Quem nunca no passado, gravou uma fita K7 de um disco original? Quem nunca comprou algo “sem nota fiscal” para garantir um preço melhor? Quem não tem em casa um DVD ou CD “pirata”? E mesmo assim costuma criticar as pessoas por ações e situações semelhantes.
Desculpe se esta mensagem parece pesada demais, mas não consegui encontrar outra forma de começar este texto. Isso se chama hipocrisia.
Hipocrisia é uma palavra originalmente usada para qualificar atores que ocultavam a realidade por trás de mascaras. A palavra vem do grego, “hypocrisis” qualificação dos artistas de teatro com habilidades para imitar a fala, fingir gestos e modos de outra pessoa.
Diz no Aurélio: substantivo feminino, característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação, ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade.
Atualmente, hipocrisia é o ato de forjar sentimentos, comportamentos e virtudes que não as tem. Acontece quando uma pessoa, incapaz de ser verdadeira, simula condutas e exige do outro aquilo que nem ela mesma pratica. Aos poucos esse comportamento se torna um padrão, chegando ao seu ápice quando a máscara usada se torna o rosto de quem a usa, sendo impossível de distinguir as duas.
Nicolau Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”, muito bem descreve a base do pensamento hipócrita:
“Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se mais pela vista do que pelo tato, pois a todos é dado ver, mas a poucos é dado sentir. Cada qual vê o que parecemos ser, mas poucos sentem o que realmente somos”.
Maquiavel sugeria o simulacro como a forma ideal de causar uma boa impressão. Ele contava com a superficialidade da percepção alheia:
“ … a maioria não enxerga além do obvio. Assim sendo, era mais fácil fingir ser aquilo que não é…”
Mas parece que os ensinamentos de Maquiavel seguem atuais, hoje muitos lançam mão desse truque para manter uma boa imagem
Segundo outro pensador, Albert Einstein:
“… Gostaria de uma sociedade mais justa, menos corrupta, com menos hipocrisia, mais digna, com mais amor ao próximo, menos preconceito, menos rancor e principalmente mais paz na alma…”
Um indivíduo hipócrita é aquele que tem um comportamento contraditório, e que consegue enganar muitas pessoas ao mesmo tempo. Basicamente, significa exigir do outro aquilo que não oferece a ele, como respeito, lealdade, consideração, somente os mais próximos conseguem observar melhor a sua conduta, geralmente são pessoas contraditórias, que condenam o outro por cometerem os mesmos crimes que ele.
Essa atitude mostra que o indivíduo se coloca como superior, acima de todas as regras, e que se sente no direito de querer ser respeitado sem respeitar.
A hipocrisia está presente na sociedade das mais diversas maneiras e devemos nos manter atentos para evitar sermos vítimas dela. Para isso, precisamos nos manter atentos em relação a quem confiamos e, também, sobre nosso próprio comportamento, para evitar que sejamos incoerentes em relação ao que falamos e fazemos.
É curioso saber que, mesmo com esses comportamentos dispares, a sociedade ainda acolhe muito bem o hipócrita. Podemos observar como as pessoas mais verdadeiras são julgadas e condenadas duramente. É muito comum na própria família, a hipocrisia ser bem vinda. Por exemplo: uma filha adolescente assume aos pais que faz sexo com o namorado e é penalizada, caso ela fosse hipócrita e fizesse um discurso sobre a virgindade, nada aconteceria, ou um filho assume perante a família que é homossexual, será com certeza criticado, julgado e condenado por essa opção, coisa que não aconteceria se ele escondesse sua opção sexual e simulasse ser hetero.
A mentira parece ser mais agradável aos ouvidos que a verdade. Uma espécie de “me engana que eu gosto”. esse comportamento se expande para a política e a espiritualidade.
A hipocrisia define uma inequívoca falha de caráter, visto que tem como única intensão a obtenção de vantagem, seja ela financeira, emocional ou moral.
Vale lembrar que quem mantem o ator hipócrita é a plateia que aplaude. Ambos entusiastas da mentira, mesmo afirmando serem praticantes da verdade.
Se nós todos fossemos as pessoas que mostramos ser, o mundo seria um lugar sensacional. A sinceridade e a honestidade diante dos próprios princípios e valores não parecem mais algo tão importante; o que vale mesmo é a percepção dos outros, como lidamos com suas expectativas e o quanto somos capazes de fingir para sermos aceitos.
Talvez uma das explicações para escolhas neste sentido seja a dureza da realidade, traduzida na falta de perspectivas que a vida real impõe. Diante disso, criar e viver em uma realidade paralela, colorida, parece a saída ideal para “confortar e amenizar” as coisas.
Ledo engano. Toda escolha traz consigo um preço e uma consequência. O preço a pagar geralmente é subestimado, enquanto a consequência não é sequer avaliada. O mundo paralelo se transforma em uma obrigação cotidiana, e isso começa a afetar a única coisa que realmente existe: a vida real.
Todo mundo precisa mesmo se tornar a celebridade de seus “amigos”? A “febre da aprovação” e a hipocrisia são irmãs e só proliferam nos meios em que a ausência de prioridades é a escolha do dia (ainda que não deliberada, o que também representa uma decisão).
Conclusão
Poderíamos achar que um tema como este não deveria estar em pauta, mas é exatamente o contrário, a hipocrisia sempre dever ser discutida, questionada e compreendida, porque as pessoas que “usam em demasia essas mascaras” se tornam incompletas, e gente incompleta e vulnerável não consegue blindar suas emoções.
Logo, lidar com A VERDADE, delimitar bem nossas capacidades e aprender a lidar com as frustrações, é essencialmente o que impede que a armadilha do “Mundo Mágico de Oz” nos abrace. Essas são ações que certamente facilitarão o controle e a realização de objetivos de cada um de nós.
Bem sei que o clima enfadonho do tema de hoje com certeza deixou muitos leitores assustados ou até mesmo irritados. Mas saiba que a sua ferida é também a minha; é o amarfanhado de todos nós, em um mundo cada vez mais leviano e com viventes “gritando” por aprovação.
Como já dizia Rui Barbosa
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderosos nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”
Espero que a reflexão proposta possa fazer com que você pense um pouco melhor sobre como tem usado o seu tempo; espero, sinceramente, que você os utilize cada vez mais para realizar-se e aproximar-se das pessoas amadas. espero que sejamos capazes de respeitar nossas verdadeiras prioridades neste mundo cada vez mais cheio de pessoas querendo defini-las por nós.
Fontes:
https://www.hojeemdia.com.br/opiniao/simone-demolinari/hipocrisia-a-mascara-social-1.579700
Autor:
Antonio Henriques Dias Cordeiro
