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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Dizer o que quer ser dito, o que precisa ser dito: em última instância dói. MAS É INÚTIL, ¨¨¨¨¨¨

Eis a cópia de uma cópia que sinto orgulho de me-ser-me. A palavra já dita-falada em tons inaudíveis que verbera em mim – dentro de mim

o silêncio sou eu … ouça-me

PRECISO SER-ME EM VOCÊ

O ponto de partida à procura do sim, do mínimo desvelado. Sossegue meu amor, minha dor é demais para ser vista. Queima como inferno.

Tudo bem? Posso ajudar? (minha cara me denunciava). Estou bem, graças a Deus.

Estava perdida. Não sabia explicar que eu era assim. Perdia-me com a simples esperança de encontrar algo diferente do conhecido. A mudança de um bairro para outro já se tornava muito enigmática para absorver de uma só vez, então perco-me. Apenas me restava o óbvio: agradecer aquela bondosa alma e seguir [ao desconhecido].

Não sei como, mas encontrei a bendita rua. Instinto? Provavelmente era porque nem sequer havia saído do bairro. Eu só não entendia o quarteirão. Ainda me-é incompreensível existir um mundo exageradamente outro atrás de minha casa.

Palpitava o âmago do encontro [do encontro estático e, portanto, confortável do lar, onde se pode ir e vir]. Cheguei e ¨¨¨¨ Emudeci diante da rotina daquela casa (havia esquecido de como era chegar). Eles não entenderiam meu encontro. E agora de nada valia àquela altura. Era inútil como eu queria ser para eles.

às vezes riu da fortaleza de que me veem; eu nunca há vi; imitar sim, isso sei, penso que me daria uma ótima atriz em outros tempos

não é nessa ordem: juíza, mãe de dois, casada há mais de 25. Isso não é o que sou, ao menos desejo violentamente não ser. Uma vida assim não pode ser boa para ninguém. Eu a odiava. e morria a cada manhã por isso. Odiava meus filhos e meu marido porque não sabia os amar. Mas fingia tê-los como fruto de algo-maior-deus. às vezes não conseguia, uma das máscaras tão coladas ao rosto se desprendia por algum motivo. Meu alívio era que colocavam culpa na histeria de passagem, da qual desconheço cor e conceito. Não queriam ver. Mas o que fazer quando se ver?

Eu os compreendia: desde que soube que os odiava não sei o que fazer (?)

Sumir é sempre uma opção. Mas sumir para retornar ao mesmo não é fugir, é ignorar a si mesmo. Para fugir é preciso deixar de se-ser (*) E como ninguém se-é algo-um: voltamos à primeira molécula cansada de se-ser mais uma molécula.

E como toda tragédia não deixa de ser cômica: todo isso foi construído com meu suor. E de certa maneira eu a quis assim. Eu quis casar, apesar de meu pai brandar que mulher não deveria ser alguém-objeto de homem algum (ainda tenho dúvidas se ele só queria que eu fosse sempre a virgem imaculada dele). Eu quis ter um filho, apesar de o meu marido dizer que não levava jeito com a paternidade. E quando tive um e ele amou a experiência. Tive outro com inveja do bom pai que ele era (eu queria consertar a não- mãe-nata que sou).

Eu casei porque acreditava fielmente que ele me amava. E sim, ele me ama. Só que nunca soube se o amava. Era mais para me satisfazer e, por isso, pensei que fosse o amor (no fundo. estou dizendo. lá no fundo, eu sempre soube a resposta). Ou era isso ou não sei. Como ele me tolerava e entendia minhas manias, pensei que fosse meu amor fluindo nele, a energia cósmica de vênus. E até hoje persevero na ideia de que se eu amar outro, o divórcio é certeiro (quem será o obtuso a preferir uma velha a uma jovem).

Não tem como: eu o amo sim. E é por isso que casei. (é o medo do só?)

Meu amor só é diferente do comercial de margarina. E meu marido sabe disso. E eu finjo não saber.

Não, eu o amo. AMO?

Não sei se deveria ter dúvidas depois de tanto tempo. É que o passado me parece tão distante, apesar de acreditar fielmente tê-lo vivido ontem. Parece que o tempo suaviza o que se passou e então já não sei como era muito bem antes. E sigo assim, sem muito bem saber pisar .bem-vinda a vida meu amor).

Eu gostava como ele me tornava mulher-homem e homem-mulher. O jeito que me penetrava. Da brutalidade da minha pegada. A meretriz que me tornava. Da puta que sou e que ninguém ousaria me apontar (há como queria!).

O mais estranho de tudo é que em todos esses anos vivemos sem brigas e contratempos, assim .. ru-pti- vos. Um conhece o outro e sabe quando precisamos e estamos com nossos amantes. É um conformo. Uma trégua numa zona que sequer percebe que está a guerrear.

Ele me completa. Eu o amo sim (e amo meus filhos). É só que só sei amar ardendo. Tenho sempre está à volta e em meio ao caos para viver. ISSO ME MATA E ME DÁ VIDA.

Negando ou não, mas é assim que gosto de sentir. Viver para mim e sempre flertar com a morte.

É MÓRBIDO MAS SOU EU. SOU a MORBIDEZ

decidir ser infeliz, a única diferença dos outros infelizes é que reconheço e me agarro ao meu eu sem a burla da felicidade. Sou eu por inteiro, mesmo sendo uma eterna

estrangeira a mim mesma. Um pouco de tudo e de nada. Poucos podem dizer isso com tanto orgulho como eu.

Queria ser metafórica e fazer uma ode a tudo isso, tecendo a língua até sangrar, endeusar. Porém te ofereço nada menos que a fria angústia da palavra. O vazio que é dizer: eu quero morrer. Sinta meu vazio. não desejo nada menos que isso. dizer o que precisa ser dito. sem enfeitar. a vida já nos faz isso sem esforço . resta-nos ao nosso eu secular. a frugalidade do ser. apenas sinta o vazio. o nada. e me verá ao seu lado. com olhar eu-você. o olhar único do eu-você. isso é o que importa.

Autora:

Celma Mª de Castro

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