A educação significa muito para nós, professores, alunos, pensadores, cidadãos. Esse significado é estritamente ligado á escola, ou seja, ao ambiente no qual se articula uma importante parte da vida social dos estudantes. A educação online, porém, não parece tão significativa. As vezes ela aparenta ser um mero método para transmitir informação, ao invés de um ambiente onde se pode viver experiências (trans)formadoras. Por outro lado, a vida online faz cada vez mais parte dos nossos dias. Nela acontecem conversas com colegas, perguntando como foi o dia ou discutindo temas que chamam a atenção. Às vezes, um tópico aparece como valioso dentro desses interesses, digamos mitologia grega. Se pode ler artigos curtos sobre diferentes figuras interessantes, ouvir podcasts ou vídeos narrando as aventuras desses personagens fascinantes. Nesse movimento, é possível se apaixonar por eles, ou talvez esse interesse pode passar naturalmente, dando lugar a outras inclinações. Também acontecem perguntas em fóruns, levando à discussões com diferentes pessoas sobre como fazer alguma tarefa ou o significado de uma palavra específica ou de algum evento que acabou de acontecer.
De um dia pro outro milhões de alunos não podemos ir para escolas físicas. Há uma pandemia global e não podemos expor a nós mesmos e nossa família próxima à propagação do vírus. Na tentativa de salvar o processo educativo, houve uma rápida tentativa de transpor as formas pedagógicas de um cenário que envolve paredes, cadeiras, lousa, papel, caneta e presença física, para um conjunto envolvendo telas, teclado, alto-falantes, apresentações em PowerPoint
, sistemas MOOC, Zoom e Google Classroom. Práticas educativas típicas de uma escola física reproduzidas por meio de tecnologias online. Mas isso faz sentido?
Temos uma ligação íntima com essas formas pedagógicas, com certeza. Desde cedo, essas são as atividades que conectamos à educação e à descoberta do mundo. Essa intimidade os torna significativos, nosso reconhecimento deles às nossas experiências e a adequação do que pré-entendemos como o que significa ser educacional. No entanto, em nossa conexão com essas atividades, as tecnologias online não desempenha nenhum papel. Outras tecnologias como livros, cadernos e lousas estão mais ligadas a essas práticas. Quando tais artefatos se esvaem — como no caso de um lockdown — também se esvai esse reconhecimento pré-reflexivo e, portanto, a intimidade com essas práticas educativas como significaticas.
Então, como é possível tornar a educação online significativa? O significado de uma prática aparentemente emerge da ressonância com certas atividades espontâneas com as quais nos familiarizamos, por meio de rotinas, hábitos, técnicas e artefatos envolvidos em tal atividade. Nesse caso, educadores e designers precisam olhar mais de perto para a vida online. Observações mais próximas de como práticas educacionais online informais são formadas e como são vivenciadas devem orientar o desenvolvimento de plataformas educacionais online.
Como mencionado anteriormente, os alunos já há algúm tempo envolvidos com a educação online, por exemplo, assistindo a vídeos, ouvindo podcasts e discutindo em fóruns. Limitar a educação online a práticas e plataformas específicas, como Zoom ou Moodle, e não sintonizar com o aspecto distribuído, colaborativo e multimodal da Internet está roubando da educação online seu potencial significativo. Tentar impor institucionalmente formas educacionais reproduzidas é contraditório às experiências significativas que os alunos já têm online. Somente sintonizando-se com essas experiências é que a educação on-line formal poderá se tornar significativa.
Autor:
Luiz do Valle Miranda
