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sábado, 22 de junho de 2024

Coelho da páscoa, personagens de histórias e direitos autorais.

João é um menino inteligente e curioso. Certa vez, pegou sementes caídas de um caminhão e plantou no quintal. Nasceu um belo e vigoroso pé de feijão que dobrava de tamanho a cada dia. Logo estava tão grande e robusto quanto uma árvore. Ele queria escalar o pé de feijão para examinar a vista lá do alto, mas tinha receio de ir sozinho e convidou a amiga Branca, que mora no bosque. Seu primo Joãozinho também quis ir, mas o menino é muito levado, desbocado, conta piadas sujas e vive arrumando confusão.

Branca é linda e João esta a fim dela, mas a menina sonha em se casar com um príncipe. Topou escalar a árvore desde que Alice, sua vizinha no bosque, também fosse. João aceitou chateado e disse a si mesmo: A Branca vive numa casa com 7 homenzinhos na maior pouca vergonha e quer pagar de moralista prá cima de mim! Qual é?

Os dois foram até a casa da Alice, ocupada em cruzar uma galinha com um coelho para produzir ovos de Páscoa. Ela topou e levou bolinhos de canabis para o lanche. No caminho, encontraram uma camponesa conhecida por Chapeuzinho, que regava a plantação de cogumelos e também quis subir no pé de feijão.

No quintal de casa, João ouviu um grito. Olhou para baixo e viu que pisava no Pequeno Polegar, que observava formigas dando duro e carregando folhas enquanto duas cigarras tocavam banjo. Colocou o garoto no bolso da camisa e começou a subir atrás de Branca, para ver as bochechas inferiores da amiga. Chapeuzinho foi por último.

O pé de feijão estava com a altura de um prédio de 3 andares e cruzava a rua. Eles andaram sobre a larga rama até encontrarem uma janela trancada. O Pequeno Polegar destravou a fechadura, as crianças entraram e as luzes se acenderam. Estavam na sede da empresa do senhor Monsanto, gigante das sementes transgênicas. No canto, a recepcionista Ariel nadava num aquário gigante.

O senhor Monsanto entrou, deu balas para as crianças e disse que João está no radar da empresa há meses. Impressionado com seu sucesso na cultura de feijão geneticamente modificado, Monsanto propôs uma parceria comercial. Com suas sementes transgênicas e a tecnologia de plantio do João, a produtividade aumentaria e eles ganhariam muito dinheiro. Chapeuzinho e Alice se interessaram pelo assunto para melhorar a cultura de champignons  alucinógenos e canabis. O senhor Monsanto disse que recebeu grande encomenda de cevada transgênica da Rainha e eles poderiam trabalhar juntos. Branca recomendou cuidado com a Rainha Má, mas o sr. Monsanto disse que falava da sra. Heineken, a boa Rainha das Cervejas.

Informado por Pinóquio sobre a aventura, o Príncipe Valente entrou de supetão na sala pensando que os amigos estavam em perigo, mas viu que era apenas uma reunião de negócios. O garoto de madeira não pode acompanhar por causa da tinta fresca no corpo. O jovem nobre encantou-se com a bela Ariel e a Pequena Sereia achou o Príncipe atraente, apesar de parecer meio esquisito naquele saiote. Como é humana apenas do umbigo para cima e ele se contenta com o platonismo, Ariel cedeu aos encantos principescos.

Monsanto deu a João uma minuta do contrato para análise e todos desceram pelo pé de feijão até o quintal da casa, exceto o Príncipe Valente, que se molhou no aquário e ficou se secando.

Lá em baixo, dois homens esperavam o grupo. Um deles, do Ministério da Agricultura, intimou o tal João Pé de Feijão a comparecer à Repartição para apresentar a licença para cultivo urbano. O outro é advogado e representa herdeiros de La Fontaine, Esopo, Lewis Carol e Hans Christian Andersen, dentre outros escritores famosos. Explicou que eles não podem negociar qualquer contrato sem prévia autorização e o devido pagamento de royalties.

Eles ficaram tristes com a oportunidade perdida e por saberem que estão eternamente vinculados aos autores das fábulas. Foram à casa de Branca de Neve comer os bolinhos de canabis da Alice com chá de cogumelos da Chapeuzinho. Os homenzinhos fumavam erva em cachimbos, estranharam-se com João e quase saíram na porrada. As cigarras, doidonas, começaram a tocar banjo e tudo terminou em festa, menos para as pobres formigas que ainda carregavam folhas. O coelho fugiu, a galinha não botou e a Páscoa deste ano não terá ovos de chocolate. Só mesmo chapado para entender as fábulas fabulosas desses autores.

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário aposentado. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle)

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