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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O que somos capazes de fazer…Caso: ITAI-ITAI

Itai-itai em japonês quer dizer “dói-dói” ou: “estou com dor, estou com dor”.

Itai-itai é também uma doença se manifestou pela primeira vez (que eu saiba) em 1912, com ênfase nas mulheres (que foram as mais afetadas por questões hormonais) e que é provocada pelo envenenamento por cádmio.

Uma das características do cádmio é a sua capacidade de se acumular nos ossos substituindo o cálcio e causando malformação, deixando os ossos frágeis, osteoporóticos, com tendências às fraturas, além das fortes dores na coluna e nas articulações, afeta os rins, olfato e algumas células sanguíneas, podendo causar a morte.

No caso Itai-Itai, como as pessoas se contaminaram?

Simplesmente (embora trágico) a mineradora Kamioka, localizada na província de Toyama, rio Jinzu acima (à montante), lançava os resíduos no rio.

Na verdade, a mineradora explorava zinco e o cádmio era apenas um resíduo que, até 1948, era descartado no rio por não ter valor industrial. No entanto, a água do rio era utilizada (rio abaixo, ou seja, à jusante), na irrigação dos arrozais que absorviam o metal. Como os japoneses comem muito arroz, a contaminação conseguiu atingi-los via o alimento. Graças aos estudos do Dr. Hagino descobriu-se que as manifestações observadas na população, estavam relacionadas com cádmio, mas isso em 1955, ou seja, 43 anos depois dos primeiros relatos do Itai-Itai.

Como eu tinha ido ao Japão para conhecer os diversos sistemas de recuperação de ambientes contaminados, em visita ao rio Jinzu, além de ir ao hospital, onde conheci e “conversei” com as pacientes, em campo já era possível constatar intervenções ambientais, tanto perto da mineradora, como no solo onde os arrozais eram plantados.

A ideia principal, era “neutralizar” a ação do contaminante. Lavoisier (1743-1794) já dizia que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” portanto uma

das estratégias utilizadas foi a de neutralizar o poder da reação química do metal, diminuindo ou anulando a sua capacidade de reagir com outras substâncias e assim não estar “disponível” e nem bioacumular/biomagnificar através da cadeia alimentar. Outro efeito foi a de neutralizar o efeito tóxico.

Somente em 2012, que se concluíram o projeto de limpeza. Oitocentos e sessenta e três hectares de solo superficial foram substituídos desde o início da limpeza em 1979, a um custo total de ¥ 40,7 bilhões. Os prejuízos com saúde e os danos agrícolas foram de ¥ 1,75 bilhões por ano.

Que lições a tirar?

Para mim, conhecendo o caso  in loco essa aprendizagem  foi um grande marco e, defendo até os dias de hoje, arduamente, que, antes de se intervir na natureza é da máxima importância que se tenha conhecimento holístico da dinâmica ambiental, fazer uma avaliação técnica e científica de todas as variáveis e efeitos de toda e qualquer intervenção que se faça, seja para explora-la (como as mineradoras), seja para outros

fins, como por exemplo se alimentar de animais silvestres, sem os devidos cuidados… Aliás, o COVID veio para reforçar essa tese!

O que me assusta, ao assistir os últimos noticiários é a cogitação (se é que já não se usa) de “armas biológicas”. Para mim, isso é sinal que ainda não aprendemos a lição!

Temos que entender que, embora nos julguemos “sapiens”, estamos longe de podermos nos honrar de utilizar esse título!

P.S. Aos fumantes: o cigarro também contém cádmio, portanto, fica aqui o recado!

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink

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