17.2 C
São Paulo
sábado, 7 de setembro de 2024

69 –  … O mal sucumbirá ante minha presença

Não dava para dizer que Zacarias não havia avisado… Alberto estava às voltas com um ser, que não sabia precisar exatamente o que era… os dois faziam o jogo de gato e rato já a algum tempo… de certa forma, era como se estivessem brincando de pega-pega… porém, se o ser contra o qual pelejava o pegasse, com certeza, não escaparia com vida. Não chegaram a ter contato físico… Alberto conseguiu impedir a investida do estranho ser com um chicote que Zacarias lhe entregou antes de se dividirem para a caçada… e foi sua sorte, pois se não fosse essa arma, teria sido pego logo no primeiro embate com a criatura…

Estavam bem longe do centro da vila… na verdade, haviam caminhado até a planície, onde Zacarias comunicou ao grupo que se daria a batalha. Cada um dos componentes do grupo levava consigo uma reserva de munição, um punhal e um chicote, todos contendo alguma coisa de prata em sua composição. A munição era cem por cento prata, assim como  o punhal. O chicote, de couro trançado, tinha alguns enfeites de prata o que, segundo Zacarias, seria suficiente para afastar os maus espíritos. Claro que Alberto não quis acreditar no que ouvia, mas logo sua descrença foi por terra… quando o estranho ser tentou atacá-lo, foi sua habilidade com o manuseio do chicote que o salvou… 

Podemos dizer que o bom doutor ficou surpreso com a ação… quando a fera saltou sobre ele, rapidamente pulou para o lado e depois, em um átimo de segundo, o chicote surgiu  como num passe de mágica em sua mão… e, ato contínuo, o estalou contra a fera, que recuou de imediato. A surpresa do doutor foi maior com a sua reação ao ataque do que com o ataque em si… a rapidez e presteza com a qual reagira salvara-lhe a vida… mas estava ciente de que esta agilidade toda não era comum para ele… a única explicação que conseguia vislumbrar era a adrenalina correndo por seu corpo… mas não teve muito tempo para ficar pensando em possíveis explicações para o ocorrido, uma vez que a fera voltou a investir contra ele e o chicote estalou novamente, acertando e ferindo o monstrengo, que sentiu o choque e tratou de se proteger melhor contra as investidas de Alberto…

Duarte estava tendo um pouco mais de ação que Alberto… duas criaturas análogas a que Alberto enfrentava tentavam encurralar o delegado… e sua intenção era uma só…  se refestelarem com seu corpo… tanto os seres que atacavam Duarte quanto o que estava dando trabalho para Alberto eram os famigerados “Papafigo”… e tentavam, por todos os meios, fazerem sua refeição noturna… por serem dois, o trabalho de Duarte estava sendo árduo…  as criaturas estavam famintas e não estava sendo nada fácil mantê-las à distancia… Duarte pulava mais que pipoca em panela quente para esquivar-se de seus agressores, que estavam cada vez mais ousados em seus ataques… ele mal tinha tempo de aplicar um golpe com seu chicote, e não conseguia uma boa distancia para sacar seu revolver… punhal, nem pensar… pois se se aproximasse de um dos dois monstros para tentar usá-lo, com certeza seria dominado e morto por eles… sim, a brincadeira de pega-pega não estava nada agradável… Duarte conseguiu fazer um perímetro de segurança, pois girava seu chicote constantemente… mas o cansaço começava a afetá-lo… e as criaturas estavam esperando apenas que ele caísse estafado, para poderem finalmente encurralá-lo e fazer o ataque final…

Em uma de suas tentativas de esquivar-se das criaturas, Duarte tropeçou em uma pedra e caiu… as feras perceberam a situação e prepararam-se para atacá-lo, mas um estampido se ouviu e um dos monstros caiu como um galho seco sobre a terra. O outro ficou estupefato por alguns segundos, e voltou-se na direção do tiro… e a ultima coisa que viu foi o clarão da arma, com o projétil vindo a toda velocidade em sua direção… e assim, os dois primeiros inimigos tombaram naquela noite gélida e sombria…. Andrade respirou fundo, aliviado pelo socorro que chegou no ultimo instante… ele já estava se vendo sendo devorado pelos dois estranhos seres caídos a  poucos passos do lugar em que se encontrava… levantou os olhos para saber quem era seu salvador… e era ninguém menos que seu colega de ofício, o Delegado Vicente… ou simplesmente Juvêncio… que alvejara as duas criaturas e lhe salvara a vida. Juvêncio caminhou até os dois corpos, sacou de um facão que carregava na cintura e, ato contínuo, decepou as cabeças dos dois… que simplesmente se dissolveram na terra e desapareceram, como se nunca tivessem existido…. a essa altura do campeonato nada mais surpreendia Duarte, que se limitou a levantar-se  e caminhar até o colega e agradecer-lhe por sua tão oportuna intervenção…

– Marque bem este local, Duarte… se estivermos vivos quando amanhecer, temos que queimar essa região… só assim para impedir que esses dois ressuscitem…

– Mas… eles se dissolveram… desapareceram…. como poderiam voltar?

– Precisam apenas de sangue, Duarte… e, embora eu tenha decepado suas cabeças, uma gota de sangue que caia nesse solo será suficiente para retornarem…

Duarte resolveu ficar quieto… não entendia o que exatamente estava acontecendo ali, mas já tinha visto que tudo o que pensava ser realidade poderia ser apenas ilusão… então era melhor escutar e obedecer o delegado, pois este parecia saber como agir…  e tudo que ele queria era sobreviver àquela noite, que prometia mais emoções do que ele estava disposto a usufruir…

Zacarias estava às voltas com os dois lobisomens… embora normalmente fossem criaturas até certo ponto tranquilas (se é que a gente pode dizer que uma criatura mística é tranquila) esta noite em especial estavam bem agitados, agressivos. Normalmente costumavam atacar galinheiros e afins, mas hoje estavam atacando um ser humano… coisa raríssima de ocorrer, pois não eram criaturas que tivessem como prioridade sangue de quem quer que fosse.. mas hoje estavam com sede de sangue… de preferencia deste sujeito que estava tentando convencê-los a voltar para seus lares…. Zacarias tentava não usar de violência com as duas criaturas, pois as conhecia bem em sua forma humana… e ambas eram pessoas tranquilas e ordeiras… e mesmo como transformadas, nunca causaram nenhum tipo de distúrbio na região… mas, no dia de hoje…

Como dois cães de grande porte, tentavam atacar Zacarias, que se limitava a defender-se, evitando que eles o alcançassem. O chicote companheiro estalava no ar… era suficiente para que ambos fugissem ganindo até uma distância segura. Se pudesse evitar, Zacarias pretendia resolver a situação sem os ferir… mas os dois lobisomens pareciam não concordar com a decisão dele.

Os raios e trovões continuavam a cortar os céus initerruptamente… o clarão iluminava toda a extensão da campina, permitindo visualizar longas distância por átimos de segundos. E nessas pequenas frações de tempo dava-se a impressão de ver várias criaturas caminhando pelo campo… criaturas assustadoras, que teriam como único objetivo, atacar as sete pessoas que estavam lutando contra elas… Já passava da meia noite… deveria ser umas duas da manhã… mas quem poderia garantir isso? O que se podia afirmar é que a batalha entre A Mulher de Branco e Zacarias estava chegando ao seu ápice… e Zacarias sabia que aquela batalha deveria acabar antes do primeiro cantar do galo… ele ainda não tinha visto a Mulher desde que começaram a lutar contra seus soldados… mas sabia que Alice estava à espreita, pronta para atacar, quando chegasse a hora… 

A paciência de Zacarias estava se findando… se as duas criaturas não o escutassem e retornassem ao seu recanto, ele teria que, com muita dor no coração, eliminá-los.  Sabia que por mais que desejasse preservá-los, aquela era uma situação atípica e por duas vezes quase que os lobisomens conseguiram alcançar sua garganta… escapou por muito pouco… como os sinais de cansaço começaram a aparecer, Zacarias decidiu que era hora de terminar com aquilo… já que os dois não queriam voltar para suas casas, só lhe restava uma coisa a fazer… sacou sua arma e fez dois disparos… e dois corpos tombaram sem vida a poucos passos de onde ele se encontrava…

Autora:

Tania Miranda

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio