17.6 C
São Paulo
domingo, 16 de junho de 2024

Ou se tem uma holding, ou se tem um inventário!

Cecília Meireles, em uma de suas obras[1], escreveu para as crianças o seguinte poema, intitulado “ou isto, ou aquilo”:

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

            Cecília trabalha com as crianças, no texto, a importância das escolhas em nossas vidas e demonstra como a indecisão é uma âncora que impede o avanço.

            Brilhante poema que se estende por todas as fases de nossas vidas e que é capaz de nos auxiliar em nossas escolhas.

            Uma das perguntas que mais recebo em minhas redes sociais é: por que a Holding Familiar é capaz de evitar o inventário e harmonizar a família quando eu não estiver mais nesse plano?

            Geralmente eu respondo com esse poema de Cecília Meireles: primeiro você precisa decidir se quer uma Holding Familiar ou um Inventário, ou isto, ou aquilo, simples assim.

            Uma Holding Familiar não evita um inventário, porque evitar significa escapar, driblar, fugir de algo (que existe). Ela simplesmente impede por total e completo a existência do inventário. Portanto ou você tem um planejamento sucessório através de uma Holding ou sua sucessão se dará obrigatoriamente por um processo ou procedimento de inventário.

            Mas, a questão mais importante aqui é que se trata única e exclusivamente de uma escolha.

            No ano de 2021, quase 220.000 escrituras públicas de inventário foram lavradas no Brasil (isso sem contar o número de processos judiciais de inventário). Dá para se imaginar a quantidade de patrimônio familiar gasto para arcar com os altos custos de um processo de inventário.

            O que muitas pessoas negligenciam é que o inventário não surge como uma obrigação legal para todos, mas como fruto(consequência) de uma escolha tomada ainda em vida, por um(a) patriarca/matriarca.

            Inventário nada mais é que uma sucessão patrimonial, ou seja, o patrimônio de uma pessoa falecida (que optou em não construir um planejamento sucessório) é transmitido aos herdeiros pelo processo ou procedimento denominado inventários.

            Então o inventário é sempre fruto de uma escolha, que obviamente deve ser feita em vida.

            Escolha vem do latim VISIO, “ato de ver, objeto visto”, de VEDERE, “ver, enxergar”, do Indo-Europeu WEID– “saber, enxergar”.

            Então a nossa capacidade de escolha se torna mais eficaz quando alimentamos nossa base de conhecimento com dados profundos (e não rasos) sobre os pontos de escolha e, assim, aguçamos nossa razão.

            Façamos um exercício prático (Holding Familiar x Inventário):

HOLDING FAMILIARINVENTÁRIO
Baixo custo na sua criação em relação ao inventário;Alto custo de taxas, imposto, etc.;
Regras sucessórias criadas respeitando a individualidade de cada família;Regras sucessórias gerais definidas no Código Civil;
Criação de Um Protocolo Familiar objetivando a harmonia familiar;Não há essa possibilidade;
Criação de um Acordo de Sócios objetivando a proteção e perpetuação do legado;Não há essa possibilidade;
A Holding Familiar impedirá a existência do inventário (ele nunca existirá);O Inventário será instaurado somente onde não exista Holding Familiar

            Dizem que o mérito de poder escolher não se baseia em fazer a escolha certa, mas escolher o que você acredita estar certo.    

            Portanto, ou seus herdeiros terão uma Holding Familiar ou terão um inventário, porém essa escolha não é deles, é sua.        


[1] Ou Isto ou Aquilo é um livro de Cecília Meireles, publicado em 1964 pela editora do poeta português Sidônio Muralha, a Giroflê-Giroflá.

Autor:

Eduardo Campadeli, Advogado     

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio