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sexta-feira, 19 de abril de 2024

O que somos capazes de fazer…Caso: Mar do Aral

Do que o ser humano é capaz de fazer e o quanto que consegue escangalhar a natureza, sem se dar conta da dimensão dos prejuízos ambientais, econômicas e sociais ou, o que é pior, não se importar com as consequências, certamente o caso do Mar do Aral é o que melhor ilustra essa situação.

O Mar do Aral, que não é mar mas sim um grande lago, fica localizado no Cazaquistão (Ásia Central) e nos tempos de outrora, ocupava uma área de 68 mil km2 e 1.100km3 de volume de água.

Era também muito piscoso. Estimava-se que, por ano, pescava-se uma quantidade que representava 1/6 de todo pescado da (então) União Soviética, empregando cerca de 40 mil pessoas. Além do pescado, a região produzia cerca de 500 mil peles de ratos almiscarados por ano (na época era normal utilizar casacos de pele).

O lago era tão colossal que navios de médio e grande porte, a maioria relacionados à pesca, navegavam livremente.

O Mar do Aral é abastecido basicamente por dois rios: Syr Darya e Amu Darya, cujas águas, ricas em nutrientes, tornavam o lago tão piscoso.

Um dos projetos idealizados pela União Soviética, na década de 60, visava a independência na questão do algodão e para tal, iniciou-se um programa de irrigação cujas águas advinham de ambos os rios que, consequentemente, deixaram de abastecer o Mar de Aral.

Paulatinamente esse foi secando, até chegar em 10% do volume original (depois de meros 40 anos!) e com esse menor volume verificou-se uma elevação nas concentrações de pesticidas na água. Devido a esses dois fatos (pesticidas e falta de água) o sistema de pesca entrou em colapso.

Situação original e atual do Mar do Aral

Os níveis da água desceram tanto que os navios encalharam e hoje estão no meio das dunas de areia. Uma visão fantasmagórica: um cemitério de navios, no meio do deserto.

Na tentativa de reverter a dramática situação, em 1990 iniciou-se um projeto de recuperação do Mar do Aral e a sua pesca. O Banco Mundial entrou em cena com um projeto de US$ 87 milhões.

Os primeiros resultados se mostraram interessantes. Já em 2006, a produção de peixes totalizou 1.360 toneladas e em 2016 a Unidade de Inspeção de Peixes de Aralsk registrou 7.106 toneladas de peixes. Os resultados ainda são pífios, quando se compara com a piscosidade antes do projeto de irrigação. Por outro lado, o algodão ainda ocupa uma boa fatia na balança econômica.

Como esse desastre poderia ter sido evitado? Basicamente faltou fazer uma avaliação do custo-benefício e um bom Plano de Gestão.

Uma avaliação do que representava economicamente e socialmente a pesca, comparando com a produção de algodão, teria sido primordial.

Obviamente, essa análise deve considerar os benefícios (ou não) sob a ótica de décadas e não de uma forma contígua! Certamente, o fiel da balança tenderia para a pesca ou talvez ficasse em equilíbrio (pesca e algodão).

Conciliar o desenvolvimento e preservação é o grande desafio dos Gestores em qualquer projeto e em qualquer situação. Em outras palavras: internalizar a sustentabilidade.

Para evitar novos colapsos, devem ser respondidas algumas perguntas:

  • Como conciliar, de fato, os múltiplos interesses?
  • Esses interesses realmente são viáveis sob o ponto de vista econômico e social?
  • Todos os fatores estão realmente entendidos, na sua versão holística e vão ser considerados?
  • Quais as medidas que devem ser implantadas antes de qualquer interferência?

E a verba para essas pesquisas?

Como podem ver, verbas não faltam. Seguramente é possível se desenvolver muitas pesquisas, obter dados relevantes com menos de US$ 87 milhões, hoje disponibilizados para a recuperação…

Precisamos refletir e dedicar toda a atenção à essas questões e desenvolver amplas e aplicáveis pesquisas que mostrem caminhos. Somado a isso, numa forma sine qua non, implantar uma política real de sustentabilidade, antes de qualquer interferência, uma vez que a maioria dos casos são definitivos e muitas vezes fatais.

Temos que entender que, embora nos julguemos “sapiens”, ainda não podemos fazer uso desse predicado, no entanto, há, sim, esperanças, mas a situação exige uma improtelável ação.

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink
Para sugestões ou criticas. Email: geraldo@hc2solucoes.com.br Maio de 2022

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