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sexta-feira, 19 de abril de 2024

QUEM LÊ A BOBAJADA DAS CIÊNCIAS HUMANAS?

Os engenheiros sabem da necessidade de aprender com maestria e instrumentalização as matemática, química e física. Não se constrói ponte ou monta carro sem saber do mais novo das ciências básicas. “Básicas” não por serem simples, mas, sim, por sustentarem como base, tudo que vem a seguir. Nenhum médico decente pode tentar clinicar sem saber biologia humana – a ciência médica é perfumaria diante da biológica.

O que sustenta, então, os artistas, educadores, políticos, economistas e os demais profissionais que lidam, essencialmente, com gente e problema de gente? As ciências humanas. Se parece aviltante um engenheiro assumir uma obra sem saber a primeira lei de Newton ou equação do primeiro grau, por que não lhe espanta um político não saber, com domínio satisfatório, discutir Kant, Hegel e Lélia Gonzalez? É ofensa de mesmo grau, infração de igual pena.

Os artistas, “esses daí”, ainda são os que se mantém embasados na bobajada das humanidades. Leem a filosofia e procuram novos epistemos. São eles os esvaziados de credibilidade por uma população que não entende nada de ciência nem de humanidades. Essa população é a mesma afetada pela formação hiperdeficitária de tomadores de decisão e humanistas.

Lembro-me do livro, de organização do Schwarz, “[n]ós que amávamos tanto o capital”, da saudade impressa em cada página. Nós ousávamos discutir filosofia política em sala de aula, na rua, nos partidos. A questão, de fato, era o que fazer com a economia a partir da demanda dos pobres. Tornamo-nos cínicos com o tempo.

Professor e educador se distanciam; “a pedagogia é só teoria, vende pra quem não conhece a realidade da sala de aula”. A hora-aula mais cara é do professor de pré- vestibular, aquele que coloca o adolescente mais rápido e com maior nota nas engenharias, medicina ou direito. Novamente, o sistema e seus operadores são cínicos.

Além de obrigação, por que ler a bobajada das ciências humanas? Simples, pois é o que nos empodera enquanto detentores de um meio de produção, de uma fonte de capital, a detenção do conhecimento. Professor e artista sabem de muita coisa e dão, dosada e planejadamente, aos leigos. Isso custa. A organização dessas classes depende do

reconhecimento de seus próprios lugares e da pergunta quase proibida nos movimentos sociais, “como ganhar dinheiro com o que sei?”.

Autor:

Arthur Dartagnan Chaves dos Santos

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