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sábado, 20 de abril de 2024

O que somos capazes de fazer… Caso: mortandade de peixes

Quando a questão é meio ambiente, seguramente uma das cenas mais desoladoras é uma mortandade de peixes. Vê-los agoniando, à procura de ar ou mesmo aquela massa de peixes flutuando sob a água é revoltante.

Ao longo dos anos, pesquisei muitos casos de mortandades para descobrir as causas, entender os efeitos, identificar os causadores e orientar nas medidas corretivas. Algumas mortandades são de pequeno porte, outras são de uma envergadura imensurável, mas independentemente da dimensão, não deixam de ser uma afronta à sanidade humana.

Morrer peixes é o sinal mais claro de aniquilamento (colapso) do ecossistema aquático, mas o mais indignante é o fato que esses peixes poderiam ter sido consumidos como alimento e isso é constrangedor, pois existem mais 41 milhões de pessoas no mundo que estão “à beira da fome” (Índice Global da Fome – IGF 2021).

Afinal, porque morrem peixes?

Existem basicamente dois tipos de mortandades:

1º Quando a mortandade é resultante de causas naturais; e

2º    Quando    são    causadas    pelas    atividades   antrópicas    (ação    humana), que, lamentavelmente é a maioria dos casos.

Variações bruscas de temperatura na água, devido à fortes ventos, podem matar peixes ou quando os peixes (e outros organismos) entram em contato com algas tóxicas como é o caso de uma maré vermelha, que é resultante de uma proliferação (multiplicação) de micro-algas dinoflageladas que liberam toxinas.

Em 1962, na África do Sul, por exemplo, uma floração de dinoflagelados provocou a morte de mais de 100 toneladas de peixes e em 2007, no Brasil-Baía de Todos os Santos-Bahia, a maré vermelha provocou a morte de cerca de 50 toneladas de mariscos e peixes, sendo uma ameaça às atividades econômicas da população local. Lembrado que essas toxinas também podem ser fatais aos seres humanos.

Nesses casos, cabe ao técnico (geralmente biólogo), recolher o material, enterrar ou incinerar e orientar a população. É comum, em casos de mortandades de peixes (independente da causa), que a população carente de proteínas, colete o material e os comam… o que é totalmente desaconselhável.

Mas a verdadeira indignação é quando uma mortandade de peixes (e outros organismos) é resultante das atividades antrópicas e exemplos não faltam…

Para começar podemos lembrar o que ocorreu no rio Pardo, em 2003 (vinhaça no rio) cujo efeito se estendeu até rio Grande, matando toneladas de peixes de várias espécies e estágios de maturidade (alguns estavam prestes a desovarem). Igualmente vale recordar a mortandade ocorrida no Rio dos Sinos-RS (2007), quando uma indústria lançou produtos químicos sem tratamento no rio, causando a morte de 85 toneladas de peixes!

Lamentavelmente continuamos registrando mortandades até os dias de hoje…

A causa mais frequente dessas mortandades é devido à depleção das concentrações de oxigênio na água resultante do lançamento in natura (sem tratamento) de esgoto ou de produtos orgânicos como vinhaça. Esses são poluentes orgânicos e biodegradáveis cuja decomposição é realizada pela ação das bactérias aeróbicas (precisam de oxigênio) e isso causa uma queda – depleção e consequentemente os peixes (e muitos outros organismos aquáticos), morrem ou seja: falta de oxigênio na água mata!

Lançamento de produtos químicos na água; efluentes industriais não tratados; uso de agrotóxicos ou até mesmo as cinzas advindas das queimadas das florestas, ao caírem na água, também podem matar peixes!

Como veem, exemplos não faltam e obviamente existem muitas outras causas que poderiam ser citadas.

A morte é um “bio indicador” bastante importante pois retrata o efeito direto nos organismos, resultante de uma ação aguda.

Mas, nem todas mortandades são visíveis e aparatosas. Algumas são resultantes de uma ação crônica, ou seja, lança-se produtos químicos na água numa concentração baixa que não chega a causar morte, mas sim, influencia diretamente no desenvolvimento dos ovos, ou, outras palavras: não há produção de novos alevinos (pequenos peixes).

É uma morte lenta e crônica que afligia os ecossistemas aquáticos (e alguns humanos)!

Uma mortandade sutil, mas igualmente vasca é causada pela alteração dos ecossistemas aquáticos, seja devido à construção de barragens, inviabilizando piracemas e provocando o desaparecimento de lagoas marginais, que impedem/interferem na reprodução dos peixes e no desenvolvimento dos alevinos.

Como podem ver, o assunto é vasto e complexo. Então o que deve ser feito?

Desenvolver metodologias de valoração do dano ambiental, na sua concepção holística e acabar com a impunidade, de uma forma contundente, seria um bom começo.

Exigir sistemas de tratamentos de efluentes eficientes; implantar escadas para peixes (viabilizando a piracema); fazer a manutenção e a recuperação de lagoas marginais e, principalmente, implantar um Plano de Gestão dos Recursos Hídricos, apoiados em legislações eficazes e que sejam aplicadas! Somando a tudo isso: educação ambiental.

Não ter mais ocorrências de mortandades, pode significar que finalmente entendemos a importância da vida e viabilizamos a conciliação entre desenvolvimento e preservação, na sua forma holística ou, o que seria um lamento, não há mais peixes para morrerem….

Temos que entender que, apesar de nos julgarmos “sapiens”, estamos longe de honrarmos esse título. Mas estou convencido que, uma vez internalizado esse status, na sua essência, significará que haverá esperanças de um mundo melhor.

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink
Sugestão ou critica: Email: geraldo@hc2solucoes.com.br Maio de 2022

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