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sábado, 7 de setembro de 2024

A taça de cristal

Capítulo 2

Aquela manhã estava sendo um tanto quanto caótica para Ricardo. Talvez por ter brigado com Cecília, não conseguiu dormir bem a noite. E para quem trabalha no trânsito, como ele, isso era simplesmente terrível…

Qual foi o motivo da briga, mesmo? Ele não conseguia se lembrar. O que sabia era que a discussão tinha sido feia, onde até agressão física havia rolado.  Quem partiu para as vias de fato primeiro? Não lembrava. Assim como não tinha a menor noção de qual teria sido o estopim que deflagrara toda a balburdia. Talvez o fato de ter chegado tarde em casa e, ainda por cima embriagado, tenha influenciado a situação…

Fazia já algum tempo que os dois não conseguiam se entender. E ele não podia compreender o porque disso… afinal, no começo os dois estavam tão apaixonados. Mas, de repente, qualquer coisa servia de pretexto para que um ofendesse o outro. E isso começou a afastá-los…

Ricardo estava casado com Cecília a quatro anos. No começo da vida a dois tudo era uma maravilha, o verdadeiro paraíso no céu. Mas, de repente, de um momento para o outro, o paraíso terrestre virou um inferno em sua vida. Tanto que optou por ficar mais tempo fora de casa, para tentar levar a vida sem tantos percalços. Mas a relação dos dois ia se desgastando a cada rusga nova que surgia. E os motivos eram os mais variados…

Ricardo era motorista de ônibus. E devido a sua profissão, e por ser extremamente simpático (e muito bonito, diga-se de passagem) fazia um relativo sucesso com as mulheres. Tinha muitas amigas entre os passageiros do dia a dia. E algumas amigas eram mais íntimas que outras… e foi por isso que a confusão começou em sua vida conjugal…

Por aqueles acidentes da vida, um dia ele foi escalado para trabalhar na linha que servia seu bairro. Estava na reserva, faltou um motorista e o mandaram cobrir a linha.  Na sua segunda viagem, sua esposa acabou pegando seu ônibus. Entrou, pagou a passagem e tomou seu assento no meio do carro. Até aí, tudo bem. O que ele não esperava é que uma de suas conhecidas também entrasse no coletivo naquela viagem. E era uma das amigas com quem ele tinha um relacionamento um tanto quanto… íntimo, podemos dizer assim. Afinal, não fazia nem uma semana que os dois haviam ido ao motel após Ricardo cumprir sua jornada…

A moça entrou, sentou-se sobre o cofre do motor, e começou a conversar com o rapaz. A coisa fluía tão naturalmente que ele até se esqueceu que sua esposa estava naquele veículo. Num dado momento, quando o coletivo parou para desembarcar alguns passageiros, a moça o beijou (aquele beijo cinematográfico, mas não o beijo técnico) e também desembarcou. Cecilia viu aquilo acontecer na sua frente. Seu sangue ferveu na hora, mas conseguiu se controlar e permanecer em seu assento, embora seu desejo na hora fosse esmurrar os dois… mas com certeza, a noite, quando estivessem em casa, ele teria que explicar aquilo que não tinha explicação. E depois, veria o que poderia acontecer…

Quando chegou em seu ponto, ela desceu. Foi aí que Ricardo percebeu o tamanho da sua mancada. Ficou pálido, torcendo para que ela não tivesse visto a amiga sendo tão íntima com ele… mas o caldo já havia entornado.

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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