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quarta-feira, 24 de abril de 2024

O sábio do oriente

Pois, quando Lao Tzu fez-se sábio e, depois de haver pregado aos homens de seu tempo as verdades do Tao e do Universo, ele se cansou de sua terra e dos homens de sua terra. Então, Lao Tzu, o velho sábio do oriente tomou um touro e montou-lhe, e pôs-se a marchar para Índia.

Aconteceu, porém, que, no caminho, havia um homem cuja casa ficava à beira da estrada. E quando o homem viu Lao Tzu, sabendo que se tratava de um sábio, disse-lhe:

– Pernoitai comigo essa noite, oh sábio de nossa terra.-

E Lao Tzu replicou:

– não tenho moedas com as quais pagar-te, mas dar-te-ei em paga algo mais valioso.-

E o homem aceitou. Lao Tzu entrou então, deixando o touro atado a uma árvore forte.

Naquela noite, o homem do caminho e o velho sábio do oriente jantaram juntos e, após o jantar, o homem foi dormir, pois trabalhava no campo e despertaria cedo no dia seguinte.

Lao Tzu, contudo, não dormiu naquela noite. Antes, tomou da caneta e da tinta e do papel e escreveu o que lhe veio à mente. Por toda a noite, grafou, corrigiu, refletiu…

Então, quando o sol se levantou, Lao Tzu desatou o touro da árvore forte do caminho e volveu a marchar rumo à terra de Brahma, Shiva, Kali e Parvati.

E Lao Tzu marchou, marchou e marchou. E ao fim daquele dia, fosse porque era velho e a memória lhe escasseava ou porque o deleite dos novos ares lhe enchia os olhos, ele já não se lembrava do homem solitário da casa do caminho.

O homem, contudo, quando, naquela manhã singular, despertou para um novo arrebol, viu sobre a mesa antiga de madeira rústica o volume escrito pelas mãos do sábio Lao Tzu, não pode crer que, de fato, houvera despertado.

O homem se aproximou e leu o título humildemente escrito em três sílabas: Tao Te King. E, então, naquele momento, naquele singular instante no tempo, na pobre casa de um lavrador nascera algo maior do que ele, e maior do que o sábio Lao Tzu. O homem triste da casa do campo sorriu destarte.

No céu, uma luz se acendia.

Autoria:

Ariel Von Ocker é escritorx, psicanalista, poliglota e acadêmicx de Letras e História. Também já trabalhou no teatro como dramaturgx e ator. Com catorze anos escreveu seu primeiro romance e por anos seguiu escrevendo sem publicar, até que em 2021 se torna colunista no maior blog sobre psicanálise em língua portuguesa com o texto de estreia Representações Sobre o Feminino: Um Olhar Histórico. Atualmente se dedica à formação acadêmica e à divulgação da arte e do conhecimento através da iniciativa Projeto Simbiose, no qual atua no núcleo de direção em parceria com Michelle Diehl e Cristina Soares e da Revista Ikebana, onde atua como editorx chefe.
Também é autorx do livro Canções da Tarde, disponível para compra através do link: https://www.amazon.com.br/dp/B09NTYWQ6Z.

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