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sexta-feira, 19 de abril de 2024

O que somos capazes de fazer…Ilha de Páscoa x Ilha Tikopia

Continuando com a sina de conhecer diferentes lugares no mundo que foram alterados graças às mãos humanas, pela sua falta de percepção das consequências ambientais e/ou sociais, uma visita às ilhas de Páscoa e Tikopia são programas obrigatórios. Cabe aqui deixar registrado que essa e as outras reflexões são resultantes do que observei in situ.

Vale a pena conhecer Ilha de Páscoa, não apenas pelas suas 887 estátuas (Moais) que pesam toneladas, mas principalmente pelo significado no que o mundo pode se transformar se não tivermos atitudes reais de sustentabilidade.

Por volta dos anos 600 D.C. o rei Hotu Matu´a, com mais de 100 pessoas, provenientes de ilhas polinésias navegaram, sem destino e por pura casualidade conseguiram chegar na Ilha de Páscoa: a ilha mais isolada do mundo, mas com uma vegetação exuberante.

Páscoa fica localizada, no Oceano Pacífico, exatamente a 3.700 km a oeste da costa do Chile e a Sudeste de Pitcain (distância de 2.000 km). A ilha, é composta de três vulcões extintos e tem apenas 116km2 (é um triangulo de +-16 x 15 x 14km), dá para percorrê-la a pé. É chamada de Umbigo do Mundo – Rapa Nui na linguagem dos pascoenses.

Como a ilha era remota, os pascoenses não conseguiram mais sair de lá. Passaram-se

1.000 (mil!) anos de isolamento e nesse tempo, aos poucos, eles foram consumindo todos os recursos naturais. Numa pesquisa recente demonstrou que a incapacidade de replantar qualquer muda de árvore, se deveu basicamente ao fato dos ratos comerem todas as sementes e brotos, o que provocou uma fome avassaladora. Em 1722, o explorador holandês, Jakob Roggeveen, por acaso e bem no dia de Páscoa (daí o seu nome) encontrou a ilha e a população bastante degradada.

Para comparação, falemos da Ilha Tikopia.

Tikopia é uma ilha localizada também no Oceano Pacífico. Os primeiros europeus chegaram em 1606 (expedição espanhola de Pedro Fernandes de Queiró). A ilha cobre uma área de apenas 5 Km2 e também é remanescente de um vulcão extinto. Seu ponto mais alto, o Monte Reani, atinge 380 metros acima do nível do mar e tem um lago (Te Roto) com 80 metros de profundidade.

A localização de Tikopia é relativamente remota e, como ocorreu na Iha de Páscoa, o isolamento impediu os nativos de fazerem trocas culturais com outros povos, por um longo período de tempo.

Historicamente, a pequena ilha abriga cerca de 1.000 pessoas e o controle sobre a reprodução humana foram e ainda são rígidos, o que impediu um aumento populacional acima da capacidade de suporte da ilha.

Os tikopianos praticam um sistema intensivo de agricultura (permacultura). Suas práticas agrícolas estão forte e conscientemente ligadas à densidade populacional. Por exemplo, por volta de 1600, o povo concordou em matar todos os porcos da ilha e substituir pela pesca, já que os porcos comiam a mesma comida das pessoas.

O antropólogo neozelandês Raymond Firth, viveu em Tikopia entre 1928-29, detalhou sua vida social. Ele registrou as maneiras pelas quais o controle populacional foi alcançado, incluindo celibato, expulsão da ilha, infanticídio e viagens por mar, métodos que pemitiram a sobrevivência da população, nessa pequena e remota ilha.

Vale a pena, além do livro escrito por Raymond (“Nós os Tikopia”) ler o escrito por Jared Diamond intitulado “Colapso” para entender o próximo parágrafo.

Por mim, ou entendemos a filosofia de sobrevivência da Ilha Tikopia, em especial na pratica da permacutura e controle populacional, ou agimos como se estivéssemos na Ilha de Páscoa, esgotando todos os recursos naturais do Planeta Terra e daí sim, entraremos num colapso total, sobrando, talvez, apenas os ratos e baratas.

Essa deveria ser a aprendizagem e a lição da sobrevivência dos seres humanos no Planeta Terra Esse é o verdadeiro desafio que tempos pela frente!

Urge, internalizarmos esse conhecimento, ainda mais agora que estamos correndo contra o tempo e ainda contando com mais um coadjuvante: o Aquecimento Global.

Conhecendo a letargia dos seres humanos, temo que será difícil agirmos de uma forma revolucionária no sentido da importância de novas ações para garantir a nossa própria sobrevivência, pois, embora nos julguemos “sapiens”, estamos longe de honrarmos esse título!

Autor:

Biólogo Geraldo G.J.Eysin
Email geraldo@hc2solucoes.com.br Abril 2022

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