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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Na casa de Geralda Braga, jardim, bolo de fubá, café, geladinho e amigos

A Casa das Rosas na Avenida Paulista me convida para adentrar no seu jardim e comtemplar suas roseiras, seus rios embaixo da ponte, seus cômodos antigos cheio de relíquias e o banquinho de prosa no meio das árvores frondosas. Pego uma rosa, sento no banquinho, fecho meus olhos e vou a casa da minha mãe dar um passeio…

A casa da minha mãe fica escondida entre as colinas verdes da minha aldeia, entre as asas de Deus. 

O jardim da Casa das Rosas me transporta para a casa de Deus; para a minha aldeia e, de modo especial, para a casa de uma Paraibunense que tive o privilégio de conviver por 8 anos e que adotei- la como mãe: Geralda Braga ou, como é chamada pelos netos, Vó Ada (a avó babona pelos netos).

Primeiro me mudei para a rua Adhemar de Campos com meus pais e irmãos e, nessa casa não tínhamos quintal para brincar. Fazíamos da rua, o nosso quintal. Fazíamos do jardim de Geralda, o nosso quintal. O meu encantamento pela jardineira se deu pela primeira vez. Foi amor à primeira vista. E antes dela me convidar pra adentrar a sua casa para tomar café, já estava instaurado em mim o respeito por ela e o desejo de ser seu amigo. Entrar na casa de Geralda para tomar café e prosear tornou- se uma rotina e, a cada ida a sua casa compartilhávamos o nosso amor por Deus, por jardim, por flores, por crianças, por móveis antigos, por bolo de fubá com café, e amigos…

O nosso laço de mãe e filho, de melhores amigos foi brotando dia por dia, como florzinhas, sem que nenhuma outra mão as tivesse semeado. As florzinhas nascia espontaneamente de nossas prosas, de nossa cumplicidade, de nossos passeios pelo jardim. Inicialmente, ela me convidou para dormir contigo, pois ela sofria mal súbitos durante a noite e, necessitava de um ajudante de rotina para lhe socorrer e prestar assistência. 

A nossa florzinha foi brotando cada vez mais e, de repente Geralda e Eu criamos um jardim dentro de nós, a cada dia, no nosso companheirismo, no nosso diálogo, no nosso afeto, cultivávamos o nosso precioso jardim dentro de nós. 

Nós dois, estávamos em “estado de afeto” (Zenilda Lua). De nossa profícua amizade, surgiu a proposta de Geralda para morar contigo. Esse nosso amor foi selado em novembro de 2015, o ano que eu menino, passei a morar contigo. 

Os dias na casa da Geralda, fortalecia nossa irmandade, nossa parceria, nosso laço de “mãe&filho” e, a cada vez que Geralda cultivava o nosso jardim, ela desvendava suas outras faces: Geralda mãe de Márcia, Adriana, Marcelo, Márcio e Alexandra; Geralda avó de Ramer, Thainá, Mariana, Maira, Felipe, Camila, Thamires, Joana e Bárbara; Geralda bisavó de Alice, Betina e Benício; Geralda sogra de João, Hamilton, Claudiscélia, Maria Cristina e Paulo Henrique; Geralda irmã de Maria, Madalena, Célia, Lourdes, Maria José, Vera, Orlando, Sebastião, Otávio, José Maria, Valter, José Braga, Luizinho; Geralda enfermeira, (atuou durante 19 anos na Santa Casa de Misericoridia de São José do Barreiro); Geralda camareira, (atuou muitos anos nessa profissão no Porto da Bocaina (Vila Santana); Geralda vendedora de geladinhos; Geralda vendedora de fubá; Geralda bordadeira; Geralda que recebia as visitas com café e bolo de fubá; Geralda amiga de Maria, Benita, Juscilene e de toda nossa terra e nossa gente; Geralda religiosa; Geralda tia, madrinha, prima e amiga…

No entanto, em cada uma delas, sempre encontrávamos a mesma Geralda: uma mulher pacífica, bondosa, acolhedora, e de um coração transbordante, feito rosa cheia de pétalas…

No ninho de seus abraços, eu sempre me abriguei enquanto filho, enquanto amigo…

Infelizmente, no dia 5 de maio de 2019, Geralda foi dar um passeio no jardim de Deus e nunca mais voltou. Mas eu ainda continuo cultivando o jardim que ela instaurou na minha alma. 

Confesso apenas uma esquisitice: para falar com Geralda, tiro meus sapatos, fecho meus olhos, e vou para o jardim! O jardim é sua casa. E quem nelas anda, a sente. Quem nelas anda, adentra a casa de Geralda, uma casa cheia de vida, pintada de amor, cercada de beijos e abraços e iluminados com o seu perfume!  

Autor:

Lucas Dolher

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