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sábado, 9 de março de 2024

Se nada me pertence. Como poderia eu reivindicar alguma coisa de outro?

Pudesse tu viveres três mil anos ou mesmo trinta mil, lembra-te de que a única vida que o homem pode viver é a que está vivendo no atual momento e que não tens outra, não ser a que está perdendo neste instante. Isto quer dizer que a mais longa vida e a mais curta resultam no mesmo. Pois o momento presente é igual para todos e também o que se perde, e o que já passou não nos pertence. Nossa perda, portanto, se limita àquele instante infinitesimal, pois não podemos perder o que já passou nem tampouco, que virá depois – de fato, como poderíamos perder algo que não está em nossa posse? Portanto, lembra-te destas duas coisas: primeiro, que tudo e todos os ciclos da criação desde o princípio dos tempos seguem o mesmo padrão, e tanto faz assistir ao mesmo espetáculo por cem anos, duzentos ou toda eternidade: segundo, que quando o homem idoso e mais jovem morrerem a perda será igual, pois perdermos apenas o momento atual, que acaba sendo a única coisa que possuímos, e ninguém pode perder o que não lhe pertence.
~Marco Aurélio em Meditações.

De fato, podemos refletir sobre esse ponto que acaba sendo apresentado para a discussão pelo Imperador Romano. Marco Aurélio fora daqueles que tomou a frente do Império na beira de um colapso e sempre teve de tomar as rédeas da situação para tomar das melhores decisões pelo povo. Após ter abandonado a escola retórica, abraçou o estoicismo uma escola de filosofia helenística fundada na Grécia, em Atenas, por Zenão de Cítio no início do século III a.C. O termo “Estoicismo” surge da palavra grega “stoá”, que significa pórtico, locais de ensinamentos filosóficos. Para os estoicos, a perfeição humana estava fundamentada na ideia de que os seres humanos estão ligados à natureza. O estoicismo propunha que os homens vivessem em harmonia com a natureza – o que, para eles, significava viver em harmonia consigo próprios, com a humanidade e com o universo. Para os estóicos, o universo era governado pela razão, ou logos, um princípio divino que permeava tudo. Sendo uma filosofia vibrante e expansiva, repleta de pessoas que amaram, sofreram e perseveraram que lutaram com coragem na linha de frente em grandes campos de batalhas, criaram filhos, escreveram grandes obras, não se abalaram, mas acreditaram e viveram.

Diante deste conceito sobre o estoicismo, temos uma ideia dos principais motivos pelas quais grandes filósofos ainda hoje, são lembrados na nossa sociedade. Sócrates dizia: uma vida não questionada, não merece ser vivida. Cabe dizer que, o próprio estava correto porque tendo um certo levantamento de questionamentos embasados sobre a vida enquanto, mantemos o mesmo ciclo interminável surgem aqueles que buscam compreender esse tipo de fenômeno que vive se repetindo com o passar das gerações. Zenão estava à procura de alguém como ele, mas como poderia encontrar alguém que não fazia mais parte do nosso mundo? Nesse contexto, temos as obras literárias que deixam a sua marca na história com o intuito de formar grandes e novos pensadores. Zenão jamais encontraria alguém com a mesma linha de raciocínio de Sócrates para ser o seu tutor. Neste conflito, o livreiro aponta o seu dedo em direção a Crates, um celebre filosofo ateniense que por coincidência passava naquele local.
O que isso nos remete atualmente?
Em relação a vida muitos temem a morte por ser praticamente desconhecida, não ter um futuro ao certo e nem ciência sobre o que virá depois. Alguns poderosos alegam estar deixando um legado promovendo o extermínio de uma Nação. Enquanto outros procuram o verdadeiro significado para uma vida feliz, tendo a ideia de construir um mundo perfeito em que de fato, seja aplicada a Justiça em nossa sociedade para aqueles que ousem contrariar as nossas leis.  Leon Tolstól dizia; todo mundo deseja mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.
Em diversos momentos, já fomos pegos em pensamentos sobre uma ideia: mudar o mundo. Contudo, mudar o mundo de nada adiantaria, sendo que o problema não está aqui e nem nas pessoas que fazem parte do nosso convívio, mas em nós mesmo que ficamos nos limitando e tendo as nossas pernas acorrentadas pelos nossos próprios pensamentos que nos impedem de ver a verdade…
Memento mori é um conceito fundamental do estoicismo, que trata a morte como algo natural e certo que não deve ser temido, mas sim, elaborado. Os estoicos da antiguidade clássica eram particularmente conspícuos por seu uso desta disciplina, e as cartas de Séneca estão repletas de injunções à meditação sobre a morte. Séneca diz:
“Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens mínguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer.”
O estoico Epiteto disse a seus estudantes que quando beijassem suas crianças, irmãos, ou amigos, deviam lembrar-se da própria mortalidade, restringindo seu prazer, como fazem “aqueles que permanecem com os homens nos triunfos e os lembram de que são mortais”. O ideal de um mundo perfeito na qual muitos desejam, mas que jamais poderá ser alcançado pela força bruta e pela desunião em sociedade que nos impedem de trabalhar em conjunto. O orgulho, poder e a vaidade têm corrompido e causado o inadimplemento de muitas pessoas nas quais começaram bem neste trajeto. Nessa inversão de valores poderíamos dizer que, não chegaríamos em lugar nenhum. A vida que temos não nos pertence pelo mero fato de termos uma alma habitando nesta máquina. Seria ela a vida dentro de um cadáver? A Bíblia relata que quando Deus criou Eva da costela de Adão, a própria não tinha vida, todavia seria necessário que houvesse o sopro da vida para que aquela máquina começasse a funcionar. Seria a vida neste caso que habitaria em Eva sua alma? Às vezes, nos levamos pelas nossas crenças, ideais e limitações. Esquecemos do necessário para podermos sobreviver neste Mundo. A Paz poderia ser alcançada algum dia, mas mesmo se fosse conquistada levantamos ao seguinte questionamento: Quantas vidas não seriam perdidas? De fato, valeria a pena essa luta pela Paz?

Neste ciclo vivemos em busca de paz, mas podemos dizer que em verdadeira se encontra no interior de cada alma vivente. Estamos em uma bolha, sujeitos a passar por qualquer coisa na vida e dentre perder a vida a procura desta miragem, deveríamos priorizar viver a vida verdadeiramente. A morte sempre esteve presente desde o ocorrido no Éden e mesmo em um lugar que havia Paz tivemos um conflito. Quem poderia garantir que neste recomeço as coisas poderiam ser diferentes? Realizando uma autoanálise neste momento, não deixamos de notar que nem o ar que respiramos nos pertence. Nem os objetos, patrimônios, méritos, dadivas, conquistas, mas apenas o conhecimento que adquirimos e deixamos como relato nossas experiências já vividas, registradas em um livro para aqueles que nos sucederam. Em verdade vos digo que somos substituíveis, a nossa maior dádiva mediante todas ações que tomamos é a morte porque dentre o conhecido, és o desconhecido mais temível que é das maiores armas que podem nos revelar em que local estaria enterrado este tesouro para a verdadeira alegria.

Autor:

Calton Carcovichi 

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