Este artigo é um estudo sobre o medo que permeou a instituição do mercado de trabalho livre no Brasil, em substituição ao escravo, no século XIX, que gerou ideologias ou racismos que distorceram as verdadeiras razões que levaram a uma discriminação da parcela de marginalizados oriunda da escravatura brasileira. Baseado na obra de Azevedo, critica uma visão que procura retirar dos negros e pardos pós-abolição sua autodeterminação, sua capacidade de ser partícipe de sua própria história. Começa com uma história de morte de uma criança branca tratada com remédio caseiro por uma negra, em cuja casa teriam sido encontrados restos da menina, o que explicaria que a negra fabricaria pastéis com carne humana. A história, publicada em jornal logo após a abolição da escravidão no Brasil, mostra o imaginário associado aos negros no país, ao lado de outras manifestações que tendiam a higienizar o espaço urbano, combater as práticas culturais afro-brasileiras e estereotipar os negros vistos como mal-nascidos e mal-pensantes. Na virada para o século XX, o negro é posto fora de cena em prol do imigrante livre europeu, que seria mais propício a um progressivo desenvolvimento industrial, urbano e da classe operária em formação, especialmente em São Paulo. Já despossuído, pois índios e negros não possuíam grandes quantias em dinheiro e, por isso, eram vítimas da Lei de Terras, que “(…) extinguia a apropriação de terras com base na ocupação e dava ao Estado o direito de distribuí-las somente mediante a compra.” (Ribeiro, 2019, p. 10), havia também o agravante de que “(…) os interesses das classes sociais subjugadas são desconsiderados e se perdem no processo social de formação da sociedade brasileira” (Filho, 2011, p. 150). Azevedo critica a visão de que o negro seria apático, e que só o imigrante europeu seria afeito a uma atividade disciplinada, racionalizada e regulada, adequadas às necessidades capitalistas.
Autor:
Hudieny Dias de Souza