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sábado, 20 de abril de 2024

Quem pariu Mateus que o embale

Sou, totalmente, a favor do aborto nas doze primeiras semanas de gestação, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e com acompanhamento sociopsicológico. Não argumentarei o que todos já sabem, pois seria chover no molhado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), crente de que estava inovando, copiou o trabalho de escola das sociedades tribais. A criança é de responsabilidade dos pais ou tutores e, lato senso, da sociedade como um todo, incluindo o poder público. O parto, sim, é numa instância feminino, e noutra, andrógino.

Todos parimos quando um bebê vence a tensão do óstio do colo do útero e vê o mundo pela primeira vez. Estarei errado, claro, se a contra-argumentação for no sentido das liberdades individuais. Se não se tornar um problema social a criança malquista e maltratada, eu aceito estar errado, apesar de ser extremamente cruel tolerar, desde que não lhe afete, os abusos físicos e morais contra uma criança.

Viver em sociedade coloca cada indivíduo como sujeito da obrigação de solidariedade e apoio na luta contra as indignidades. “Quem pariu Mateus que o embale” pode ser interpretada de duas formas: (i) apoio sua desgraça e a da criança, pois nada tenho a ver com isso, afinal o problema é de vocês, eu só imponho minha moral como política pública, ou (ii) todos parimos Mateus no âmbito extrabiológico, portanto, a sociedade como um todo deve responder pela dignidade das crianças.

Podemos pensar mais e melhor sempre. Por que escolhemos replicar discursos, então? Preguiça de pensar é ato omissivo por excelência.

Autor:

Arthur Dartagnan Chaves dos Santos, Psicanalista. Acadêmico de medicina. @arthurdartagnanchaves

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