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sábado, 20 de julho de 2024

Como nasce um poeta? 

Pergunta difícil. Sem resposta única ou objetiva tampouco. Mas muitas vezes já me perguntei e acredito que você também. Um poeta simplesmente nasce, nasce e faz-se com o tempo. Como dizer ou afirmar com detalhados critérios, se alguém é ou não um poeta? Outra pergunta tão difícil quanto à primeira e da mesma forma, sem resposta única ou objetiva tampouco. Tantas perguntas como essas às vezes ficam sem resposta. Ficam porque realmente não têm. Vivemos num mundo onde parece ter que responder a nós mesmos e ao outro, tantos questionamentos, sobre infindáveis temas, não é? E quando nos deparamos com questões ligadas diretamente à alma, à sensibilidade, ao coração (de si e alheio), aos sentimentos dos mais doces aos mais perversos, ao amor, à angústia, à dor, ao medo, à alegria, à ilusão, à realidade, e sobretudo a tudo que nos faz sentir, calamos a boca e abrimos justamente o que pode, mas não se preocupa em oferecer resposta alguma, porque naturalmente responde: nosso universo interior. Sim, nosso universo interior. A nossa mais preciosa morada. Assim como nossas digitais, nosso universo interno nos faz únicos. Aqui reside a beleza genuína dos que se reconhecem e conhecemos como poeta.

Lucas Dolher, um poeta. Perdão, o poeta. Cada poeta tem seu universo interno, esboçado, rabiscado, desenhado, pintado em cores, tonalidades, formas, traços, totalmente singulares. Lucas Dolher, a quem não posso jamais deixar de agradecer humana e poeticamente, o convite para que eu escrevesse esta introdução de sua primeira obra “Poemas inacabados”. Com enorme honra recebi esse presente deste grande amigo virtual que é tão real. Isso mesmo, conheci Lucas pelos seus poemas, suas poesias publicadas nas redes sociais, e eu como seguidor, acompanho cada verso, cada rima, do trabalho encantador deste jovem poeta nascido em São José do Barreiro, numa cidade pequenina a leste do Estado de São Paulo, de onde surgiria um menino, um garoto iluminado pelo seu universo interior, que desde muito pequeno, com nove anos de idade apenas, começaria a compartilhar toda a riqueza do poeta que nele já habitava e definitivamente fez morada, uma linguagem e estética de ler com o fundo d’ alma.

Suas poesias nada têm de inacabados, a não ser o título dessa obra, que na verdade, por si só já é retrato da proposta de Lucas: nada está escrito por completo, pois na essência da tradução dos sentimentos em poemas, as palavras juntam-se construindo um significado mais que convincente e emocionante, porém nunca acabado. Tudo pode ser reescrito, repensado, refeito, retratado e supostamente finalizado pelo próprio leitor. Essa vertente carrega na sua escrita, a maravilha de apreciarmos um texto com a sensação de pertencer e dar continuidade a ele, em sentido figurado. Aqui se compreende a correlação entre poeta e leitor, numa parceria em nome da arte.

A infância de Lucas Dolher, como cenário as casas de familiares e amigos, o campanário da igreja matriz, a pracinha da curva, as ruas e vielas centenárias de São José do Barreiro, o jardim da dona Yolanda Prata, a carroça de leite do senhor Tunico, os amigos de infância, a Serra da Bocaina onde cada lugar vivido foi movido à emoção, com pessoas ímpares e inesquecíveis, impossível não conhecer, não sentir tudo o que ele pessoalmente viveu. A simplicidade, os hábitos, os casarões da praça, incluindo o casarão da senhora Celeste Serafim, no qual a mãe trabalhara, a casa da bisavó Raimunda Carmélia, a escola Capitão Leovigildo Silvério Gomes dos Reis, onde descobriu o dom de escrever, a casa de infância que ele conviveu com sua mãe adotiva, Geralda Braga, a casa da madrinha Lourdes Braga, o tradicional café de todas as tardes com as queridas tias Vera Braga, Madalena Braga e Maria Braga Leite, o contato praticamente diário com todos os tios, primos, vizinhos e amigos, trazem ao poeta, a essência dos laços enraizados na memória e a conexão com lugares onde a saudade não tem descanso. Dessa vivência ainda tão curta e ao mesmo tempo tão intensa, o jovem Lucas lança aos nossos olhos e emoções, seu universo interior. Imperdoável seria deixar de citar Giovana Queiroz, a saudosa amiga de infância e inspiradora de sua trajetória literária. 

Falar de amor e de amores, as poesias se incumbem. Falando de todos os tipos de sentimentos, as mesmas poesias se encarregam. 

Falar de Lucas Dolher é ter o prazer de tentar descrever o jovem gigante menino poeta. Jovem porque de fato é. Gigante, porque sempre foi guerreiro e será, pela vida e em prol da poesia. Menino, porque com certeza jamais deixará de ser, sua pulsão de vida brinca até hoje e assim é feliz. Poeta, porque simplesmente é! 

Como nasce um poeta? Afinal, foi o título do texto. Não queiramos saber. Apenas desfrutemos da criação do seu universo interior.

Lucas Dolher, que em cada novo verso, em cada nova obra, seu universo interior exterioriza as mais belas poesias.

Autor:

Armando Bertazzo, UOL SP 

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