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sábado, 7 de setembro de 2024

A taça de cristal

Capítulo Quatro

Cecília estava em frente ao guichê de uma empresa de ônibus aleatória. Resolveu que pegaria o primeiro carro que estivesse de partida, de preferência, para o mais longe possível. Sim, porque se fosse para algum lugar próximo, com certeza Ricardo iria procurá-la. E a convenceria a voltar. Só que, para ela, não tinha mais volta. O tapa que recebeu no rosto quando perguntou quem era a zinha que o beijara de manhã foi a gota d’agua que fez transbordar o copo de um relacionamento que a muito se desgastara. Afinal, se para ele aquela mulher no coletivo era assim tão importante que justificava agredir sua esposa, então ela nada mais tinha a fazer naquela casa. E ela não voltaria para sua família porque Ricardo era muito querido por seus pais e irmãos, e ela sabia que tentariam convence-la a perdoa-lo, coisa que não estava disposta a fazer. Nem que ele viesse de joelhos implorando seu perdão, ela o perdoaria. Não tinha o porque fazer isso. Afinal, em quatro anos de casados, nunca tiveram filhos. Se não tinham descendentes que os ligassem física e emocionalmente, porque ela iria insistir em algo que só lhe trouxera decepção?

A atendente perguntou qual seria o destino de sua viagem, ela respondeu que queria uma passagem para o mais longe possível, e de preferência no primeiro carro que saísse. A moça consultou a tabela de horários e a informou que a saída mais próxima só aconteceria às dez da noite, afinal era uma linha interestadual e as partidas programadas para aquela manhã já haviam sido cumpridas…

Cecilia sentou-se em um dos bancos da rodoviária e ficou pensativa, decidindo o que realmente iria fazer. O relógio da parede marcava duas da tarde. “Nossa”, pensou ela, “as horas passaram voando! Se eu não me decidir logo, daqui a pouco já será dez da noite…”

Resolveu tentar mais uma vez… dirigiu-se ao guichê de outra empresa, e perguntou se tinha algum partida programada para aquele horário. O atendente informou que, dali a alguns minutos, sairia um carro com destino à cidade de Tocantins, em Minas Gerais. Ela ficou pensativa. “Bem, eu nunca fui para essa cidade, não conheço ninguém por lá… jamais pensarão em me procurar nesse lugar…” ato contínuo, pagou pela passagem, pegou suas malas e dirigiu-se ao portão de embarque. O ônibus estava encostando na plataforma, portanto ela caminhou devagar. Tinha tempo até que os outros passageiros embarcassem, para que pudesse se acomodar…

Entregou as malas para o despachante, pegou seus tickets, guardou-os na bolsa. Os passageiros ainda estavam entrando no carro, Cecília esperou um pouco mais. Respirou fundo, entregou a passagem para o motorista, apresentou seus documentos conforme ele lhe solicitou e finalmente adentrou no ônibus. Procurou seu assento, e deu graças aos céus por estar no fundo e não ter ninguém ao seu lado durante a viagem…

Sentou-se, prendeu o cinto de segurança, como o motorista a orientou, e finalmente relaxou um pouco. Iria para um lugar que não conhecia, mas a gente vive desbravando lugares para nós desconhecidos a todo momento, não é mesmo? Afinal, que diferença faz você ir para um lugar novo? Ele só será novo quando você chegar lá. Depois de algum tempo, passará a ser um lugar comum em sua vida. E, com esse pensamento, ela fechou os olhos e adormeceu…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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