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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Dio come ti amo

Nel cielo passano le nuvole
Che vanno verso il mare
Sembrano fazzoletti bianchi
Che salutano il nostro amore

Em 1966 era lançado o filme Dio Come Ti Amo, usando como base a canção de Domenico Modugno, vencedora do Festival de San Remo em 1964. Era a época do reinado das fotonovelas, quando as meninas ficavam a suspirar por seus ídolos destas historinhas românticas. Era também a era do cinema de rua, algo bem diferente dos cinemas de shopping, pois as cidades ainda não eram tão perigosas. Quando o filme foi lançado no Brasil, imensas filas se formavam para assisti-lo. E quando Gigliola aparecia na primeira cena, reunida com outras garotas na beira da piscina, cantando “Non ho l”età”, o silêncio era total, ouvia-se apenas a respiração do público…

Podemos dizer que “Dio come ti amo” era um misto de fotonovela e conto de fadas, pois todos os elementos dos dois tipos de história ali se apresentavam. A garota pobre e ingênua que se apaixona pelo namorado da melhor amiga, e esta se apaixona pelo irmão da protagonista era um enredo recorrente nas fotonovelas da vida. O… resgate do amor, digamos assim, quando o galã, decepcionado com sua amada por pensar que esta o trai… meu Deus, que cena emocionante! Quando as primeiras notas da canção reverberavam pelas paredes do cinema, o mais completo silêncio tomava conta do local, e apenas a respiração das pessoas era ouvida. E quando a mocinha terminava de cantar, com sua voz angelical, sua declaração de amor e ainda assim o avião estava partindo… não dá para exprimir a sensação de tristeza e decepção, substituída pela mais pura alegria quando o avião para e Mark Damon desce do mesmo… a expressão da mais pura felicidade se estampa no rosto de Gigliola, e o cinema vem abaixo com os aplausos, quando os dois jovens apaixonados finalmente se abraçam, e trocam um beijo apaixonado. Sim, é clichê, é lugar comum nas histórias da época, mas é simplesmente emocionante…

Eu mesma adoro esse filme. Até pouco tempo atrás eu tinha um DVD do mesmo e, de vez em quando o assistia. Sem exagerar, acho que o vi no mínimo umas quinhentas vezes… simplesmente adoro a Gigliola. Ela é, ainda hoje, o meu ídolo favorito. Não estou dizendo que não existem outras boas cantoras no mundo. É claro que existem… mas ela é, para mim pelo menos, incomparável. Simplesmente adoro suas canções. “La vie en rose”, por exemplo… acho simplesmente divino em sua voz, não desmerecendo as outra interpretes. “Mistero” é outra canção simplesmente linda, “Quando passo il ponte con te”, “Tutte meno una”… sendo que esta ultima é uma das minhas favoritas. Tem várias canções, e todas são lindas. É claro que existem canções de seu repertório que eu não gosto. “Il povero soldato” é uma delas… eu não gosto, ouvi apenas uma vez e depois, nunca mais…

Porque estou falando de Gigliola Cinquetti hoje? Sinceramente, não sei. Simplesmente fiquei pensando sobre qual musica escreveria, e essa canção de amor surgiu em minha mente assim do nada, e mesmo eu tentando pensar em outra, foi ela que ficou gravada em mim… então tinha que escrever… 

Antes que me perguntem, não, eu não assisti o filme em 1966. Assisti bem mais tarde, mas os cinemas de rua ainda existiam. Foi, digamos assim, no fim da era desse tipo de cinema. Quase no apagar das luzes desse tipo de entretenimento, quando muitas das salas de projeção já estavam sendo fechadas ou transformadas em salas de exibição de filmes pornô.  A sala em que assisti pela primeira vez o filme da Gigliola, algum tempo depois virou uma agência bancária. Outras salas, em outros locais, se transformaram em templos pentecostais. As ruas da cidade estavam começando a se deteriorar. Até hoje não consigo compreender o porque isso aconteceu. A cidade a alguns anos atrás era linda, dava gosto passear por suas ruas e avenidas. Nos dias de hoje… meu Deus, que decadência… 

Como vocês sabem, eu já disse várias vezes aqui, eu moro em Santo Amaro. Para mim, a cidade de Santo Amaro. Legalmente, um bairro da Zona Sul de São Paulo, desde os anos de 1930. Quando nasci, a muito que Santo Amaro havia perdido seu status de cidade. Mas conservava ainda um quê de cidade interiorana. E era simplesmente uma coisa fantástica passear pelo seu centro… 

O centro de São Paulo também era um lugar gostoso para se passear. O Vale do Anhangabaú, a Praça da Sé… a antiga rodoviária, na praça da luz, com sua abóbada multicolorida, recebendo viajantes de várias partes do estado e do país… meu Deus, que coisa linda que era! A estação rodoviária era enorme, mas perto do principal terminal rodoviário de hoje, tinha um tamanho insignificante… mas seu charme dava de mil a zero na rodoviária atual…

Pode ser apenas saudosismo… e é claro que é saudosismo… mas para mim a época passada era muito mais bonita do que os dias de hoje. Não sei, tudo tinha muito mais charme, digamos assim… as ruas eram limpas, as praças públicas bem cuidadas, a maioria das ruas era de terra, pois a cidade ainda estava se formando, mas os centros eram bem cuidados. Você podia andar tranquila a qualquer hora do dia ou da noite por qualquer local da cidade, no centro ou na periferia, sem medo de ser assaltada ou morta em qualquer esquina. Não existia violência no mundo, então? É claro que existia. Mas em um grau insignificante, se compararmos com os dias de hoje. Eram os anos de chumbo, dizem algumas pessoas ao se referir a essa época em especial. Talvez. Não posso dizer com conhecimento de causa que não eram. Mas para a maioria das pessoas, era um período onde podiam lutar pelos seus sonhos, pois tinham  certeza de que iriam alcança-los. Os marginais não eram tão violentos quanto os de hoje, as drogas não circulavam tão livremente como circulam em nossos dias, e as músicas eram muito mais bonitas…

Quando passeio pelo meu bairro e vejo o estado em que ele se encontra… sim, eu sei que é o preço do progresso, mas as ruas pelas quais eu ando hoje não são  as mesmas ruas de minha infância, a Escola onde estudei, onde aprendi a ler e escrever não é mais a mesma. Quer dizer, o espaço físico ainda é o mesmo, mas a sua essência mudou, e muito, durante a passagem do tempo. É algo que não dá para parar, o tempo. Ele avança mesmo a gente protestando contra isso. E tudo vai mudando. Já me disseram que o mundo do passado me parece melhor do que o de hoje, porque eu o vejo com as lentes do saudosismo, onde tudo que já passou era simplesmente perfeito, mesmo que não o fosse. Pode ser…

afinal, não é só a grama do vizinho que é mais verde que a do nosso quintal. As situações que já vivemos foram muito mais belas que o momento atual de nossas vida…  mesmo que a realidade não corresponda a nossas lembranças…

São 8:23 horas dessa quinta feira fria e chuvosa… os termômetros estão marcando 17ºC neste momento, e não há previsão de que a temperatura suba um pouco hoje. Mais um dia frio…

Fiquem com Deus e que ele derrame sobre nossas cabeças sua Benção, e que nos conceda a quinta feira mais linda e maravilhosa que já tivemos em nossas vidas. Que Ele nos permita tornar ao menos algum de nossos sonhos em realidade. E que Ele nos permita nos encontramos aqui novamente amanhã… beijos….

Autora:

Tania Miranda

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