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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Sobre os Cavalcante e Cavalcanti

Foi nos anos 2000 que o conhecido genealogista brasileiro Carlos Eduardo Barata publicou as duas versões de seu famoso mas difícil de achar Dicionário das Famílias Brasileiras. Foi por volta dessa época, em meio ao período de burburinho pelo lançamento do dito livro, que alguns meios de mídia veicularam esta informação, enunciada pelo prestigiado escritor: Os Cavalcanti são a maior família do Brasil. E outra informação: Os Cavalcanti e Cavalcante são a mesma família.

Foi também por volta dessa época que tive o primeiro contato com essas informações. De lá para cá elas já foram repetidas tantas vezes pela mídia, e mais vezes ainda por orgulhosos portadores de uma das variações desse sobrenome, que deixou de ser uma informação nova, pelo menos para quem tem interesse em genealogia.

Ainda assim, lá vai o que se pode dizer resumidamente a respeito do assunto.

No século XVI, provavelmente por volta do ano 1560, chegou ao Brasil um patrício de Florença. Filippo Cavalcanti, tendo morado antes disso em Portugal, aportou aqui em companhia do famoso colonizador de Pernambuco, o português Jerônimo de Albuquerque. Casando-se com a filha desse povoador, a jovem Catarina de Albuquerque, Filippo teve numerosa prole, que deu origem a uma descendência hoje espalhada por praticamente todo o território brasileiro.

Filippo Cavalcanti era membro de uma eminente família florentina. Os Cavalcanti existiam na Itália desde pelo menos o século X, tendo sua história quase sempre ligada à cidade de Florença. Nessa república gozavam do status de patrícios e de magnatas, níveis sociais que lhes garantiam a participação na política e o prestígio e visibilidade. Faziam parte de um tipo de nobreza urbana. A riqueza da família tinha provavelmente origem mercantil. Ainda assim eram senhores de castelos no campo e tinham, desde o começo da sua história, ligações com poderosas famílias nobres.

Deixando a Itália, parece que Filippo convenientemente deixava para trás as intrigas da república florentina, onde o clima político instável nem sempre favorecia o partido dos Cavalcanti, assunto que quero abordar mais detidamente em outra postagem. O fato é que, munido de sua patente de reconhecimento de nobreza emitida pelo próprio duque Cosmo de Médici, que era quase o rei da república de Florença, Filippo passou ao Brasil em companhia do poderoso povoador já aqui instalado, para construir aqui a sua vida. Foi um próspero senhor de engenho, e, a partir de seus filhos com Catarina de Albuquerque, espalhou sua semente por uma parte bem considerável do Brasil.

Pois muito bem, Cavalcanti ou Cavalcante é um sobrenome de fato muito comum no nosso país. Mas e quanto aos sobrenomes ainda mais comuns, como Silva e Sousa? Bem, quanto a essa origem em comum dos Cavalcanti, pretendo falar disso em outra publicação. O fato é que a pesquisa de Carlos Barata levou à conclusão de que todos os Cavalcanti no país descendem de um único tronco comum, conexão que não existe entre Silvas, Sousas, Oliveiras e outros sobrenomes tão populares por aqui.

À época do lançamento de seu livro, Carlos Eduardo Barata contestou que houvesse diferença de origem entre as grafias Cavalcante e Cavalcanti. Uma vez chegado em terras lusófonas, o nome se adaptou naturalmente ao modo de escrever da nossa língua, de maneira que as duas formas de escrever se intercambiaram e se confundiram sempre através dos tempos.

Agora, se os Cavalcante tem origem italiana, sua prolongada presença por aqui deu a esse sobrenome um ar bem brasileiro, e, mais particularmente, nordestino. Eu, por exemplo, até onde consegui remontar minha genealogia partindo de mim, descendo de cearenses. Ainda não pude traçar daí até Pernambuco, mais perto de Filippo Cavalcanti. Mas dos sertões do Ceará à antiga zona açucareira próxima a Recife não deve haver uma distância muito longa.

O fato é também que, tendo se espalhado tanto, o nome deixou de ser um sinônimo necessário de grandeza, como no passado colonial e mesmo ainda nos tempos do Império, o que não faz tanto tempo assim. Somos muitos e de origem comum e humilde. E não que a nobreza de ascendentes tão antigos signifique qualquer coisa de efetivo. Mas, mesmo assim, permanece o fato curioso de que somos descendentes de nomes grandes, até mesmo principescos. E nosso nome comum é um lembrete permanente de uma herança imaterial e, quem sabe, de um ímpeto transmitido com ele através de séculos, de uma ânsia de grandeza e notoriedade, mas do tipo da que se ganha por meio de ações dignas.

E, posteriormente, abordarei sobre por que os Cavalcante descendem também de príncipes, e, na verdade, poder-se-ia dizer, são príncipes.

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Um grande abraço.

Filipe Cavalcante IV

Referências que consultei:

BARATA, C. Um pouco de genealogia. Disponível em: https://youtu.be/H2mXQD5nRSo . Acesso em 11.04.2022

ALBUQUERQUE, C; LIMA, F. A. de; CAVALCANTI, M. B.; DORIA, F. A. Os Cavalcantis: na Itália, no Brasil. Jardim da Casa, Bingen – 2011

Filipe Cavalcante
Filipe Cavalcantehttp://frcavalcante.blogspot.com
Filipe Cavalcante é natural de Santa Inês (MA), mas atualmente vive em Parnaíba (PI). Já colaborou com o grande jornal cultural O Piagüí (https://opiaguionline.wordpress.com/) com seus poemas, além de redigir artigos e poemas para o periódico Norte do Piauí. É bacharel em Direito e licenciado em Ciências Sociais e também em Letras Português. Desde 2013 é também publicador do Reino de Deus. É professor de Sociologia. É cultor do soneto, e arrisca-se no cordel e na epopeia. Atualmente trabalha em um romance de cavalaria. Livro publicado: VIDA - SONETOS E OUTROS POEMAS https://www.amazon.com.br/gp/aw/d/6500310349?psc=1&ref=ppx_pop_mob_b_asin_image ou https://clubedeautores.com.br/livro/vida-8

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