pode admitir-me para que não corra o risco de desmoronamento dos seus castelos de ilusões? É necessário ser “estrela”, possuir “credenciais acadêmicas” ou “pensar com a manada”, para ser acreditado…

À mim, “as pedradas”. Aos outros, a fama! E vou seguindo o meu “reto caminho tortuoso.”. Tornei-me, pela capacidade intelectiva tão oposta à “acefalia acadêmica” que agiganta-se em nossos dias, uma “voz clamando no deserto…”.

Atualíssimas são as palavras de Voltaire (1694 – 1778), que disse: “Para ter sucesso neste mundo não basta ser estúpido. É preciso também ter boas maneiras.”.

Autor:

Cesar Tólmi – Psicanalistas, filósofo, pós-graduando em Neurociência Clínica, jornalista, artista plástico autodidata, escritor e idealizador da Neuropsiquiatria Analítica integrada aos campos clínico, forense, jurídico e social.

E-mail: cesartolmi.contato@gmail.com

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