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domingo, 24 de novembro de 2024

Vera Holtz: a pioneira do teatro brasileiro

Conheci a Vera Holtz em uma noite de apresentação no teatro FAAP em São Paulo. Era o finalzinho da tarde de um domingo frio. Vera encenava uma apresentação do livro “SAPIENS – UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE”.

A sua forma de encenar no palco e na televisão tem o poder de arrebatar a celeridade que vive em nós. 

Por eu ser deficiente auditivo, tive preferência de lugar e escolhi sentar pertinho do palco para assistir o ressurgimento da atriz no palco depois de três anos afastada de seus trabalhos artísticos. 

A luz do teatro diminuiu e os tambores romperam quando Vera surgiu como um fênix. Confesso que, com sua aparição no palco, fiquei em estado de choque e arrepiado! Não se ouvia um barulho sequer da plateia, todos com os ouvidos e olhos atentos para ver aquela artista indomável utilizar o próprio corpo como elemento das criações artísticas que, Vera publica em suas redes sociais como, um alter ego ainda mais provocativo que ela mesma. 

Vera de Deus, quanto talento na sua arte!?

O jornal Tribuna, na qual escrevo desde 2021, solicitou que meu próximo artigo fosse sobre a Vera Holtz! Sem saber o que escrever, comecei a investigar a vida da atriz nas redes sociais, assistindo  documentários, entrevistas e palestras, inclusive o documentário de 2016 do Pedro Bial sobre a sua história de vida, tanto pessoal, quanto profissional. Esse documentário tão cirúrgico me ajudou muito, além de nossa entrevista de 20 minutos no seu camarim. 

Vera Lúcia Fraletti Holtz, nasceu em 7 de agosto de 1953 na cidade de Tatuí, São Paulo. Filha de José Carlos Holtz e Teresinha Fraletti, ela deu início à sua carreira artística em 1975 no Rio de Janeiro, atuando ativamente no teatro, no cinema e na televisão, graças a Ary Fontoura. 

Vera Holtz deixou Tatuí e se mudou para o Rio de Janeiro em 1975 para  ingressar na arte, onde entrou para a Escola de Arte Dramática (EAD) atuando nas peças “As Feiticeiras de Salem” e “Tribobó City”. 

Em seguida, estudou na Escola de Teatro da (UNI-RIO), onde atuou em “Visões” de Simone Machard, “O Interrogatório e Cidade Assassinada”, além de outros cursos, Vera estreia profissionalmente em “Rasga Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho e com a direção de José Renato, em 1979. Dois anos após, integra o Grupo TAPA, ainda no seu período carioca, com o qual realizou diversos espetáculos: “O Anel e a Rosa”, de Thackeray, em 1981; “Tempo Quente na Floresta Azul”, de Orígenes Lessa, em 1983, e “Caiu o Ministério”, de França Jr., em 1985, encenações de Eduardo Tolentino de Araújo. 

Para se manter, seu primeiro emprego foi no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT), na qual, essa mesma universidade lhe transferiu posteriormente para o Rio de Janeiro, onde ela trabalhou desenhando mapas. Em 1981, deu início a estreia: “Na Terra do Pau Brasil, Nem Tudo Caminha, Viu?” junto com o nosso querido ator, Ary Fontoura, exercitando sua face de comediante. No ano seguinte, apresenta-se no vaudeville “E Agora, Hermínia”, de Maugnier, sob direção de Bibi Ferreira e assim surgiu a oportunidade de aparecer na televisão. Vera interpretou uma babá na minissérie “Quem Ama Não Mata”, em 1983, e interpretou uma vendedora, na minissérie “Parabéns pra Você”. Mesmo ano em que integra a produção “Motivo Simples”, de Celina Sodré. Diretora com quem volta aos palcos, em 1984, em “Sem-Sutiã” – Uma Revista Feminista, de Fátima Valença e Celina Sodré e direção de Alice Viveiros de Castro. Em 1985, foi a vez de estrear no cinema. Vera também participou em Fêmeas em Fuga, em 1985. Mais tarde voltaria às telas no papel de uma professora, no filme “Menino Maluquinho – O Filme” em 1994. Um filme que marcou muito a minha infância e, certamente, de muitas crianças brasileiras. 

Em 1982, foi contratada pela Rede Globo – emissora na qual trabalhou ativamente desde então -, atuando em diversos programas e telenovelas de grande sucesso. Em 1991, ganhou notoriedade ao interpretar a caça-vampiros Mrs. Alice Penn Taylor em Vamp, papel que a transformou numa das principais estrelas da televisão brasileira.

Faltava mais uma informação no meu texto, aliás, a chave do texto: porque Vera desapareceu do palco e da televisão e ressurgiu depois de três anos? 

A atriz me contou que a pandemia fez ela ter um encontro com a própria vida. “A pandemia foi meu grande encontro na vida. Quando mergulhei na obra do filósofo israelense Yuval Noah Harari Preta, um livro cheio de som, luz e fúria que é o teatro, vi que a partir dali estaria protegida para viver com toda a minha ingenuidade. A arte me permite viajar com lucidez e estar lúcida é a maior droga que existe hoje”, disse Vera. 

Vera Holtz soube aquilatar o seu amor com a arte. A atriz marcou muitos corações brasileiros e, ainda marca com seu notável papel artístico. 

O amor que Vera imprime em cada gesto no palco, a sua singular presença no mundo e, predestinada coincidência, sintetizam o que “VERA” significa: “aquela que é verdadeira, que é real!” Que a arte seja o seu escudo, Vera, e que você prossiga desabrochando no coração de todos aqueles que, assim como eu, tiveram o privilégio de encontrá-la nos caminhos desta vida. Gratidão!

Autor:

Lucas Dolher 

Jornal Tribuna, 21 de fevereiro de 2023

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